O segundo momento do Hotel Trends: Budget 2023 contou com duas mini sessions, que trouxeram olhares sobre preço, demanda e tendências para o segmento de resorts. Ricardo Souza, gerente de Desenvolvimento de Negócios da OTA Insight compôs o primeiro painel ao lado de Paulo Mélega, vice-presidente de Operações da Atrio Hotel Management e Verena Bogéa, gerente geral do Grand Mercure SP Itaim Bibi.

A sessão abordou o panorama geral de praças como São Paulo e Rio de Janeiro, que balizam as tendências para os demais mercados nacionais. “O tema do evento é muito relevante e no momento certo. Estamos acostumados a trabalhar o budget em cenários incertos e temos que focar nos dados”, ressalta Souza.

Começando pela capital paulista, o gerente da OTA Insight aponta que o volume de voos para São Paulo está em constante evolução, atualmente chegando a cinco vezes dos níveis de março de 2019. Com base nos dados da GDS Hotel Search, as buscas por hotéis last minute. “Cerca de 35% das buscas em outubro de 2021 era de zero a sete dias, indicador que vem caindo com consistência. Entretanto, o preço do aéreo faz com que as pessoas se programem com mais antecedência”.

Mudanças de perfil do viajante, com incremento do share de lazer, trouxe transformações na distribuição da demanda da cidade. “Não vejo a hotelaria elaborar o budget de acordo com os segmentos que cada hotel atrai. O corporativo não é um segmento genérico e o trabalho precisa ser mais aprofundado nesse aspecto”, pontua Souza.

Para os próximos 120 dias, São Paulo tende a vivenciar um aumento no volume de voos, de buscas por hotéis e acomodações alternativas. “A capital apresenta um aumento de 120% na média de preços para os próximos 120 dias quando comparado com 90 dias atrás. Destaque para o período da Fórmula 1”, diz o gerente.

Rio de Janeiro

A Cidade Maravilhosa trabalha com algumas particularidades. A retomada da capital fluminense foi mais lenta, mas segue em crescimento acelerado desde o fim de 2021. “O Rio está em evolução constante, após uma barrigada de volume, altamente impactado pela falta da demanda internacional, mas com boa recuperação em alguns picos”, explica Souza.

As buscas por hotéis estão na média de 90 dias — o que representa cerca de 40% da procura, com destaque para o período do Carnaval. Outro ponto interessante é a demanda concentrada na Zona Sul, em bairros como Ipanema, Leblon e Copacabana.

“O Rio de Janeiro sustentou melhor seus preços médios, logo, conseguiu se recuperar com mais antecedência frente a 2019. Para os próximos 142 dias, a cidade apresenta aumento de 14% na média de preços frente aos 90 dias anteriores, com destaque para o período do Rock in Rio”, salienta Souza.

Outras praças como Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre e Campinas também foram monitoradas, com retomada de demanda consistente. Contudo, a capital mineira se destaca neste aspecto, enquanto a cidade paranaense aponta evolução mais baixa.

Souza ressalta que os dados sinalizam alguns pontos de atenção na construção do budget de 2023. O ambiente inflacionário global reduz a sensibilidade ao repasse de preços. Em geral, a demanda de todas as praças está em viés de crescimento, enquanto a reposição de preços nominais segue em andamento.

“O B2C enxerga e entende que o hotel vai cobrar a mais. Entretanto, quando montamos a experiência de compra, a hospedagem é a parte menos importante nas viagens hoje. É muito mais fácil que o consumidor pague mais caro por uma passagem aérea”, diz Souza.

hotel trends - mini session

Verena e Mélega contribuíram com questionamentos

Dados e expectativas

Verena Bogéa trouxe questionamentos ao Hotel Trends: Budget 2023 sobre o compartilhamento de dados entre players, prática comum no setor. Algumas empresas estão prevendo uma paralisação dessas ações, que são altamente relevantes para a construção dos orçamentos.

“O compartilhamento de dados é uma tendência global, mas o que está em jogo é a forma como isso acontece e como fazer com segurança. Precisamos entender como a tecnologia pode nos ajudar. Outro ponto é a mentalidade, pois acredito que informações sobre intenção de compra e projeções futuras são muito mais relevantes do que dados retroativos”, responde o gerente da OTA Insight.

