Segundo dados divulgados pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), a ICF (Intenção de Consumo das Famílias), teve sua primeira queda em dois anos. A pesquisa apontou recuo de 0,7% em dezembro, descontados os efeitos sazonais. Este é o primeiro resultado negativo desde o mesmo período de 2021 e reflete a desaceleração observada nos meses anteriores.

Mesmo com a queda, o índice permaneceu na zona de satisfação, com 105,2 pontos. Na variação anual, a intenção de consumo das famílias teve crescimento de 15,3%, redução em relação à taxa de novembro, de 17,9%. O desaquecimento é evidenciado pela desaceleração dos subindicadores analisados (emprego atual, renda atual, nível de consumo atual, perspectiva profissional, perspectiva de consumo, acesso ao crédito e momento para duráveis) e sinaliza maior cautela dos consumidores na reta final de 2023.

José Roberto Tadros, presidente da CNC, reforça que a expectativa é otimista para o Natal. “A previsão da Confederação é que o varejo movimente mais de R$ 69 bilhões neste mês, 5,6% a mais que no ano passado e o maior crescimento em quatro anos, o que é um resultado muito importante se levarmos em conta o cenário desafiador que a economia brasileira vive nos últimos anos”, afirma

Cautela em relação a emprego e renda

A renda exata gerada pelo 13º salário e pelas contratações temporárias no período de festa impulsionou, ainda que modestamente, a percepção dos consumidores sobre a própria renda, com crescimento mensal de 0,1%, o menor desde dezembro de 2021 (quando o indicador ficou em -0,1%). No que diz respeito às perspectivas de futuro profissional, houve recuo de 1,3% no índice, apesar do aumento de 3,4% no saldo líquido de novos postos de trabalho nos 12 meses até outubro.

O destaque negativo de dezembro recai novamente sobre a perspectiva de consumo, que registrou a segunda queda mensal consecutiva, de 1,9%. Apesar dessa percepção mais pessimista, o subindicador alcançou 109,8 pontos, ainda na área de satisfação. “Isso sugere uma visão otimista do ambiente econômico nos próximos meses”, avalia Felipe Tavares, economista-chefe da CNC.

Melhor momento de compra de duráveis desde a pandemia

Mesmo apresentando redução de 0,4% no comparativo com novembro, o subindicador de momento de compra de duráveis cresceu 44,7% em relação a dezembro do ano passado, atingindo 71,7 pontos, ainda na zona de insatisfação. Ainda assim, esse é o maior resultado desde a pandemia.

O levantamento mostra que a maior parte (60,6%) dos consumidores ainda acredita ser um mau momento para compra desses bens. No entanto, a parcela que acredita ser um bom momento (32,3%) vem aumentando desde maio desse ano e alcançou o maior percentual desde março de 2020 em dezembro. Na segmentação por faixa de renda, as famílias com rendimentos acima de 10 salários mínimos reduziram em 1,9% sua percepção sobre o momento de compra de duráveis.

De acordo com Tavares, esses consumidores são menos vulneráveis às variações de juros e renda, visto que estão em posições mais estáveis do mercado de trabalho. “O consumo de bens com ticket médio maior, como os duráveis, depende diretamente da renda dos consumidores e do crédito disponível, que geram uma sensação de aumento do poder de compra”, finaliza.

(*) Crédito da foto: Friki Rasyid/Unsplash