A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) divulgou hoje (19) a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) anual. O estudo mostra que 77,9% das famílias estavam endividadas em 2022, percentual recorde da série iniciada em 2011, com alta de 7 p.p. (pontos percentuais) e 14 p.p. frente a 2021 e 2019, respectivamente. O relatório também revela que o perfil predominante é de mulheres com menos de 35 anos, ensino médio incompleto, das regiões Sul e Sudeste, cuja renda familiar é de até 10 salários mínimos.

“Os efeitos perversos da pandemia, com o fechamento de negócios e o aumento do número de desempregados, e no pós-pandemia com o avanço da inflação, fez com que as famílias com rendas mais baixas precisassem recorrer ao crédito para manutenção do consumo de primeira necessidade”, afirma José Roberto Tadros, presidente da CNC. “Enquanto entre as famílias de maior renda a retomada do consumo reprimido levou a maior contratação de dívidas. Esses fatores, geraram o aumento no número de endividados em 2022 no país”, acrescenta.

Recorde de superendividamento

A situação drástica em relação ao endividamento não tange apenas o número de pessoas, mas o valor das dívidas. A Peic anual revela que 17,6% do total se consideram muito endividados, ou seja, gastam mais da metade da renda mensal para o pagamento de dívidas. Entre os com maiores salários, o índice cai pela metade. No total, 70% das famílias brasileiras comprometeram pelo menos 10% da renda com esta finalidade. Com isso, os brasileiro gastou em média, durante 2022, R$ 302 em dívidas a cada R$ 1 mil de renda.

“Em mais de dez anos, nunca as pessoas se sentiram tão endividadas e o que a Peic demonstra é que o superendividamento é principalmente um problema para as famílias de baixa renda”, pontua Guilherme Mercês, diretor de Economia e Inovação da CNC.

“Se esse endividamento diz respeito ao custo dos créditos e da inflação, um dos fatores essenciais para resolver isso é ter uma economia brasileira com juros mais civilizados, porque taxa de juros alta é sinônimo de dívidas caras, sempre”, continua Mercês “Portanto programas de renegociação de endividamento como os que estão sendo anunciados são fundamentais e estancam as angústias das pessoas e famílias. Mas em termos estruturais, o que vai resolver esse problema é uma taxa de juros mais baixa,” completa.

Dívida no cartão e inadimplência

O cartão de crédito é a principal forma de endividamento, cuja taxa de juros média de pessoas físicas saltou de 41,2% para 52,1% em 2022. De 2012 para 2022, a participação do cartão nas dívidas pulou de 75,2% para 86,6% “As pessoas com renda mais baixa estão usando o cartão de crédito para comprar alimentos e medicamentos, além de pagar contas de luz e telefone, por exemplo, para postergar o gasto para o mês seguinte ou mesmo parcelar esses valores”, afirma Izis Ferreira, economista responsável pela pesquisa.

Segundo ela, todo cuidado é pouco para evitar que o parcelamento das dívidas não se torne inadimplência, que cresceu 3,7 p.p. em relação a 2021. Com isso, três a cada dez pessoas atrasaram algum pagamento, número recorde da pesquisa. O perfil do inadimplente é também de uma mulher, com Ensino Médio incompleto, na faixa menor de renda, entretanto, com mais de 35 anos e moradora do Norte ou Nordeste.

Entre os inadimplentes, 43% atrasaram as dívidas por mais de três meses e 10,7% afirmaram que não terão como quitar os débitos – o dobro do percentual de 2014, menor nível da série. Entre as famílias de renda menor, 32,3% não têm condições de pagar os atrasados, enquanto entre as que recebem salários maiores, esse índice encerrou o ano em 13,3%.

(*) Crédito da foto: Firmbee/Pixabay