*De Olinda, Pernambuco 

Por Marília Gilka Oliveira, especialmente para o Hotelier News

FHAN: quais as perspectivas para o desenvolvimento hoteleiro?

Desenvolvimento Hoteleiro: perspectivas e tendências foi o tema do painel inaugural do FHAN (Fórum de Hospedagem e Alimentação do Nordeste 2023). Parte integrante da programação da HFN (Hotel & Food Nordeste), o evento acontece no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda (PE), prosseguindo até amanhã (9), com curadoria e organização do Hotelier News.

Pedro Cypriano, fundador e diretor executivo da Noctua Advisory, abriu os trabalhos no FHAN apresentando um estudo sobre orçamentos hoteleiros. Realizado em parceria com o Hotelier News, a pesquisa foi apresentada pela primeira vez no Hotel Trends Orçamentos 2024, promovido em agosto, em São Paulo. O levantamento traça um grande panorama das perspectivas do mercado de hotelaria nacional para o ano que vem.

Segundo Cypriano, e falando de evolução do turismo no Brasil nos últimos dois anos, a demanda doméstica voltou aos padrões pré-pandemia, o que era uma grande preocupação de todo o setor quando a crise sanitária estourou. A aviação doméstica é um bom exemplo desse movimento, assim como a hotelaria.

“Houve incremento significativo na tarifa aérea e, mesmo assim, a demanda da hotelaria acompanhou esse crescimento no cenário pós-pandemia. Estamos em um momento no qual o brasileiro voltou a consumir e estamos vivemos um pico histórico no turismo nacional, embora ainda haja espaço para expansão”, afirma.

FHAN - Palestra_Cypriano

Cypriano analisa cenário da hotelaria brasileira

 

“Na hotelaria, as principais praças do país estão com níveis de preços elevados, mas, se compararmos com 2012, que é o pico histórico de tarifa no Brasil, ainda há espaço para crescer”, esclarece.

Novo “antigo” normal

Cypriano aponta o desempenho da economia e estratégia de olhar para dentro do negócio como formas que permitirão aos hotéis para manter a boa performance. No primeiro caso, a leitura macroeconômica não promete muita oscilação frente a 2023, mas nada que o brasileiro já não esteja habituado.

“O mercado de luxo cresceu 11,96% em receita em 2022 e segue forte. O setor de eventos está aquecido e a expectativa é de ter um segundo semestre com alta demanda”, conta. Como oportunidades para 2024, o especialista aponta diárias corporativas negociadas como um caminho para obter crescimento orgânico. “Em se tratando de futuro, a nova oferta de hotéis urbana e de resorts é um número baixo. O que demanda preocupação é a operação de multipropriedades, que pode refletir em um impacto importante no lazer”, alerta.

Pensando em performance nos principais indicadores do setor, a expectativa para 2024 é um pouco mais tímida frente a este ano. “Ainda assim, pelo que mostra a pesquisa Orçamentos Hoteleiros 2024, a confiança segue alta e, para os hotéis, há espaço para valorização das tarifas corporativas. Olhando para taxa de ocupação, o crescimento é modesto e a diária média, em algumas cidades, pode variar positivamente em 10%. Agora, é importante levar em consideração os valores absolutos”, destaca.


Perspectivas do Nordeste para a alta temporada

Continuando o ciclo de palestras do FHAN (Fórum de Hospedagem e Alimentação do Nordeste 2023), para falar de Perspectivas para a alta temporada no Nordeste foram convidados Ricardo Souza, team leader Latam OTA Insight, e Pedro Cypriano, fundador e diretor Executivo da Noctua Advisory. A mediação foi de Vinicius Medeiros, editor-chefe Hotelier News.

FHAN - Palestra_Ricardo

Palestrantes analisam mercado nordestino

Souza apresentou dados da OTA Insight começando a analisar o período de janeiro a novembro deste ano e como os hotéis estão posicionando seus preços especificamente em três praças do Nordeste. “Fortaleza está 15% acima, já no mercado de Salvador não se vê um crescimento expressivo, exceto o período de Carnaval. No caso de Maceió, na alta temporada não houve alta significativa, mas ao longo do ano está trabalhando em uma precificação maior”, afirma.

