Que o ano de 2023 foi positivo para o setor hoteleiro, não há como negar. Com a pandemia no retrovisor, as viagens se consolidaram após um 2022 de explosão de demanda. É fato que os hotéis se apoiaram no volume, mas ainda há muito a ser feito. A crise sanitária ficou para trás, mas seus efeitos vão se perpetuar até que a hotelaria esteja livre de baques financeiros ainda sentidos. A nova edição do InFOHB, publicado mensalmente pelo FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), traz o balanço final do ano passado, que traduz esse bom desempenho, mas que ainda não permite ao segmento decolar de vez.

Como abordamos anteriormente, a continuidade do Perse (Programa Emergencial do Setor de Eventos) cumpre um papel fundamental na oxigenação completa do setor nos próximos meses. Os prejuízos gerados pela pandemia ainda não foram completamente sanados, visto que parte da hotelaria segue trabalhando para quitar dívidas de financiamentos, melhorar resultados financeiros, remunerar investidores e tornar os ativos mais competitivos.

“Só podemos falar de um cenário tranquilo daqui a 18 meses, mantidas as taxas atuais de crescimento em vendas e se as tarifas forem corrigidas”, avalia Orlando Souza, presidente do FOHB. “Isso, por sua vez, só será possível quando recuperarmos as diárias médias, pelo menos no mesmo patamar de 2012”, acrescenta.

Janeiro a dezembro

O FOHB analisou os números de 530 hotéis e redes associadas, que totalizam mais de 83 mil UHs. Em comparação com 2022, houve alta de 4% na taxa de ocupação, 22,5% na diária média e 27,3% no RevPar.

“Não estamos voando, estamos apenas decolando! Há, de fato, crescimento em reservas quando comparamos com os dois últimos anos. Da mesma maneira, foi possível recuperar os 300 mil postos de trabalho que desapareceram em 2020. No entanto, há menos hotéis em relação a 2019. Foram fechados, de forma definitiva, 700 empreendimentos. Estamos operando com uma suboferta na hotelaria”, pontua Souza.

Na análise regional, a taxa de ocupação apresentou desempenho negativo apenas na região Norte (-1,8%). As demais localidades apontam variações positivas entre 0,2% no Nordeste e 5,1% no Sudeste.

A diária média apresentou percentuais positivos em todas as regiões: 28,5% no Centro-Oeste; 18,1% no Nordeste; 22,6% no Norte; 23,4% no Sudeste e 17,2% no Sul. Já o RevPar encerrou 2023 com percentuais positivos, variando entre 18,3% no Nordeste e 34,9% no Centro-Oeste.

Na análise por categoria hoteleira, apenas acréscimos foram registrados na taxa de ocupação: 5,5% no Econômico; 2,6% no Midscale; e 2,5% no Upscale. Na diária média, houve incremento na categoria Econômico (19,5%); Midscale (25,4%) e Upscale (25,2%). No RevPar, os percentuais positivos foram de 26,1% no Econômico; 28,6% no Midscale; e 28,3% no Upscale.

Principais mercados

No acumulado entre janeiro e dezembro, dos 15 municípios analisados, seis apresentam queda de ocupação: Vitória (-2,6%), Recife (-0,4%), Fortaleza (-2,5%), Goiânia (-1,6%), Manaus (-3,4%) e Belém (-1,4%).

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No cenário tarifário, todos os municípios apresentam percentuais positivos em diária média, variando entre 8,1% em Fortaleza e 38,1% em Brasília. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, Campinas, Salvador, Recife, Goiânia, Porto Alegre, Manaus e Belém apresentam percentuais acima de 20%.

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Por fim, o RevPar revela apenas percentuais positivos, variando entre 5,4% em Fortaleza e 49% em Brasília. São Paulo, Belo Horizonte, Campinas, Salvador, Porto Alegre e Belém apresentam percentuais acima de 25%.

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“Todos os estudos macroeconômicos mostram que precisamos ter um crescimento sustentável na oferta de quartos nos próximos anos. Não há investimentos importantes na hotelaria há cinco anos. É fundamental olhar para todas as oportunidades que os modelos hoteleiros de negócios podem oferecer para investidores. Os condo-hotéis, por exemplo, vistos hoje como patinhos feios no mercado de investimentos, por conta da defasagem das diárias médias, já foram grandes alavancadores do desenvolvimento de nossa indústria no Brasil”, salienta Souza.

Sobre as expectativas para a hotelaria em 2024, o executivo destaca a reforma tributária, que impactará diretamente todos os setores da economia. “Um IVA de 27% está fora de questão. A tributação atual é alta. Conforme estudos que realizamos, pagamos hoje entre 14 e 16% de impostos em um processo complexo e opaco”, avalia.

(*) Crédito da foto: davidlee770924/Pixabay