No começo de março, a prefeitura do Rio de Janeiro aboliu o uso de máscaras em locais fechados. Seguindo o exemplo, na semana seguinte, o governador de São Paulo João Doria assinou um decreto encerrando a obrigatoriedade. Para a hotelaria, surge uma dúvida: o momento é adequado para abandonar o item dos uniformes dos colaboradores?

Iniciativa independente que une pesquisadores de diferentes instituições para acompanhar a pandemia, o Observatório COVID-19 BR informa que, ainda que alguns governos estaduais e municipais estejam suspendendo a obrigatoriedade do uso de máscaras, existem uma lei (13.979 de fevereiro de 2020) e uma portaria interministerial (nº14 de 2022) em vigor que obriga o uso.

“A lei estabelece medidas gerais para o enfrentamento da pandemia que inclui a necessidade das máscaras. Enquanto a portaria estabelece regras para os ambientes de trabalho e determina que funcionários devem usar máscaras em locais onde não seja possível manter distâncias maiores de um metro entre as pessoas”, afirma o Observatório.

Mesmo com o avanço da vacinação, ainda existem riscos, sobretudo para populações mais vulneráveis, como idosos e imunodeprimidos. Além disso, a cobertura vacinal infantil ainda é baixa para as faixas etárias liberadas, enquanto que, para menores de cinco anos, as pesquisas ainda estão em andamento.

Segundo dados da Sivep-Gripe (Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe), a taxa de casos de síndrome respiratória aguda grave na faixa etária abaixo de cinco anos foi a maior de toda a pandemia durante os meses de fevereiro e março de 2022. Com a flexibilização e o retorno às aulas 100% presenciais, o Observatório COVID-19 BR prevê piora desse índice, principalmente com a chegada do outono e inverno.

“Como agora praticamente todo mundo já voltou a circular normalmente, e mais ainda com a desobrigação das máscaras, é importante considerarmos que o risco aumenta, especialmente para os mais vulneráveis. É importante pensarmos nas vidas que são colocadas em risco com o relaxamento de algumas medidas de prevenção, como o uso das máscaras”, informa a organização.

Banalização dos números

É evidente que a percepção do brasileiro quanto à gravidade da pandemia mudou bastante ao longo do tempo. “Talvez devido ao avanço da vacinação em território nacional e pelo sentimento de fadiga da população com relação à pandemia, um patamar que seria muito preocupante no primeiro ano perdeu um pouco de seu impacto”, comenta o Observatório.

Nas últimas avaliações, a média móvel de mortes se manteve abaixo de 200. No entanto, no começo da pandemia, esse valor seria espantoso. “Em 2020, uma média móvel de mortes próxima a 100 já causava um nível de atenção e preocupação muito maior do que observamos agora”, relata a entidade.

“Mesmo em 2022, o Brasil já apresentou média móvel inferior à atual, voltando a observar novo aumento nas semanas seguintes. Qualquer flexibilização em medidas de alto impacto, como a das máscaras, deve levar ao aumento da velocidade de contágio, e, com uma cobertura vacinal incompleta e frente a novas variantes, pode significar novo aumento acelerado do número de internações e mortes”, complementa o Observatório.

Máscaras no mundo

As capitais cariocas e paulistas não são as únicas do mundo a abolirem a medida. Ainda que as situações e estratégias variem para cada país, alguns daqueles que implementaram restrições já flexibilizaram medidas, como é o caso do Reino Unido, Dinamarca, Suécia, Polônia, Suíça e alguns estados norte-americanos.

“Na América do Sul, a situação é mais restrita, e o Brasil é o primeiro país a começar a flexibilizar seu uso em espaços fechados, enquanto somente Argentina, Chile e Uruguai apresentam flexibilizações para espaços abertos“, exemplifica o Observatório.

No Brasil, até o momento da publicação desta matéria, apenas 10 estados mantêm o uso obrigatório: Bahia, Pernambuco, Roraima, Pará, Sergipe, Amapá, Tocantins, Paraíba, Piauí e Ceará. Enquanto nove estados flexibilizaram a medida, outros sete estados e o Distrito Federal aboliram a obrigatoriedade do uso totalmente.

máscaras - infográfico

Redes hoteleiras: quais liberaram?

Considerando o atual cenário, é importante ter uma noção de como o setor hoteleiro está reagindo ao fim da obrigatoriedade. Entre as principais redes hoteleiras presentes no país que participaram da pesquisa realizada pelo Hotelier News, as únicas que aboliram o uso do item no uniforme dos colaboradores, em unidades em que a jurisdição local permite, foram a Marriott e a Wyndham Hotels & Resorts.

Outras, como a Accor e a Bourbon Hotels & Resorts, planejam manter o uso por mais um mês após o decreto. “A rede optou em manter a utilização das máscaras por pelo menos mais 30 dias, quando fará uma nova análise para decidir sobre a necessidade de continuidade ou não”, confirma a diretoria Bourbon.

A maioria das redes ainda mantém obrigatoriedade por período indeterminado, e grande parte delas argumenta que o motivo para tal é essencialmente para garantir maior segurança aos hóspedes.

“Como a natureza do nosso serviço é atender às pessoas que vem de diversos lugares, seremos cautelosos solicitando o uso da máscara para todos os nossos colaboradores”, conta Caroline Ribeiro, gerente de RH da Hotéis Deville. “Isto devido a medida ser muito recente e para promoção de melhor proteção a todos nossos anfitriões. Além disso, usando a máscara, passamos segurança também aos nossos hóspedes, com essa medida de prevenção”, conclui a executiva.

(*) Crédito da capa: reprodução/Prefeitura de Águas de Lindoia