Para sorte da nossa indústria, pelo menos desta vez, a hotelaria parece girar em outra rotação na comparação com outros setores. Enquanto o mercado financeiro e o varejo, por exemplo, têm sentido com mais intensidade os efeitos da instabilidade macroeconômica, a hotelaria vive aquela sensação maravilhosa de achar que nunca vendeu tanto. De fato, como apontam dados do InFOHB, os níveis de ocupação e diária média neste início de ano superam os padrões pré-pandemia e mostram tendência positiva. Agora, seria isso sustentável? Para Eduardo Giestas, pelo menos nas tarifas, ainda há espaço para crescer.

“A demanda está muito aquecida em grandes centros, caso de São Paulo. E, veja, esse bom momento da capital paulista ganhou força ainda maior este ano”, comenta o CEO da Atlantica Hospitality International, em entrevista à reportagem do Hotelier News durante a WTM-LA, aberta oficialmente ontem (3), em São Paulo. “Vemos neste momento um movimento de inflexão na diária média muito parecido com o segundo semestre do ano passado. Então, estamos confiantes em ter mais um ano de ganho real de preço. É a nossa meta.”

Ainda assim, Giestas está ciente dos desafios macroeconômicos e sabe que, para a Atlantica atingir seus objetivos orçamentários com mais rapidez e facilidade, era bom a economia entrar nos eixos. “O ambiente político-econômico segue complexo e, às vezes, a hotelaria parece anticíclica. O que me deixa otimista é que, apesar da perspectiva de baixo crescimento do PIB, vejo ainda espaço para alta da diária média, e é isso que vai guiar o aumento da nossa margem de GOP (Gross Operating Profit), pois a ocupação não tende a subir muito em relação ao ano passado”, analisa. “Como te disse em uma entrevista anterior, temos que mirar os preços dos picos históricos do setor, porque 2019 já não é a melhor base de comparação. Ainda estamos cerca de 20% abaixo de 2013 e 2014”, completa.

Segundo o CEO da Atlantica, a operadora deve abrir 26 unidades este ano, dos quais 13 são hotéis. “O mercado de short-term rentals está muito aquecido e apostamos bastante nele”, revela Giestas. “Assinamos dois contratos importantes com a ONE e a Moura Dubeux. São 57 empreendimentos, com 12 mil studios potenciais para explorar”, comentou. “No total, estamos com mais de 100 contratos no pipeline. Ou seja, é uma considerável oferta potencial de longo prazo. Agora, cabe a nós chegar e operar com sucesso”, complementou.

Perse

Se o objetivo da Atlantica é perseguir o crescimento da margem de GOP a partir da tarifa, é também estratégico para a empresa – e para toda hotelaria brasileira – ficar atento aos desdobramentos do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos). Giestas, que também é presidente do Conselho de Administração do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), diz que a entidade vem acompanhado atentamente a questão. Mais ainda, revela que a associação tem sentido o governo petista sensível à causa do mercado hoteleiro, que teve no programa da era Bolsonaro um valoroso suporte para recomposição do caixa.

“Agora, sabemos da necessidade do governo federal de elevar a arrecadação, que ele pode fazer via aumento de impostos, acabar com incentivos de alguns segmentos ou taxar outros que não vinham sendo tributados. Pelo sinais dados por Fernando Haddad, o último caminho parece ser uma opção mais forte. O Ministério da Fazenda sabe da relevância do turismo para a geração de emprego e renda”, comentou o CEO da Atlantica.

“Agora, se o pior acontecer, a casa não vai cair, mas o impacto no setor será grande, já que a hotelaria  continua endividada. Projetamos na Atlantica um impacto de três a cinco pontos percentuais na margem de GOP caso os benefícios do programa sejam extintos”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Vinicius Medeiros/Hotelier News