Agora é oficial, acabou finalmente! Em comunicado que repercutiu no mundo todo, a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou hoje (5) oficialmente o fim da emergência da pandemia. É, de fato, uma data emblemática, um dia marcante, pois a Covid-19 não passou incólume pela humanidade. Em pouco mais de três anos, foram quase 7 milhões de mortes globalmente, pouco mais de 700 mil delas no Brasil. Afora, o sofrimento de outras centenas de milhões de indivíduos, sejam psicológicos, financeiros ou de saúde, decorrentes da maior crise sanitária que se tem notícia. Bem, o lado bom disso tudo, se você está lendo esse texto agora, é que poderá olhar para trás, estufar o peito e dizer: eu venci! Vencemos!

Segundo reportagem da Folha de São Paulo, a indicação de que uma doença representa uma emergência de saúde global ocorre quando um comitê é formado pela OMS frente a uma possível ameaça. Os membros se reúnem e aconselham o diretor-geral da entidade – que desde o início da pandemia é Tedros Adhanom – se a situação representa ou não um perigo a nível mundial. No caso da Covid-19, isso ocorreu exatamente no dia 30 de janeiro de 2020.

Desde então, o comitê mantinha a posição de que a infecção continuava representando um risco para toda população mundial. Essa avaliação se alterou somente na última reunião do grupo, ocorrida ontem (4). Hoje, veio o comunicado informando o fim da emergência e, no texto, Adhanom descreveu a decisão como esperançosa. “Eu aceitei esse conselho [do comitê]. É, portanto, com grande esperança que declaro o fim da Covid-19 como uma emergência de saúde global”, afirmou.

Impacto na indústria de viagens

Era o dia 29 de janeiro de 2020 quando publicamos a primeira matéria sobre o coronavírus no Hotelier News. Menos de um mês depois, noticiávamos o primeiro caso no Brasil, mais especificamente em São Paulo. O problema, contudo, era global e, em 12 de fevereiro, a Hilton já se via forçada a fechar 150 hotéis na China, até ali epicentro da futura crise sanitária. Ainda neste mês, começaram os cancelamentos de feiras e eventos da indústria de viagens, e um bom exemplo foi a ITB Berlim, uma das primeiras a anunciar tal medida para a edição daquele ano.

Dia marcante - matéria fim da pandemia - interna

Isolamento mexeu até na rotina do Papa Francisco

Agora, falando especificamente da hotelaria brasileira, aposto que nenhum de nós vai esquecer o final da segunda quinzena de março. No dia 18, por exemplo, o governo de Santa Catarina já proibia hotéis de receber hóspedes por sete dias. Logo na sequência começou uma chuva de fechamentos, que abrangeu desde resorts de grande porte a hotéis independentes. Alguns deles, como se sabe, nunca mais reabriram. Mais ainda, dali em diante não pararíamos mais de falar sobre Covid-19 até os dias de hoje.

Não só de notícias negativas, embora elas tenham sido maioria, a pandemia ficou marcada. Isso porque, certamente, o hoteleiro teve muitos ensinamentos desse conturbado período. Quem não se lembra do “novo normal” e seus muitos insights sobre o comportamento do consumidor. Ou mesmo dos inúmeros desafios operacionais e comerciais impostos – à machadada – pela crise sanitária. Não podemos esquecer também como a Covid-19 alertou o mercado sobre a necessidade de acelerar o processo de transformação digital.

Enfim, é certo que o profissional do setor saiu mais forte e preparado da crise sanitária. É, como citado no início do texto, e por diferentes razões, um vencedor – na vida pessoal e profissional. Mostrou, talvez muito mais do que em outras indústrias, uma resiliência invejável.

Depoimentos

Para encerrar, pedimos a alguns dos nossos leitores que enviassem depoimentos em relação à pandemia. A solicitação era que respondessem a duas singelas perguntas:

  • Como a pandemia impactou sua vida?
  • Quais aprendizados ganhou?

Seguem abaixo os depoimentos. Boa leitura! Ah, sim, quem quiser nos enviar mais falas, é só mandar. Publicaremos uma a uma, mesmo que a matéria já tenha sido veiculada – vantagens do jornalismo de internet 😉.

