De acordo com levantamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), a proporção de endividados caiu 0,1% em outubro após a terceira alta consecutiva. No total, 79,2% das famílias disseram ter dívidas a vencer. Na inadimplência, a proporção de famílias com contas atrasadas cresceu de 30% para 30,3% no mês. Já no recorte anual, o avanço foi de 4,6%, maior nível desde março de 2016.

A pesquisa da CNC mostra que o endividamento está menor tanto entre as famílias de rendas média e baixa (até dez salários mínimos), quanto para aquelas com rendimentos maiores (acima de dez salários mínimos). A redução, no recorte mensal, foi sentida de forma mais expressiva entre os consumidores de renda elevada. Neste grupo, houve retração de 0,5%. Porém, em um ano, a proporção cresceu mais justamente nesta faixa de renda, subindo 5,8%, frente aos 4,3% das rendas média e baixa.

“A geração progressiva de vagas no mercado de trabalho, a queda da inflação nos últimos meses, além das políticas de transferência de renda mais robustas, têm aumentado a renda disponível, o que explica a desaceleração da proporção total de endividados”, explica José Roberto Tadros, presidente da CNC.

Alta de juros dificulta pagamentos

O levantamento também aponta que, mesmo com a retomada progressiva do fôlego na economia, os orçamentos seguem apertados, principalmente entre as famílias de menor renda. “O nível de endividamento alto e os juros elevados pioram as despesas financeiras associadas às dívidas em andamento, ficando mais difícil quitar todos os compromissos financeiros dentro do mês”, avalia Tadros. Segundo ele, esse conjunto de variáveis resultou na alta mensal na inadimplência.

Dados do Banco Central mostraram que os juros anuais em todas as linhas de crédito às pessoas físicas atingiram 53,7% em média, em setembro. O resultado representa crescimento de 12,5%. Segundo Izis Ferreira, economista da CNC responsável pela pesquisa, a boa notícia é que a proporção de famílias com dívidas atrasadas por mais de 90 dias vem reduzindo desde abril.

Em outubro, o indicador alcançou 41,9% dos inadimplentes. “Os consumidores têm buscado renegociar as dívidas sem pagamento há mais tempo”, avalia Izis. A porcentagem de famílias que afirmaram não ter condições de pagar as contas caiu 1% de setembro para outubro, representando 10,6% do total de famílias.

Sul e Sudeste são os mais endividados

Apesar de o endividamento ter caído no Brasil, neste início do último trimestre, 17 das 27 unidades federativas registraram crescimento na proporção de endividados entre setembro e outubro. Dos cinco estados com os maiores volumes de endividados, dois estão na região Sul. No Paraná, 95,8% das famílias estão endividadas, enquanto no Rio Grande do Sul o percentual chega a 91,9%.

Os três estados seguintes no ranking são do Sudeste. O Rio de Janeiro encabeça a lista da região, com 89,7%. Em seguida, aparece o Espírito Santo, com 88,5% e, por fim, Minas Gerais com 87,2%. Os consumidores capixabas e fluminenses apontaram as maiores altas no endividamento no recorte anual, de 20,8% e 14,4%, respectivamente.

Nordeste lidera ranking da inadimplência

Segundo o relatório da CNC, o percentual de consumidores que atrasaram o pagamento de dívidas cresceu em 12 estados brasileiros entre setembro e outubro. Bahia (43,7%), Rio Grande do Norte (42,4%), Minas Gerais (42,2%), Ceará (41,9%) e Roraima (38,5%) registraram as maiores proporções de endividados no período.

Em relação a outubro do ano passado, foi entre baianos e gaúchos que se observou o maior aumento de famílias que atrasaram dívidas: 11,1% e 12,6%, respectivamente.

Já entre os estados que apresentaram redução do indicador, o destaque é o Ceará, que mesmo sendo a quarta localidade com maior número de inadimplentes, teve queda de 4,3% na proporção de consumidores com dívidas atrasadas. Em outubro de 2021, os consumidores cearenses eram os que tinham, em todo o país, mais dificuldades para quitação de dívidas. Pará (5%) e Maranhão (4,3%) também apresentaram retração no indicador.

Inadimplência: cartão de crédito e cheque especial são principais vilões

As proporções de endividados no cartão de crédito e cheque especial aumentaram em um ano, embora sejam as modalidades com as maiores taxas de juros, sendo os maiores responsáveis pela alta da inadimplência. “Caracterizados pela facilidade no acesso e alta relação com as necessidades de consumo de curto prazo, os dois tipos de dívida foram os mais buscados pelos consumidores que tiveram o poder de compra afetado pela alta da inflação no período”, aponta Izis.

Já o crédito consignado, um dos tipos de crédito com juros mais baixos, perdeu espaço no endividamento dos brasileiros. Somente 5% do total de consumidores têm dívidas consignadas atualmente, em relação aos 7% observados em outubro de 2021. Apesar disso, a economista analisa que essa proporção deve crescer devido à contratação desse tipo de crédito pelos beneficiários do Auxílio Brasil.

Entre setembro e outubro, a pesquisa da mostrou que o endividamento consignado teve a primeira alta em cinco meses, com avanço de 0,1%. “Vale notar que, nos dias 10 e 11 de outubro, o Google Trends apontou recordes nos índices de busca pelo termo ‘consignado Auxílio Brasil’, justamente quando a Caixa Econômica Federal anunciou a oferta dessa linha de crédito específica para beneficiários desse programa de transferência”, finaliza Izis.

(*) Crédito da foto: AhmadArdity/Pixabay