Fãs ao redor do mundo, de diferentes idades, gêneros e contextos socioeconômicos, fariam muito – quase tudo mesmo – para chegar perto de seus ídolos. E isso inclui investir quantias robustas em passagens aéreas, diárias hoteleiras e ingressos para shows, sem mencionar alimentação e deslocamento terrestre. No Brasil, uma demonstração clara do poder econômico de ídolos pop foi dada recentemente, quando apresentações da Taylor Swift movimentaram o país.

Hoteleiro, atenção: a Taylor Swift já saiu do Brasil, mas os fãs ainda estão aqui. Há muito que pode ser feito. Em artigo recente, o Skift afirma que a cantora pode ser uma das pessoas mais poderosas no setor de viagens. E isso não é um exagero. Em São Paulo, apresentações da cantora foram essenciais para tornar novembro um mês histórico para o setor turístico paulistano.

O mero anúncio dos shows da norte-americana foi suficiente para catalisar uma quantidade alta de buscas por voos e hotéis na cidade. Segundo números da Lighthouse, a tarifa média em São Paulo bateu em R$ 1170 ao fim de novembro, maior valor bruto já registrado pela plataforma desde o início do monitoramento da cidade, em 2013. No Rio de Janeiro, que também sediou a The Eras Tour, a hotelaria também se beneficiou da enxurrada de fãs que chegaram para as apresentações.

O Vogue Square Fashion Hotel, por exemplo, atribuiu o alto faturamento à passagem da loirinha pelo estado fluminense.

Agora, repito, ainda há muito que pode ser feito.

As oportunidades não se limitam à agenda de shows

Taylor Swift

Varanda inspirada em videoclipe da Taylor Swift

Para além da movimentação econômica registrada, uma coisa é clara: o efeito Taylor Swift pode transbordar a agenda da cantora. Em Nashville, nos Estados Unidos, existe um imóvel de locação temporária dedicado aos fãs da loirinha. O Swiftie Shangri-La conta com cenários inspirados em cenas de clipes variados e a proprietária, Michelle Basiorka, é uma das fãs que lotou os shows da cantora em diversas cidades, além de já estar com passagem comprada para assistir a uma apresentação em Amsterdam.

Os benefícios não são exclusivos à grandes players de cidades sede, companhias aéreas e hotéis. Existe oportunidade – e muita! – para provedores de experiências, designers de interiores e até mesmo planejadores de casamentos.

A Contiki, empresa de planejamento de viagens europeia, oferece o pacote Taylor Your Contiki para cinco cidades que sediam a turnê esse ano. O produto conta com atrações e planejamentos que ocorrem ao redor das datas dos shows, convidando os fãs a conhecerem as cidades nos dias anteriores e posteriores ao evento principal, que é a apresentação da loirinha.

A designer Jenny Yi encabeçou um projeto de short-term rental para um cliente em Nashville, e cada quarto era inspirado em um videoclipe da cantora. “Ela se tornou uma força econômica,” disse Jenny, prevendo que a influência de Taylor não é apenas um lampejo temporário. “É um boom de negócios. É um boom de pessoas e um boom de empregos. Se tivesse um investidor que me permitisse fazer propriedades baseadas apenas na The Eras Tour, já teria me aposentado”, brincou a profissional, em entrevista para o Skift.

O site de casamentos The Knot, em pesquisa recente, entrevistou 200 casais para perguntar se algum aspecto de seus próximos casamentos seria inspirado por movimentos culturais específicos – Taylor Swift foi citada pela maioria.

Em resumo, os fãs movimentaram a economia de forma expressiva, e isso não nasceu do nada. Não é um pico que veio por meio dos shows e foi embora com eles. Os seguidores da cantora ainda buscam experiências que os conectem com o que ela representa.

Impacto histórico

Em Seattle, uma apresentação da artista agitou tanto os fãs que causou uma atividade sísmica similar a um terremoto de magnitude 2,3 na escala Richter. Ou seja, Taylor fez, literalmente, o chão tremer (apesar de tremores da magnitude descrita anteriormente serem raramente sentidos). E o impacto para a economia foi tão potente quanto, mesmo que não seja facilmente mensurável.

O CEO da Los Angeles Tourism, Adam Burke, disse ao Skift que uma parada da turnê gerou US$ 320 milhões em transações comerciais, 3,3 mil empregos e pagou mais de $160 milhões em salários. Uma linha de metrô da cidade viu aumento de 250% nos passageiros, e quase 5 mil viagens adicionais a cada noite de show.

Pesquisadores estimam que a turnê poderia gerar aproximadamente US$ 5 bilhões para a economia dos Estados Unidos, com cada espectador gastando cerca de US $ 1,3 mil por show em hotéis, roupas e outros produtos. “Se Taylor Swift fosse uma economia, ela seria maior do que 50 países,” disse Dan Fleetwood, Presidente da QuestionPro.

“O efeito cascata da Turnê Era de Taylor Swift se estendeu muito além dos fãs dedicados que lotaram os estádios,” disse Pranavi Agarwal, analista de pesquisa sênior da Skift. “Estimamos que a turnê gerou US $ 1,2 bilhão para a indústria de viagens dos EUA em 2023, incluindo voos, hotéis, aluguéis de curto prazo e outros gastos adicionais”, aponta.

Taylor Swift _ Gráfico

Cada cidade norte-americana selecionada para sediar apresentações testemunhou aumento de 7% nas diárias médias mensais no período do shows, de acordo com analistas da Bernstein. Quando a The Eras Tour chegou a Chicago em junho, foi o melhor fim de semana da história da hotelaria cidade. A ocupação atingiu um recorde de 97%.

“Se sua cidade for selecionada, você está carimbado como aprovado,” disse Chris Gahl, vice-presidente executivo da Visit Indy, de Indianápolis, também nos EUA. “A imagem [da cidade] de sofisticada, legal, moderna, progressista é real. E isso faz parte do atrativo de sediar [a turnê]”.

Todos os dados comprovam que o impacto da turnê é gigante. Mas, é importante lembrar que, embora a turnê seja passageira, o público — que fez dela um sucesso — não é. E eles ainda demandam eventos, acomodações temáticas e atrações como exposições artísticas.

Estratégias como parcerias com empresas locais para criar experiências relacionadas à cultura pop podem atrair ainda mais visitantes, hóspedes e não hóspedes, motivados pela paixão pela artista.

Ao entender e capitalizar esse fenômeno, as cidades têm a chance não apenas de impulsionar suas economias locais, mas também de se posicionar como destinos atrativos para um público jovem, que pode vir a viajar cada vez mais.

(*) Crédito da capa: Marcelo Endelli/Reprodução/Instagram

(**) Crédito da foto: Divulgação/Swiftie Shangri-La 

(***) Crédito do gráfico: Reprodução/Skift