Segundo o executivo, o volume de buscas por voos está 30% acima nas três cidades mencionadas quando comparados com 2022 e a tendência é seguir aumentando. “Essa demanda potencial se reflete para outras cidades como Natal e Recife. Já olhando para buscas de hotéis, os números se mantiveram em relação ao ano passado. Isso significa que as pessoas estão buscando antecipadamente os voos, mas ainda não se preocupam com a hospedagem, o que é uma oportunidade para esse setor”, aponta.

“Fortaleza tem picos de Ano Novo. Em relação a outros feriados como Carnaval e Páscoa, tem muito mais gente pesquisando voos que hotéis. Analisando Salvador, o volume de buscas é muito nítido no Carnaval, e na segunda quinzena de janeiro há um hiato. É importante o mercado hoteleiro estar atento a esse movimento. Em Maceió, o volume de buscas por voo é maior que o de hotel e janeiro como um todo tem uma alta demanda de hospedagem”, explica.

Análise

De modo geral, de acordo com Souza, a demanda é ligeiramente mais alta em relação ao ano passado, o que dá a entender que haverá bons resultados na alta temporada. “Importante observar que nos últimos cinco anos o número de apartamentos Airbnb em Fortaleza e Salvador cresceu de maneira significativa. O que pode significar um mercado novo ou um público que está migrando para esse tipo de acomodação. Acredito que um pouco dos dois”, alerta.

“O que se conclui com esse estudo é que a demanda está muito baseada em voos, a base de preços está mais alta que o ano passado e a estratégia de preços deve seguir essa tendência. Ainda tem margem para crescer mais as tarifas”, destaca.

Em bate-papo final com Medeiros no FHAN, foi levantada a questão de descontos por canais, que pode ser explorada pelos hoteleiros. “Podem e devem ser criadas diferentes estratégias por plataforma seja mobile ou OTAs e é preciso se adaptar a esses públicos crescentes”, finaliza Souza.


Quais as perspectivas para os resorts?

Para encerrar o primeiro dia do FHAN (Fórum de Hospedagem e Alimentação do Nordeste 2023), o tema abordado foi Panorama dos Resorts: operações e tendências. Para debater o assunto foram convidados Marcelo Picka, presidente da Resorts Brasil e superintendente dos Hotéis Senac-SP; e Paulo Schneider, diretor de Operações da Aviva. A mediação ficou a cargo de Vinicius Medeiros, editor-chefe do Hotelier News.

Os bons resultados atuais no segmento foram apontados por Marcelo Picka pela demanda reprimida da pandemia e pelo fato do Brasil ter sido redescoberto por um público que não estava mais acostumado a viajar pelo país. “O isolamento também provocou um movimento de viagem em família, com os pais e avós, uma reunião familiar maior que se consolidou”, completou Schneider em sua fala no FHAN.

FHAN - Palestra_Picka

Painel debate perspectivas para resorts

 

Para 2024, a Aviva está estimando um importante crescimento. “Analisamos a disponibilidade de crescimento em torno de 14,5% especialmente na alta temporada em relação às tarifas”, conta Schneider. “Como capturar a demanda além do orgânico? Incrementando projetos que chamem a atenção do público como a criação de novas atrações para entretenimento”, completa.

Como forma de incrementar a receita, Schneider comenta: “Dentro do Hot Park há atrações incluídas e outras com ticket à parte. Também podemos oferecer serviços de spa diferenciados e experiências exclusivas. Estamos trabalhando em um projeto de jantar à beira do lago.”

A força dos eventos para 2024 foi levantada por Picka como um fator que continua forte. “É um segmento que continua aquecido, gerando muita receita e ampliando a estrutura de investimento das empresas”, comenta.

O presidente da Resorts Brasil aponta a tarifa aérea como um ponto de atenção para o crescimento do mercado. “O público sabe que a tarifa do hotel não varia muito, mas o aéreo, tem uma volatilidade muito alta”, endossa.

Preocupação

O desafio da possibilidade de aumento da carga tributária também foi comentado no encontro. “O turismo tem uma grande importância na economia em relação a empregabilidade, treinamento de mão de obra e isso deve ser levado em consideração. Vamos lutar para continuar fazendo parte de um regime especial para manter a sobrevivência dos negócios”, finaliza Picka.

(*) Crédito das fotos: Peter Kutuchian/Hotelier News