“Primeiramente, a pandemia me fez trabalhar muito mais. O primeiro impacto foi um mergulho para entender o que de fato estava acontecendo, e para tentar solucionar problemas que nem imaginávamos quais seriam. Por isso, houve um momento de muito trabalho e imersão, e em seguida iniciamos os protocolos aqui no Brasil. Ao longo do tempo, observamos que isso se alongaria por mais de um ano e partir disso, aceitamos a situação com a resiliência necessária e por fim conseguimos, graças ao trabalho da ciência, conseguimos retomar os encontros, eventos e o mundo pareceu caminhar para uma normalidade. Chegamos a achar que as pessoas trabalhariam mais pelo coletivo, mas infelizmente vemos um mundo cada vez mais imersas no individualismo, a tecnologia parece que nos engoliu cada vez mais depois da pandemia. Para mim, o grande aprendizado foi entender a necessidade de construir relações cada vez mais humanas. Por mais que nos relacionemos com as pessoas virtualmente, o universo afetivo humanizado vem das relações pessoais e do face to face.” – Simone Scorsato, CEO da BLTA (Brazil Luxury Travel Association).

“Nesse período de três anos, tivemos grandes aprendizados, que mesclam o pessoal e profissional. De forma mais ampla, eu diria que aprendemos a enxergar melhor aquilo que está mais perto de nós. Antes, sempre tivemos muito interesse em buscar as coisas distantes, e isso se aplica principalmente ao turismo. A pandemia, por motivos óbvios, nos manteve mais parados e passamos a dar valor às coisas imediatamente ao alcance dos nossos olhos. Vimos melhor nossa cidade, as pessoas que trabalham conosco. Conhecemos mais nosso país e ao mesmo tempo trocamos ideias sobre as melhores práticas a respeito de uma infinidade de coisas. O crescimento aconteceu para todos. Infelizmente, contabilizamos perdas humanas, que são irreparáveis, mas de qualquer forma, estamos mais preparados e motivados. O turismo e hotelaria não acabaram. Pelo contrário, serão a indústria mais forte dos próximos 30 anos. O cenário já está bastante claro, com o desafio de repor a mão de obra perdida na crise.” – Maarten Van Sluys, CEO da MVS Consultoria Hoteleira.

“A gente está vendo clientes montando operações remotas para atendimento ao cliente, por exemplo. Até nesse aspecto, foi quebrado o paradigma de ter pessoas de central de reservas dentro dos hotéis. Agora, com as ferramentas de gestão que possibilitam que o trabalho seja feito de forma remota, temos clientes optando por essa opção e contratando em locais onde o custo operacional de pessoas é mais otimizado. Isso é um ganho para a hotelaria do pós-pandemia. Como muitas pessoas perderam familiares, aquela vontade de aproveitar a vida e cada momento veio cada vez mais forte, o que aumenta o tamanho do mercado de viagens. É um legado importante e os números mostram que o turismo está crescendo muito, mesmo com os desafios econômicos.” –  Rodrigo Teixeira, CEO da Asksuite.

“A declaração da OMS do fim da emergência de saúde da pandemia, para mim é um grande marco, pois esta crise fez eu mudar completamente minha vida pessoal e profissional, após quase perder meu marido pelo, que ficou 36 dias internado por conta da Covid-19 e que, com a graça de Deus, teve uma segunda chance de vida. Com isso, muitas reflexões ocorreram junto com mudanças. Uma delas foi eu deixar o mercado corporativo após quase 20 anos na área de hospitalidade/hotelaria/tecnologia para me dedicar aos negócios de família e crescer o nosso sonho. A mudança de vida foi extrema e as lições que levo e passo aqui são: viva o hoje, dedique tempo à família e amigos, em primeiro plano sempre a saúde, não deixe de viver pelo trabalho. A vida é curta e passa em um piscar de olhos. O amanhã pode não vir, então curta o presente, crie memórias, viva!!!” – Amy Secches, ex-diretora de Marketing da Oracle Hospitality.

“Estamos sempre vulneráveis a fatores externos e não resta a menor dúvida de que a pandemia de Covid-19 impactou de forma significativa a vida de todos nós. Sempre haverá um antes e um depois. Porém, no Le Canton conseguimos superar as adversidades com jogo de cintura e medidas firmes e seguras. Foi possível fazer sempre mais do que pensamos com menos e, assim, nos adequar às circunstâncias e nos superar. Tivermos que tomar medidas desagradáveis que impactaram, por exemplo, a vida de funcionários, bem como fechar o hotel temporariamente, em 2020. Por outro lado, flexibilizamos nossa política de remarcações e cancelamento, o que foi possível graças aos ótimos resultados obtidos no ano anterior.

