Nascido em Belo Horizonte e criado em Sabará (MG), foi no Rio de Janeiro que Vinicius Santos escolheu a confeitaria — ou foi escolhido por ela. O chef confeiteiro conquistou, recentemente, o Prêmio Gastronomia Preta, onde concorreu com uma tartalete de chocolate com laranja, mistura que tem muita história.

Antes de chegar no capítulo mais recente da vida do chef, é preciso voltar no tempo. “Quando tinha 14 anos, eu e a minha família saímos de Minas Gerais para morar no Rio. Sempre tive a imagem daquela cidade que mostravam nas novelas, com paisagens bonitas e a praia. Então, fiquei muito animado”, conta, em entrevista exclusiva para a reportagem do Hotelier News.

Alguns anos depois de chegar às terras cariocas, quando ainda estava na escola, ele conheceu Maísa, que viria a ser sua esposa. “Apaixonei-me por ela. Nós éramos jovens, não tínhamos muito dinheiro e, mesmo assim, decidimos morar juntos”. Essa escolha, que à primeira vista parece complexa e arriscada, foi a primeira peça a se encaixar no quebra-cabeças que levou Vinicius Santos para a confeitaria e para o Hilton Copacabana.

Trajetória profissional

Inicialmente como steward, o profissional entrou no corpo de colaboradores do empreendimento quando o mesmo ainda não havia sido convertido pela Hilton. “Para ter uma renda extra, decidi aprender a fazer bombons. Aprendi a fazer com o meu primo e levei para o hotel, negociando para os meus colegas. Nesta, o Hernani Silva, que era o chef na época, gostou muito. Foi aí que tudo começou”, relembra.

Na época, Santos cursava Contabilidade em uma faculdade particular, com 100% de bolsa. “Detestava o curso! Quando tive a oportunidade de fazer outra coisa, e ainda ter uma profissão, agarrei com unhas e dentes”. E, de fato, não largou mais.

Desde então, Santos apostou na especialização e, entre as capacitações que concluiu, estão o Curso de Manipulação de Alimentos – Manipulação de Alimentos e Boas Práticas Alimentares e o Curso de Técnicas de Chocolate. O profissional também se dedicou ao aprendizado intensivo de técnicas de trabalho com chocolate e decorações. “Todas as minhas formações foram viabilizadas pela Hilton. Aqui, já estive à frente de 5 buffets natalinos e de Réveillon como confeiteiro e supervisor”, relembra.

Quando se inscreveu para a premiação, o profissional passou um bom tempo pensando em qual prato apresentaria aos jurados. “Estava escolhendo a sobremesa para o concurso e relembrei do meu pai devorando laranjas daquele cheiro no ar. A infusão dessa fruta com chocolate foi uma das primeiras que aprendi a fazer no hotel, e senti que precisava usar ela.”

 

 

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Santos: uma pitada de afeto nos pratos

Para o profissional, o que diferencia as suas sobremesas é o afeto dedicado à cada prato. “A confeitaria é uma oportunidade de trazer uma boa experiência para as pessoas, um quentinho no coração. Primeiro tem a entrada, aí o prato principal e, por fim, a sobremesa, que fecha o ciclo, traz sorriso, brilho no olho, principalmente das crianças”, declara.

O confeiteiro relata sua experiência em outro aspecto importante: a representatividade. “Uma grande referência para mim é o chef Paulo Rocha. Agora, è fato que a posição que ocupo hoje é ocupada, tradicionalmente, por profissionais brancos”.

Santos cita que, por vezes, sente que as pessoas se surpreendem ao descobrir que o supervisor de Confeitaria do Hilton Copacabana é um homem negro. “A confeitaria é elitizada, os cursos e formações são sempre muito caros. Então, é uma profissão de difícil acesso”, pondera.

“Por outro lado, a Hilton abraçou a questão racial. Por isso, sinto-me tranquilo internamente em relação a isso”, afirma.

A pessoa por trás da sobremesa

Pai de um bebê chamado Danilo, Santos diz que o seu passatempo preferido é ficar ao lado da família. “Trabalhar em hotel é puxado, a escala é cansativa. Então, todo tempo livre que tenho, aproveito ao lado deles”.

“Outra pessoa que foi essencial para chegar até aqui foi a minha irmã, Viviane. Ela que me ensinou o valor de honrar as minhas raízes, os meus pais, até me obrigava a ajudar em casa, com a limpeza, quando era mais novo”, relembra.

O profissional também se aventura cozinhando pratos quentes. “Tem uma frase que diz que ‘um bom confeiteiro é um excelente cozinheiro’, e concordo plenamente! O que mais gosto na cozinha quente são as massas”, revela.

Santos deixa claro que a confeitaria é mais que um trabalho, é parte de quem ele é. “A confeitaria é quase tudo. Só não é mais por causa da minha família, mas é quase tudo”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Gabriela da Rocha Alta/Divulgação

(**) Crédito da foto: Alexandre Landau/Divulgação