Felipe TouroFelipe Touro

Em função do avanço do Coronavírus ao longo dos últimos dias, o impacto econômico começa a se aprofundar e dar passos maiores ao redor do mundo, refletido principalmente por questões como a redução de consumo e produção, mercado de ações e cadeias de suprimento em queda, fazendo com que países até mesmo de grandes potências da União Europeia liguem o alerta para uma possível recessão.

Em nível mundial, o ecossistema de turismo e hospitalidade vem sofrendo severos impactos principalmente do ponto de vista de demanda e isto se estende a empresas de toda a cadeia como companhias aéreas, hotéis, locadoras de veículos e cruzeiros. As companhias aéreas, as maiores impactadas até o momento, trazem um efeito cascata para os demais segmentos, que por sua vez começaram inicialmente cortando rotas para o continente Asiático, mas em alguns países como o EUA isto já tem impactado em voos domésticos, e agora, a medida de Donald Trump anunciada recentemente banindo viagens de países da Europa para os EUA, fatos estes que em algum momento vão de encontro com a redução da taxa de juros do país anunciada recentemente.

Não à toa a previsão pessimista da IATA (International Air Transport Association) aponta o impacto de cifras alarmantes com destaque para países do continente asiático, europeu e oriente médio, que não por acaso são as áreas com maior registro de casos. Com a confirmação de mais de 70 casos no Brasil, o mercado Latino Americano deve entrar nesta lista abaixo, pois a IATA considerou em seu levantamento somente países com mais de 10 de casos confirmados.

A proporção deste fator tem sido tão grande, em função principalmente da preocupação de C-levels sobre lucratividade e prejuízos financeiros, que a Hilton Hotels & Resorts, por exemplo, por meio de seu CEO, Chris Nassetta, anunciou o fechamento temporário de 150 hotéis na China, o que em sua estimativa espera um acerto de US$ 25 à US$ 50 milhões no EBTIDA ajustado para o ano de 2020.

No Brasil, apesar de toda preocupação e remediação, parece estarmos vendo neste momento apenas a ponta do iceberg, sem conseguir muito bem dimensionar o real impacto que isto poderá trazer ao longo dos próximos meses. Se formos lembrar de casos históricos de vírus como o SARS, MERS, Antraz, Ebola e Zika, alguns destes mais graves outros menos, todos deixaram a apreensão no ar, mas não tiveram consequências econômicas que duraram muito tempo, apesar que o tempo depois para garantir a estabilidade do mercado não deve ficar de fora da conta. 

Trazendo para o lado de Revenue Management existem duas óticas que irão requerer maior atenção e controle, sendo o Pricing e Forecasting, exclusivamente porque estas atividades acabarão de certa forma afetando a relevância dos dados históricos, a capacidade de prever o futuro com maior assertividade e a tratativa dos cancelamentos no momento presente. Inclusive, sob este último aspecto temos vários trade shows sendo cancelados como o caso da ITB Berlin e outros ainda como os Jogos Olímpicos de Tóquio que seguem ameaçados, além de eventos em propriedades hoteleiras.

 

Vejo que à medida em que os fatos acontecem e crescem, as especulações pegam carona e dão ainda mais margem para a pergunta: “Should I go or Should I Cancel?” Este ponto, inclusive, traz uma preocupação muito grande, se iniciando pela área de Revenue Management quando começa a identificar booking pace mais lento, pick-up mais curto e cancelamentos dos mais diversos segmentos de mercado e, por fim, a reportar para as demais áreas.

O segmento corporativo é outro que deve seguir sob forte acompanhamento e para aqueles que possuem uma solução de Business Intelligence, conseguirão se antecipar às tendências de mercado e adequar as melhores estratégias, até mesmo porque as políticas de restrição estão ganhando força dentro das empresas, com orientações de suspensão de viagens corporativas tanto internacionais quanto nacionais com prazo inicial de até 30 dias. 

O interessantíssimo gráfico a seguir foi compartilhado por Tallis Gomes, CEO do Easy Taxi, e traz uma visão de que compartilho inteiramente. Apesar de todo o alvoroço do mercado podemos ver que este não é o único e tão pouco o pior cenário e/ou crise que já vivenciamos na Bolsa, assim como os mais recentes fatos relevantes como o Joesley Day, que levou cerca de 3 meses para se recuperar.

Bom, e o lado otimista da estória? Sim. Ele existe! Eu diria que se inicia na capacidade em que cada um tem de enxergar diferentes perspectivas sobre o mesmo fato. Em segundo lugar, é a habilidade de conseguir se recordar de dados e fatos históricos que se passaram ao longo dos anos no quesito economia e política. 

O momento ainda é de cautela e é melhor amadurecer no otimismo do que deixar o medo e o desespero tomar conta. Nosso cenário econômico ainda permanece favorável principalmente quando comparado ao histórico de anos anteriores. Apesar do controle não estar em nossas mãos, a nossa capacidade de resiliência já está à prova. 

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Felipe Touro é gerente Corporativo de Receitas na Hotelaria Brasil. Formado em Administração Hoteleira pelo Centro Universitário Senac e pós-graduando em Marketing e Gestão Comercial pela Business School São Paulo, tem passagens por grandes empresas do trade hoteleiro e do segmento de T.I como Singulare Consultoria, Atlantica Hotels, Blue Tree Hotels, Pestana Hotel Group, PMWEB e Grupo Conectt nas áreas de marketing, vendas e revenue management.

(*) Imagens cedidas pelo próprio autor