Ainda em 2020, com a demanda reprimida de viagens e famílias em isolamento social por um longo período, a busca pelas viagens de final de semana já estavam no radar. Mas com a continuidade de home office e das aulas remotas, o hotel percebeu uma oportunidade de criar um produto que atendesse à nova demanda de seus clientes. Desde a reabertura, foram oferecidas ferramentas para que os hóspedes pudessem trabalhar e estudar de forma remota. O Le Canton preparou uma área reservada do hotel com toda a estrutura para as crianças acompanharem suas aulas, com a supervisão de uma pedagoga e apoio de material escolar e lanche. Na sequência, foi criado o Le Canton Office, que pode ser reservado por um aplicativo, para que os adultos tivessem um espaço mais reservado para reuniões.

Nossa ocupação de segunda a sexta, que variava na casa dos 40%, chegou a 90%.  Com criatividade e um produto de primeira linha, conseguimos, mesmo em um ano de pandemia, superar os resultados dos anos anteriores.” – Mônica Paixão, diretora geral do Le Canton

“Acho que a pandemia nos mostrou que a única certeza que temos é que, vivemos num ambiente de incerteza. E o ser humano, apesar de todo avanço da ciência, não sabe como reagir a uma crise dessa magnitude. Vai pelo método de tentativa e erro!” – Orlando Souza, presidente-executivo do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil).

“Em poucas palavras, é assim que eu descrevo a pandemia do coronavirus: tristeza, desolação, esperança, aprendizado e resiliência.” – Simone Mariote, vice-presidente executiva da Preferred Hotels & Resorts na América do Sul.


Dia marcante - matéria fim da pandemia - gabriela swan“A pandemia foi a maior lição de gestão e empreendedorismo da minha vida profissional. Aproveitamos aprendizados da ISO 9001 de anos, elaboramos em menos de dez dias nosso protocolo próprio de atuação e cuidados, montamos um comitê de crise, fomos no contrapé da economia e tomamos a decisão de não fechar nenhum hotel. Uma rede verticalizada tem como seu maior ativo sua credibilidade no mercado junto aos seus clientes e todos os stakeholders. Quando assumi como CEO da rede Swan Hotéis em janeiro de 2020, não esperava um desafio tão grande.

Não bastava aprender a ser CEO, já peguei logo a pandemia. Imediatamente me veio à mente ‘não cheguei até aqui para me entregar’. Foi aí que veio na dificuldade e espírito de sobrevivência que surgiu de maneira criativa, o reposicionamento das marcas da rede, a oportunidade de realizar o projeto do Generation. Neste meio tempo, pude me dedicar a outra paixão, que foi traduzir o lifestyle urbano através do Generation e o lifestyle de lazer por meio do Jangal das Araucárias. Fica a certeza de um grande aprendizado e de que talvez não teríamos evoluído tão rapidamente em produtos, conceitos e buscando nos estruturar para um crescimento junto ao mercado. Hoje eu agradeço pelo que passei.” – Gabriela Schwan, CEO da Swan Hotéis.


“Enquanto seres humanos, vimos o quão importante é viver e ter experiências, ao invés de coisas. Talvez, também, por isso que as pessoas estejam aproveitando ainda mais para desbravar o mundo e viajar. Profissionalmente, entendemos ainda mais o valor das associações e parcerias, tendo somado esforços para atravessar este momento delicado. Que esta união não se desfaça com o passar do tempo, e sigamos cada vez mais com um olhar humano para as pessoas.” – Rodrigo Galvão, diretor executivo e Comercial do Transamerica Resort Comandatuba.

“A pandemia desmistificou muitas das minhas crenças. Tive grandes desafios e aprendizados profissionais. Testei novas fórmulas, desenvolvi minha resiliência e, especialmente, minha paciência. Muita paciência. Dar tempo ao tempo. Aproveitar os momentos. Ser mais seletivo em tudo, principalmente nas relações. O maior aprendizado é sobre a falta de controle sobre tudo e como, as coisas se encaixam. Em todos os aspectos. Pode demorar para juntar os cacos, mas, no final, eles formarão uma bela obra de arte.” – Ana Luiza Masagão, proprietária da ALM Consultoria.

