A recuperação do setor de viagens corporativas ainda está um pouco mais distante do que o esperado. Segundo estudo da Deloitte, os gastos mundiais no segmento devem atingir 36% dos níveis de 2019 no segundo trimestre de 2022 e, até o final do ano, 55%. Mesmo em 2023, a expectativa de recuperação é de 68% frente ao patamar pré-pandemia.

Entre os principais fatores que impactam a retomada do setor estão o surgimento de variantes da Covid-19, restrições de viagens, custos mais altos por conta de protocolos de saúde, inflação e preço dos combustíveis no setor aéreo, que afetam toda a cadeia. Segundo Gervasio Tanabe, presidente da Abracorp (Associação Brasileira das Agências de Viagens Corporativas), a expectativa de recuperação no Brasil é mais positiva.

“O mercado pode até não ter retornado completamente, mas está com tendência para tal. Em março, ficamos apenas 2,4% abaixo do volume de viagens registrado no mesmo mês de 2019, faturando R$ 869 milhões”, conta Tanabe. “Uma das principais contribuições para esse bom desempenho é o segmento de eventos, que está a todo vapor”, acrescenta.

“Não é à toa que grande parte dos hotéis estão verificando uma enorme ocupação de eventos. Somado ao daily business, fica evidente que as viagens corporativas estão em tendência de retomada completa. O que ainda não conseguimos afirmar com exatidão é se o comportamento dos viajantes teve alteração”, continua o executivo.

Mudanças de comportamento

Segundo o levantamento da Deloitte, a expectativa de recuperação varia de acordo com o modelo de trabalho. Entre as empresas que usam modelo remoto, 36% esperam que as viagens corporativas só retornem ao patamar de 2019 no final de 2023. Em contrapartida, 71% das companhias que já retornaram ao presencial estimam que já no final deste ano alcançam os valores pré-pandemia.

Viagens corporativas - retomada e estudo Deloitte _ Gervasio Tanabe

Tanabe: redução de custo está na frente da pegada de carbono

Para a Abracorp, no Brasil, o modelo de trabalho não impacta diretamente no volume de viagens corporativas. “As principais empresas e áreas que fazem trabalho remoto, como empresas de tecnologia e equipes comerciais, já não realizavam muitas viagens antes”, alega Tanabe.

“O que acontecia durante o auge da pandemia é que a maioria das empresas estava em trabalho remoto. Deste modo, não adiantava realizar viagens corporativas ou mesmo ir aos escritórios, visto que tanto colaboradores, como clientes estavam em isolamento. Hoje, isso não representa mais o cenário”, complementa.

Ainda de acordo com o relatório, muitas companhias perceberam que o declínio nas viagens corporativas durante a pandemia as ajudou a obter ganhos significativos em relação às suas metas de sustentabilidade e até mesmo a lucratividade. Por este motivo, muitas dessas empresas estão avaliando os gastos e as emissões de carbono envolvidos, bem como a capacidade tecnológica de substituir o presencial pelo online, fazendo uma avaliação mais criteriosa sobre as viagens que os funcionários devem fazer.

Para Tanabe, a maior preocupação com a pegada de carbono tem pouca relação com a retomada do setor. Segundo ele, o foco maior, ao ser mais criterioso na escolha das viagens, é economizar. “As grandes multinacionais que levaram isso em consideração para reduzir as viagens estão perdendo espaço para PMEs, que continuam indo atrás dos clientes. Nada melhor do que um fornecedor que bate à porta em vez de te convidar para uma chamada online”, comenta Tanabe.

Ainda assim, Tanabe reitera a preocupação da Abracorp de que as empresas sigam a agenda ESG, principalmente do ponto de vista do social e governança. “Os fornecedores da cadeia de turismo foram extremamente impactados pela crise. É importante que os clientes entendam a situação e tenham melhores práticas de governança.”

Retomada plena e os hotéis

Outra mudança de comportamento verificada é o baixo uso de hospedagens alternativas por viagens corporativas. “Ainda que antes da pandemia a prática já não fosse comum, a crise sanitária aumentou a preocupação das empresas quanto aos protocolos de saúde. É bem possível que, em questão de credibilidade e respeito aos protocolos, a preferência tenha ido para hotéis, em especial grandes redes”, opina Tanabe.

Quanto às perspectivas para o setor de viagens corporativas, o presidente da entidade está bastante positivo. “Para o futuro, é esperado maior adequação de mercado quanto às mudanças de comportamento. Com isso, acreditamos que a médio prazo a movimentação retorne aos níveis pré pandemia”, prevê.

“Apesar da redução da participação de alguns segmentos, outros ampliaram bastante, principalmente os de infraestrutura, por conta das oportunidades criadas pelas recentes privatizações”, finaliza Tanabe.