Natal e pelo menos outras 20 cidades do Rio Grande do Norte estão, desde a última terça-feira (14), sofrendo com ataques de uma facção criminosa, o que vem causando pânico na população e preocupação em diversos setores da economia. De acordo com a Folha de S. Paulo, o ocorrido deixou o turismo do estado em alerta. Para entender melhor a situação no estado nordestino, a reportagem do Hotelier News entrou em contato com empreendimentos hoteleiros da região para tratar sobre os possíveis impactos das ações nas demandas do segmento.

Até então, os ataques se concentraram em veículos, principalmente ônibus, prédios públicos, bancos e lojas. De acordo com a Folha, a polícia prendeu 39 pessoas e pelo menos dois suspeitos morreram. Ontem (15), o governo federal enviou 220 homens da Força Nacional de Segurança para reforçar o patrulhamento das ruas. Hoje (16), alguns hotéis alegaram que a situação já está retornando à normalidade, sem considerável prejuízo aos empreendimentos da capital, como é o caso do Serhs Natal Grand Hotel e ibis Natal.

“Até o momento, o último pronunciamento da governadora do estado foi que a situação já está sob controle. Os ataques da facção criminosa buscam atingir os governantes e não a população, os turistas e os empreendimentos”, informa o recepcionista do Wish Hotel Natal. “Estamos com apoio da força nacional que está atuando na cidade e o hotel tem recebido três visitas por dia da polícia para garantir que está tudo certo no empreendimento”, acrescenta.

Para Judson, recepcionista da Pousada da Terra, a região está tranquila, em especial nas áreas turísticas da cidade, incluindo as praias, restaurantes, comércio e outros empreendimentos. “Os incidentes estão se concentrando nas regiões periféricas da capital, com ataques em ônibus e afins. O máximo de transtorno aos turistas é que a maioria dos empreendimentos estão encerrando seus horários um pouco mais cedo do que o normal”, relata.

Já para Kalil, recepcionista do Hotel Itália Beach, a informação atual é de que não há mais ônibus circulando na capital do estado. “Além disso, alguns estabelecimentos estão fechados temporariamente, por conta da baixa movimentação na cidade. No entanto, essas notícias são de hoje e não podemos prever o que irá acontecer nos próximos dias”, pondera.

A Abav-RN (Associação Brasileira de Agências de Viagens do Rio Grande do Norte), por sua vez, informou que houve adiamento de viagens e queda nos atendimentos presenciais. “Esses ataques afetam tanto pessoas que estão chegando a Natal nesses dias, quanto o potiguar que está saindo. Todo mundo ficou sabendo desses ataques, então as pessoas estão adiando as viagens”, alega Michele Pereira, presidente da entidade.

Segundo ela, o pico do clima de tensão aconteceu na madrugada da última quarta-feira (15). No entanto, Michele pontua que a expectativa do setor é de volta à normalidade nos próximos dias. “Não perdemos vendas porque temos condições de dar continuidade ao atendimento fora do presencial. Esperamos que seja uma situação pontual e as coisas voltem ao normal”, finaliza Pereira.

Contexto

A polícia alega que a onda de ataques no estado é devido a transferência de um líder de uma facção criminosa para o presídio federal de Mossoró, segundo a Folha. Já a matéria do G1, apresenta outras possíveis motivações. Para o secretário de Segurança Pública do RN, os crimes são uma reação a ações policiais que apreenderam drogas e armas nos últimos 15 dias. O secretário Francisco Araújo acredita os crimes foram motivados por exigências de “regalias”, como aparelhos de televisão e visitas íntimas para detentos.

As razões apresentadas conflitam com as avaliações de especialistas, como a antropóloga Juliana Melo, professora na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e Bárbara Coloniese, perita do MNPCT (Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura). “Quanto piores as condições do sistema prisional, maior a violência aqui fora”, relata Juliana, que acompanhou de perto a rebelião na Penitenciária Estadual de Alcaçuz e seus desdobramentos.

“No Rio Grande do Norte, o sistema prisional funciona a partir da prática sistemática de torturas físicas e psicológicas”, afirma Bárbara. “Trata-se de uma engrenagem de falta de alimentação, desassistência em saúde e superlotação”, finaliza.

(*) Crédito da foto: Pedro Trindade/Inter TV Cabugi