Olhe pelo retrovisor e pergunte a você mesmo se 2023 foi um ano bom. Convenhamos, é muito difícil afirmar o contrário, visto o bom desempenho da indústria de viagens globalmente foi positivo. Das agências corporativas à aviação mundial, passando obviamente pela hotelaria, como mostram os dados do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), os números são promissores. E, mesmo havendo otimismo para 2024, existem desafios para que os hotéis brasileiros continuem performando bem.

Agora, onde estão as oportunidades e desafios para o mercado hoteleiro em 2024? O que o hoteleiro precisa fazer para manter esse bom momento? Focar nas receitas ou nos custos? O que deve ser a prioridade do gestor hoteleiro? Para responder a todas essas questões, o Hotelier News conversou com Paulo Mélega, vice-presidente de Operações da Atrio Hotel Management e membro do Conselho de Administração do FOHB.

Antes das respostas de Mélega, vale lembrar os números finais de 2023. Segundo a 157ª edição do InFOHb, relatório mensal divulgado pelo FOHB, a hotelaria brasileira fechou o ano passado com ocupação de 60,5%, em linha com os níveis históricos e crescendo 4% frente ao ano anterior. Se o volume de demanda subiu um dígito, o mesmo não pode ser dito de outros dois indicadores vitais para a indústria. Enquanto a diária média avançou 22,5% (a R$ 345,23), o RevPar aumentou 27,3% (a R$ 208,92), na mesma base de comparação.

FOHB - desafios 2024 - paulo melega

Mélega: custos não podem ser negligenciados

A questão agora é entender o que esses números sinalizam para 2024. Primeiramente, é importante esquecer a comparação com 2019, que ainda era relevante no ano passado, especialmente no primeiro trimestre. Em segundo lugar, é evidente que o sarrafo está alto e alcançar margens de crescimento em dois dígitos será mais complexo.

“Será um ano mais desafiador, sem dúvida, com uma continuidade da recuperação da pandemia, pois ainda há uma conta a ser paga. É necessário focar mais do que nunca nos ganhos de margem.”

Ao fazer uma retrospectiva dos últimos anos, o executivo acredita que existe uma trajetória bem clara da hotelaria nacional em termos de desempenho. “Pode-se afirmar que 2020 foi marcado pela busca da sobrevivência. Em 2021, o setor ainda seguia nessa luta, enquanto no ano seguinte já deu para tirar a cabeça fora d’água. De certa forma, 2023 foi uma espécie de confirmação disso”, avalia.

“Então, olhando para 2024, acredito que será um ano para examinar cuidadosamente ambas as pontas do negócio (receita e custos) e planejar ajustes nos produtos, pois o parque hoteleiro está desgastado. Requalificar as propriedades será uma missão crucial e, na Atrio mesmo, temos um plano de renovações em andamento. Portanto, prefiro abordar a análise dos desafios e oportunidades em duas partes, visto que vejo aspectos positivos e negativos influenciando o macroambiente”, continua Mélega.

Oportunidades e desafios

No cenário econômico, Mélega destaca uma perspectiva mais favorável, ressaltando a inflação controlada, o que reduz a pressão sobre os custos, e a trajetória de queda da Selic, estimulando investimentos e potencialmente aquecendo a economia. “Há outros pontos relevantes, como o fato de ser um ano bissexto. Assim, mesmo com menos feriados prolongados, o que tira a força do lazer, isso favorece a movimentação dos mercados corpartivo e de eventos nas grandes metrópoles”, observa.

“Em paralelo, os dois últimos anos fizeram os hoteleiros entender que aumentar os preços gera resultado, e isso tem que continuar. Coragem, meus amigos”, brinca Mélega, que continua: “Ainda assim, com menos feriados e um calendário de grandes shows internacionais reduzido nas grandes capitais, haverá menos oportunidade para perídos de pico de diária, o que naturalmente deixa o direcional do setor mais para a ocupação. A demanda certamente estará lá”, acrescenta.

“Em paralelo, os dois últimos anos fizeram os hoteleiros entenderem que aumentar os preços gera resultado, e isso tem que continuar. Coragem, meus amigos”, brinca Mélega, que continua. “Ainda assim, com menos feriados, haverá menos oportunidade para perídos de pico de diária, o que naturalmente deixa o direcional do setor mais para a ocupação. A demanda certamente estará lá”, acrescenta.

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Por outro lado, há pontos de atenção. O alto custo das passagens aéreas, por exemplo, impacta algumas regiões, assim como o calendário reduzido de grandes shows internacionais limita as oportunidades de picos tarifários. O provável crescimento mais modesto do PIB também é uma consideração importante, aponta o vice-presidente da Atrio, que identifica outros desafios.

“A busca por atrair, reter e remunerar melhor a mão de obra continua sendo uma das principais dores do setor, especialmente em um mercado com maior ênfase na ocupação”, avalia Mélega. “A instabilidade política internacional, com conflitos em curso na Europa e no Oriente Médio, também é uma preocupação adicional nesse mundo globalizado”, acrescenta.

Agora, a principal dor de cabeça (e fonte de instabilidade) para o setor é a indefinição gerada pela possível revogação do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos). “É difícil quando as regras mudam no meio do jogo. Tenho certeza de que a maioria dos hotéis fez dois orçamentos, mas, mesmo assim, essa indefinição causa muitos transtornos. Muitos hoteleiros, por exemplo, planejaram renovações ou expansões de equipes contando com os ganhos de margem que o programa oferece”, afirma Mélega.

Ganho de margem

Independentemente da decisão de Brasília em relação ao Perse, Mélega enfatiza que todo hoteleiro possui uma missão crucial em 2024: é essencial continuar buscando o aumento das margens de lucro. Nesse contexto, o que priorizar? Receita ou custos? Em live realizada no perfil oficial do LinkedIn na segunda-feira (5), o executivo da Atrio abordou extensivamente esse tema (veja novamente aqui), mas não custa reiterar algumas reflexões neste texto.

“Se o Perse for realmente revogado, cada hoteleiro enfrentará o desafio de recuperar a margem que o programa proporcionava, algo em torno de 3 a 4 pontos percentuais no resultado final. Então, ao mesmo tempo em que é preciso aumentar a receita, é fundamental ser eficiente na gestão de custos”, ensina Mélega, que, sem eleger uma prioridade, pede atenção à segunda questão.

“No ano passado, quem trabalhou bem teve crescimento expressivo de receita. Nesse cenário, é comum relaxar um pouco nos custos, como aumentar a equipe sem extrema necessidade ou adotar uma postura mais flexível nas renegociações com fornecedores”, explica. “Portanto, minha recomendação é resgatar o espírito de 2020 e 2021, quando os custos eram o foco principal de atenção.”


“Em 2020 e 2021, o olhar estava voltado para o custo.
Já em 2022 e 2023, a atenção se direcionou para o topline.
Para 2024, é preciso continuar olhando a receita,
mas sem deixar de lado a eficiência na gestão de custos.”

Paulo Mélega, vice-presidente de Operações da Atrio Hotel Management e membro do Conselho de Administração do FOHB


Adicionalmente, o diretor do FOHB acredita que o setor tem a responsabilidade de inovar, mesmo diante desse ambiente mais desafiador. ‘É necessário buscar constantemente melhorias e abordagens diferentes, investir em tecnologia. Sim, isso exige investimento, colocar um dinheiro na frente, mas não tem almoço grátis. Se não houver intenção e iniciativa, nada muda mesmo”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Peter Kutuchian/Hotelier News

(**) Crérdito da imagem: Hotelier News

(***) Crédito da foto: Divulgação/Atrio Hotel Management