De acordo com levantamento realizado pela CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas) em parceria com o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), a inadimplência bateu recorde em abril, atingindo 66 milhões de brasileiros. Esse nível de endividamento, em algum momento, pode atingir a indústria de viagens, reduzindo a demanda e comprometendo a recuperação.

No período, em cada dez adultos, quatro deles não honraram os compromissos e atrasaram suas contas. O estudo também mostrou que o número de consumidores inadimplentes subiu cerca de 8% no último mês, em comparação ao mesmo período do ano passado. Hoje, cada inadimplente deve em média R$ 4 mil em dívidas somadas para duas empresas.

Merula Borges, especialista em finanças da CNDL, diz que o cenário econômico, principalmente durante a pandemia de Covid-19, afetou o bolso das famílias e prejudicou, em especial, aquelas com rendas mais baixas. “Nos últimos tempos, até tivemos uma inflação mais controlada, mas passamos por um bom período no ano passado coma inflação de alimentos, por exemplo, na casa dos dois dígitos”, explica, em entrevista à Jovem Pan.

“Outro ponto é a taxa de juros, que ficou mais alta e, por isso, há uma tendência de maior dificuldade de acesso ao crédito. Quando falamos no cenário mais possível para os próximos meses, ainda esperamos uma taxa de juros mais alta com diminuição no segundo semestre, mas ainda assim a perspectiva de que a inadimplência continue alta permanece”, completa.

Impacto no turismo e hotelaria

Considerando esse cenário de maior inadimplência e endividamento das famílias, há uma possibilidade de que o volume de viagens, principalmente no segmento de lazer, caia consideravelmente, influenciando diretamente nos indicadores de hotéis. A demanda corporativa, por sua vez, ainda está se recuperando das restrições impostas pela pandemia e deve sofrer menos.

No entanto, o setor segue aquecido. De acordo com a última edição do InFOHB, a diária média e RevPar dos hotéis brasileiros seguiram tendência de alta em fevereiro. Nas tarifas, houve incremento de 40,5% no recorte nacional. Já no RevPar, a alta foi de 50,1%, enquanto a ocupação avançou 6,8%.

No primeiro trimestre deste ano, o turismo nacional faturou R$ 8,2 bilhões, segundo dados do Conselho de Turismo da FecomercioSP. O resultado representa alta de 25,4% em relação aos três primeiros meses de 2022. O destaque dos resultados vai para março, período em que o setor foi beneficiado por eventos e grandes shows.

A entidade aponta, inclusive, que uma possível desaceleração na demanda é natural e não deve ser entendida como uma contenção no setor. Para que os avanços sejam mais expressivos, é necessária uma conjuntura econômica mais favorável.

(*) Crédito da foto: joelfotos/Pixabay