Paulo Mélega revelou alguns indicadores da Atrio durante o Hotel Trends: Budget 2023, que hoje conta com 73 unidades em seu portfólio. A operadora, entre janeiro e julho de 2022, registrou ocupação 5% acima de 2019, 14% em diária média e 19% em RevPar, na mesma base de comparação. O executivo incentivou o debate sobre quais as estimativas de orçamento para o próximo ano e quais pontos deverão ser priorizados.

“Vai partir do aumento de diária. Não podemos esperar crescimentos exponenciais de ocupação. Estamos na fase de equilibrar a demanda do corporativo, que está em avanço, com a redução do lazer”, completa Souza.


Resorts seguem como protagonistas da retomada

Dando continuidade à programação do Hotel Trends: Budget 2023, Patricia Zulato, country manager do STR para o Brasil, comandou o debate sobre tendências para o segmento de lazer, com foco nos resorts. Empreendimentos desse perfil lideraram a retomada hoteleira, uma vez que os turistas buscaram com afinco propriedades próximas às grandes capitais para sair do isolamento social.

Pedro Cypriano, especialista em investimentos hoteleiros, e Alessandra Nascimento, gerente de Negócios da JLL, interagiram com a executiva durante o painel, trazendo dúvidas e questionamentos sobre as perspectivas para o segmento em questão.

O STR conta com 844 empreendimentos em sua base no Brasil, sendo 39 deles resorts. Em um paralelo entre o primeiro semestre de 2022 e 2019, a ocupação mundial está 80% recuperada, com destaque para as Américas (90%).

O Brasil e os EUA andam lado a lado na retomada, com performances e comportamentos de mercado semelhantes. “Diária média é um cenário mais animador, em recuperação no globo todo, com exceção da Ásia. A demanda norte-americana está voltando à normalidade de forma gradativa, com dados até junho de 2022 com queda de 2% frente a 2019 e grandes expectativas para o segmento de grupos no segundo semestre”, diz Patricia.

Dentro de casa, empreendimentos de luxo e upper upscale sentiram os maiores baques da reabertura de fronteiras, com desaceleração na ocupação. “As diárias dos hotéis de luxo estão sentindo mais, enquanto as outras categorias estão em tração. Destinos que mesclam lazer e corporativo já estão superando os níveis de 2019”, pontua a executiva.

No comparativo entre Rio de Janeiro e São Paulo, a capital paulista já superou 2019 em ocupação aos finais de semana. Na Cidade Maravilhosa, os fins de semana superaram os níveis pré-pandêmicos no início do ano e, durante a semana, em julho, impulsionada pelas férias. A diária média em São Paulo durante a semana está 5% abaixo de 2019, com fins de semana recuperando os patamares pré-pandêmicos.

Hotel Trends - patricia

Resorts do interior ganharam destaque, aponta Patricia

Pulverização dos resorts

Para Patricia, os resorts seguem como protagonistas da retomada, com incremento de 20% em diária média frente a 2019, além de ocupação recuperada, com diferença de apenas 10% entre fins de semana e dias de semana.

“Boa parte dos resorts de litoral estão no Nordeste, enquanto os empreendimentos do interior estão concentrados em Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com queda sentida pela sazonalidade. Propriedades próximas aos grandes centros urbanos passaram a ganhar destaque, com maior absorção de eventos, enquanto o Nordeste sentiu essa desaceleração pela distância com o mercado emissor”, acrescenta Patricia.

Para o futuro, o executivo acredita que a inflação global seguirá como um problema para as decisões de viagens futuras, com a recuperação de diária média liderando sobre a ocupação. Cypriano questionou de que forma o indicador se comporta de acordo com o perfil dos resorts. “Empreendimentos do litoral no Nordeste estão mais afetados pela sazonalidade. Agora, começamos a ver o Sudeste ganhando protagonismo”, esclarece Patricia.

Alessandra finalizou o painel  do Hotel Trends: Budget 2023 com dúvidas sobre a relação entre crescimento e diária média. “Haverá uma readequação de diária média. O avanço das categorias de luxo foram expressivas, então acredito que essa diária não será sustentável a longo prazo e será diluída por outros mercados”, finaliza a executiva do STR.

(*) Crédito das fotos: Bruno Churuska/Hotelier News