Baiano com orgulho, Rodrigo Galvão ama pescar. Tanto no rio, quanto em alto mar, o profissional se afasta do digital e vai em busca de troféus dos mares. Além disso, adora o ritual de acordar cedo no final de semana, ir à feira e ao mercado, e em seguida preparar uma bela refeição para a companheira. Galvão nunca deixou de ler e estudar, e, para além da hotelaria, se interessa por economia, marketing, entre outros assuntos, para se manter antenado.

Com vasta formação acadêmica, desde MBA no Insper a participação em programas do Sebrae, Escola Conquer, Digital House e Fundação Dom Cabral, o executivo acumula quase 20 anos de experiência em hotelaria e viagens. Começando pela Costa do Sauípe, o profissional já teve passagens pela SuperClubs, Aruanã Eco Praia Hotel, CVC Corp, até chegar no Transamerica em 2020.

Para a sessão do Três perguntas para de hoje (18), o Hotelier News convida Galvão, diretor executivo Comercial e de Operações do Transamerica Comandatuba para um papo sobre o empreendimento e suas perspectivas sobre o setor.

Três perguntas para: Rodrigo Galvão

Hotelier News: Relatório da Resorts Brasil mostra que, até o terceiro trimestre, os resorts brasileiros têm obtido alta expressiva do RevPar frente a 2019, em um resultado puxado pela alta da diária média. No Transamérica Comandatuba esse cenário se repete? O que pode destacar?

Rodrigo Galvão: Sim, os resorts de maneira geral já venderam 5% mais do que o período pré-pandemia, então grande parte da mudança na receita obviamente é diária, mas também temos observado aumento significativo na demanda. Digamos que 50% do reajuste está relacionado à recomposição de custos inflacionários. Se voltarmos a fita nos últimos dois anos, o combustível em geral subiu bastante e quando falamos em resorts sentimos na veia o aumento nos preços dos alimentos. Então, os empreendimentos tiveram que recompor suas diárias para pagar as contas e também aproveitar o momento para conseguir abrir margens mais saudáveis no setor, além de recuperar o prejuízo que todos nós sofremos, especialmente em 2020, ano mais crítico da pandemia.

Ainda assim, o trilho está muito bom e há bastante vento a favor. Lamentavelmente, temos uma guerra ainda em curso na Ucrânia e os Estados Unidos têm uma fila grande de vistos, ou seja, bastante gente ainda com demanda reprimida aqui. A malha aérea já retornou a sua oferta pré-pandêmica, mas os custos aéreos estão altos, em decorrência da alta do combustível. No final das contas, o público se readéqua, optando por estadias mais curtas, hotéis mais próximos e pacotes de viagens.

HN: O resort entregou recentemente a piscina totalmente revitalizada. Há outras renovações previstas na propriedade? Poderia detalhar esse cronograma de reformas e, se possível, o investimento previsto?

RG: Neste ano de 2022, devemos totalizar quase R$ 10 milhões reinvestidos no hotel. Revitalizamos a piscina, renovamos todo nosso enxoval, estamos finalizando a aquisição de novo maquinário para lavanderia, espaço das crianças e academia. Além disso, trocamos algumas camas e televisões das suítes, além de bastante material operacional que a gente está renovando para melhorar a eficiência. Agora, estamos trabalhando nas proposições de investimento a serem apresentadas ao conselho para o ano que vem. Devemos seguir nessa tônica de priorizar as áreas sociais para que consigamos rejuvenescer, principalmente do ponto de vista de decoração e ambientação, deixando tudo com um ar mais atual. Em seguida, a ideia é revitalizar os quartos e assim, completar o retrofit do resort.

HN: Sobre o orçamento para 2023, e vendo os resultados dos resorts e os principais dados macroeconômicos, qual a visão central do Transamérica Comandatuba? Um cenário conservador, realista ou otimista? O que baliza essa decisão?

RG: Estamos tentando entender um pouco como vai se desenhar a inflação para o ano que vem, pois se a gente olhar os últimos 12 meses, a média é um pouco complicada. A partir do começo de julho, a redução do ICMS dos combustíveis cascateou positivamente para todo o mercado, proporcionando a deflação de preços. Quando se olha junho de 2021 até junho de 2022, o IPCA estava dando em torno de 10,51%.

O que estamos olhando neste momento? A ideia seria uma recomposição do IPCA (Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo) desses últimos 12 meses e mais 10% de reposicionamento de tarifa, pois o mercado não consegue absorver muito mais do que 15% ou 20% de um ano para o outro. Por outro lado, se a inflação sobe muito, na prática acabamos tendo o desafio de recompor o custo. Estamos otimistas que, apesar de tudo, nada supera o trabalho, pois trabalhando a gente consegue contornar todos os desafios. Prevemos aumento de faturamento total em algo em torno de 20% para o ano, em partes pela ocupação – que esperamos fechar em 70% – e também pela recomposição de diária.

Temos uma tarifa ponderada um pouco mais para baixo por conta da nossa distribuição, que levava bastante em conta os canais, operadoras e agências, mas já conseguimos recuperar o nível tarifário pré-pandemia. O que precisamos agora é reposicionar com todos os investimentos que estão sendo feitos para que a gente de fato coloque Comandatuba novamente na ponta dos hotéis mais exclusivos.

Agora, para a baixa temporada, temos tarifas bastante democráticas, a partir de R$ 1,6 mil e R$ 1,8 mil para dois adultos com até duas crianças. Então, está em linha com a trajetória que traçamos: de um passo de cada vez, pois não adianta darmos um solavanco porque precisamos primeiro mostrar o hotel para novos públicos e reconquistar a confiança das agências e operadoras, olhando sempre para o longo prazo. No curto prazo, provavelmente estaríamos ganhando muito mais dinheiro focando na venda direta, mas as operações aéreas são extremamente necessárias de serem costuradas com a parceria das operadoras, então levamos essa relação e o longo prazo em consideração.

(*) Crédito da foto: Peter Kutuchian/Hotelier News