“A pandemia foi claramente um aprendizado , quem sobreviveu na saúde e nos negócios, agregou valor ao seu expertise , mudamos a maneira de ver nossa empresa , aprendemos a conviver mais intensamente com os nossos familiares e reavaliamos o relacionamento com nossos colaboradores. Melhor que não venham outras pandemias tão cedo.” – Alexandre Sampaio, presidente da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação).

“Foi um momento único na vida de toda a população mundial. Algo que só havia acontecido há cem anos. De todo o aprendizado que ficou, o mais importante foi ter a noção de que o planeta é muito mais forte e importante do que nós. Foram vários momentos onde rios e mares ficaram mais limpos. Isso demonstra também como nós, aprendizes de seres humanos, precisamos olhar o todo e não apenas para nós. Cuidar do meio ambiente e respeitar cada vez mais os outros, dentro de cada forma e escolha.” – Peter Kutuchian, fundador e CEO do Hotelier News.


Dia marcante - matéria fim da pandemia - Mateus Cabau“Lembro de março de 2020, quando ainda era gerente geral do hotel na International Drive e éramos um das propriedades oficiais de um evento gigantesco que acontece anualmente. Eram mais ou menos 50 mil pessoas que chegariam a Orlando e, dois dias antes, foi decretada a pandemia. Estávamos com ocupação acima de 80%, e ficamos de março até junho com 27%. Conseguimos trabalhar basicamente com moradores, abaixamos tarifas. Em junho, o mundo começou a melhorar para o nosso lado e os parques, até então proibidos, foram autorizados a reabrir com 25% da capacidade.

De julho até o fim do ano, conseguimos subir para 50% de ocupação. O impacto imediato aconteceu de 15 de março ao fim de maio, com uma interrogação grande. Do ponto de vista pessoal, continuei trabalhando presencialmente, indo todo dia ao hotel. Tomamos medidas de proteção e as coisas passaram a melhorar a partir de agosto, com as escolas e diversas outras atividades voltando. Eu e minha família acabamos pegando Covid antes da vacina, mas felizmente ficamos bem. A Flórida foi um dos estados a voltarem mais rápido da pandemia.” – Mateus Cabau, sócio-diretor da Develop America LCC.


“A pandemia mudou demais a vida das pessoas, que período duro. Todos passamos por poucas e boas! Celebrando esse marco, uma leveza em tantos aspectos. O mundo aprendeu a ser resiliente. O hoteleiro teve que se reinventar, sim ou sim. Aprendemos, quase que obrigados, a ter mais qualidade de vida. Este aprendizado trouxe uma mudança importante no cenário profissional e econômico. O nomadismo digital deixou de ser coisa de milenial, passou a ser de todos. Empresas aprendendo a ter um modo de trabalho híbrido. Lajes de escritórios se esvaziando e as empresas aprendendo uma nova cultura e uma nova forma de trabalhar em equipe a distância! A hotelaria ganhando espaço para os viajantes que agora estendem suas diárias um pouco a mais, afinal trabalham de lá! A tecnologia acelerou o passo, a inovação foi necessária e os trends estão todos voltados para o que éramos no passado, pessoas buscando se conectar com mais pessoas, viajar e trabalhar ao mesmo tempo, praticar exercícios e buscar qualidade de vida é mais saúde, entrou em pauta para muito mais pessoas.” – Flávia Lorenzetti, CEO da B&B Hotels

“Com a pandemia, a valorização da vida e as relações ficaram mais em evidência. O cliente mudou valores e os hotéis tiveram que se reinventar, oferecendo experiências diferenciadas, valorizando a humanização dos serviços e proporcionando momentos inesquecíveis entre família e amigos. O atendimento ficou mais personalizado. Ao mesmo tempo aprendemos a fazer mais com menos e preservar o que realmente tem valor, a vida, a natureza, a família e os amigos. As viagens de curta distância aumentaram muito e os hotéis mais uma vez se adaptaram para oferecer novas atrações e experiências para clientes de suas regiões.” – Paulo Michel, presidente da ABIH-RJ e CEO da Louvre Hotels Group – Brazil

(*) Crédito da capa: cromaconceptovisual/Pixabay

(**) Crédito da foto: Yara Nardi/AFP

(***) Crédito das fotos dos depoimentos: Divulgação