De acordo com dados divulgados hoje (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu 0,12% em julho. A alta da inflação coloca mais pressão no BC (Banco Central) para acelerar o ciclo de corte da taxa Selic.

O levantamento do Instituto aponta que o resultado de julho fica 0,20% acima da taxa de -0,08% registrada no mês anterior. No ano, o IPCA acumula alta de 2,99% e nos últimos 12 meses, de 3,99%, superando os 3,16% observados nos meses imediatamente anteriores. Em julho do ano passado, a variação havia sido de -0,68%. Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, cinco tiveram alta no mês. O grupo Transportes apresentou o maior impacto (0,31%) e a maior variação (1,50%).

No lado das quedas, destacam-se os grupos Habitação (-1,01% e variação de 0,16%) e Alimentação e Bebidas (0,46% e 0,10%). Os resultados dos demais grupos foram -0,24% de Vestuário, 0,00% de Comunicação, 0,04% de Artigos de Residência, 0,13% de Educação, 0,26% de Saúde e cuidados pessoais, e 0,38% de Despesas Pessoais.

Principais influências

A gasolina, subitem de maior peso individual na inflação (4,79%), foi o produto que mais impactou no resultado de julho, com variação de 4,75% e contribuição de 0,23%. Em junho, ela havia apresentado queda de 1,14%. “No mês passado, houve reduções aplicadas nas refinarias. A alta de julho capta a reoneração de impostos, com a volta da cobrança da alíquota cheia de Pis/Cofins”, explica André Almeida, gerente da pesquisa.

Em relação aos demais combustíveis (4,15%), foram registradas altas no gás veicular (3,84%) e no etanol (1,57%), enquanto o óleo diesel caiu 1,37%. As altas da passagem aérea (4,97%) e do automóvel novo (1,65%) também contribuíram para o resultado do grupo.

Pelo lado das quedas, no grupo Habitação (-1,01%), a energia elétrica residencial (-3,89%) apresentou o impacto negativo mais intenso do mês (-0,16%). “O resultado foi por conta da incorporação do bônus de Itaipu, creditado integralmente nas faturas emitidas no mês de julho”, acrescenta Almeida.

Já o recuo em Alimentação e Bebidas (-0,46%) foi influenciado principalmente pela queda nos preços da alimentação em domicílio (-0,72%), que já havia apresentado resultado negativo em junho (-1,07%). Já a alimentação fora do domicílio (0,21%) desacelerou em relação ao mês anterior (0,46%).

No acumulado de janeiro a julho, (2,99%), o subitem de maior impacto foi a gasolina, com variação de 11,64% e contribuição de 0,54%. Regionalmente, 13 das 16 áreas pesquisadas apresentaram alta em julho. A maior variação da inflação foi em Porto Alegre (0,53%), em função da alta do preço da gasolina (6,98%). Já a menor variação foi em Belo Horizonte (-0,16%), influenciada pelas quedas de 17,50% em ônibus urbano e 4,30% na energia elétrica residencial.

Inflação x Selic

Apesar de a inflação ter vindo acima das projeções do mercado (após uma deflação em junho), os economistas destacaram a composição benigna do indicador, em especial o comportamento da variação de serviços do mês. Como esse é o componente mais importante para o Banco Central em suas decisões de política monetária, a aposta agora é de uma pressão maior pela aceleração do ciclo de cortes da taxa básica de juros, antecipadamente anunciada para um ritmo de 50 pontos-base, aponta o InfoMoney.

Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, considera que a tendência de desinflação nos serviços subjacentes está evidenciada, apesar de a dinâmica desses preços não seja necessariamente linear. “Saíram de 0,55% no fechamento de junho, cederam 0,29% no IPCA-15 de julho e agora para 0,25%, ou seja, menos da metade da aceleração do mês anterior. É um resultado extremamente importante e benigno”, comenta.

A economista pontua que a Armor ainda trabalha com um cenário de mais dois cortes de 50 pontos-base nas duas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), com o ritmo subindo para 0,75% no encontro em dezembro, mas admite que deve começar a entrar no radar do mercado uma antecipação, devido aos serviços subjacentes permanecerem no patamar de 0,25%, que significa inflação na meta.

“Aumenta de forma muito significativa as chances de núcleos de inflação perto dos 3% muito em breve, no último trimestre do ano. E tendo a média trimestral dessazonalizada e anualizada dos núcleos de inflação rodando ao redor de 3%, é um ‘trigger’ importante para a aceleração de passo (pelo BC). Está ganhando força ter uma antecipação desse debate dos 75 bps para a reunião de novembro”, estima.

A XP projeta que o Copom reduza a Selic para 11,75% até o final do ano. Atualmente, o indicador está em 13,25%. Em relação ao IPCA, a estimativa é de 4,6% em 2023 e 3,9% em 2024. Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, também prevê que a composição benigna do IPCA de julho deve alimentar os argumentos para a aceleração de cortes pelo BC. O cenário-base da empresa é um ritmo de cortes de 0,50%, mas a projeção está sob processo de revisão.

Por fim, Leonardo Costa, economista da ASA Investments, aponta para um caminho de aceleração do ciclo de corte da Selic no quarto trimestre. “Contudo, é importante ressaltar a volatilidade dos núcleos nas últimas leituras, o que indica que o BC deve juntar mais informações até sacramentar a dinâmica benigna dos serviços”, finaliza.

(*) Crédito da foto: eduardosoares/Pixabay