A pandemia provocou uma chuva de renegociações nos contratos de contas corporativas. Muitos hotéis tiveram rebolar para não perder parcerias importantes, muitas vezes despencando preços. Felizmente, o turismo de negócios promete maior aquecimento em 2023, ligando o sinal verde para o setor hoteleiro.

De acordo com dados da Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas), viagens corporativas faturaram R$ 3,3 bilhões no terceiro trimestre do ano passado. A cifra é 11,6% superior ao registrado no mesmo período de 2019, ainda no pré-pandemia e principal base comparativa dos números.

Gervásio Tanabe, presidente da entidade, pontua que muitas empresas se aproveitaram do cenário turbulento. “Em vez de se sensibilizarem com o momento, muitas empresas fizeram revisão de concorrência. Algumas multinacionais que tiveram bons resultados fizeram o mesmo, aproveitando a fragilidade do setor para pressionar fornecedores a baixar ainda mais o preço”, critica.

Ainda assim, segundo Tanabe, as viagens corporativas apresentaram melhoria, principalmente na hotelaria. Apesar de terem registrado uma queda de 12% no número de room nights em novembro de 2022 frente ao mesmo mês de 2019, o segmento registrou aumento de 8,5% nas vendas. “No acumulado do ano, a hotelaria teve uma performance ainda melhor do que 2019”, salienta o executivo.

O mesmo foi percebido pelo IHG Hotels & Resorts, que registrou recuperação de 75% do público corporativo de 2019. “Estamos otimista em relação a este mercado e esperamos uma recuperação ainda melhor, apesar de muitos dizerem que não deve retornar 100%. Em 2023, acredito que o percentual passe dos 90%”, estima David Pressler, diretor Comercial do México, Caribe e América Latina da rede.

Ricardo Pompeu, vice-presidente de Vendas e Marketing da Nobile Hotels & Resorts, também confirma essa tendência de recuperação. “As perspectivas são muito boas, pois tivemos uma performance surpreendente nos hotéis da rede este ano, faturando 15% acima do projetado para o orçamento”, comemora o executivo. “Como nos dedicamos muito ao corporativo, com grandes parcerias de agências corporativas, este ano batemos recorde ao negociar mais de 470 RFP (request for proposals)”, acrescenta.

contas corporativas - David Pressler

2023 será ainda melhor, avalia Pressler

Equilíbrio e tarifas dinâmicas

Para Tanabe, os custos aumentaram para todo mundo, até mesmo em função da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), que também exigiu investimento. “É natural que haja um ajuste de preço”, pondera.

Para isso, a hotelaria está migrando para um modelo de tarifas dinâmicas ou flutuantes, que oferecem maior flexibilidade do que a tarifa fixa, que é extremamente danosa aos empreendimentos. “É mais adequado e até mais justo, tanto para o cliente quanto para o hoteleiro”, destaca Tanabe.

Pressler e Pompeu reforçam esta ideia, alegando que o modelo de negócio ajudou os empreendimentos das redes equilibrarem as contas. Apesar da estagnação dos ajustes no segmento corporativo verificadas por ambos os hoteleiros, os profissionais acreditam que conseguirão cobrir a inflação em 2023.

“Esse ano, nós elevamos a nossa diária média global para R$ 251, alta de 20% em relação a 2021. Temos perspectiva de aumentar ainda mais, por meio da inteligência de vendas”, promete Pompeu. Para isso, a rede faz uso de sistemas e soluções tecnológicas integradas aos canais de vendas, com estratégias tarifárias adaptadas para cada categoria, segmento ou mercado.

Após o boom de viagens de lazer, a hotelaria teve que acordar e repensar as práticas de negociação para o corporativo, diz Pressler. “A hotelaria percebeu que este tipo de dinamismo pode ser implementado nas negociações corporativas e deve incrementar nos tarifários a serem acordados para o ano de 2023”, explica o diretor.

Em linha com as boas expectativas das redes hoteleiras para o segmento, Tanabe acredita que o segmento deve se recuperar ainda mais em 2023. “As viagens corporativas devem recuperar entre 10% e 15% frente ao resultado de 2019. Considerando que a economia não tenha nenhum salto, como supervalorização da moeda ou inflação elevada, acredito que teremos um ano positivo”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Rob Wilson/Unsplash

(**) Crédito da foto: Divulgação/IHG Hotels & Resorts