Com suas muitas conexões pelo Brasil e, principalmente, em Brasília, Manoel Linhares é atualmente uma das figuras mais marcantes da hotelaria brasileira. À frente da ABIH Nacional, que celebrou seu 85º aniversário neste ano, o executivo tem atuação forte, articulando diversas ações em prol do setor.

Linhares possui uma trajetória de 23 anos dedicados ao segmento de hospedagem. Além de comandar a ABIH Nacional, o empresário e empreendedor cearense também ocupa a presidência do SindHotéis-CE (Sindicato dos Hotéis e Similares do Ceará), além de fazer parte da diretoria da ABIH-CE (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Ceará).

Na sessão de hoje (28), o executivo conversa com a reportagem do Hotelier News sobre estratégias e ações adotadas para fortalecer o turismo brasileiro.

Três perguntas para: Manoel Linhares

Hotelier News: O senhor tem mencionado a importância de acordos bilaterais para fortalecer o fluxo de turistas entre Brasil e Argentina. A que passo estão as negociações? Deve haver tentativas de acordos com os demais países vizinhos?

Manoel Linhares: O intercâmbio turístico entre os dois países é bastante tradicional e os números mostram a importância dessa relação comercial. Em 2019, antes da pandemia, o Brasil recebia quase 2 milhões de turistas argentinos por ano, cerca de 31% do total de estrangeiros que chegavam ao país, o que confirma nossos vizinhos como os principais emissores de viajantes para nossos destinos, principalmente, Santa Catarina, Rio de Janeiro e os estados do Nordeste. Em contrapartida, dados do mesmo período apontam que mais de 1,8 milhão de brasileiros visitaram a Argentina, o que nos coloca também em primeiro lugar no ranking de chegadas no país vizinho.

Nossa proposta – que precisa ser negociada entre as autoridades brasileiras e argentinas – é que passemos a considerar o fluxo entre os dois países como turismo doméstico, incorporando todos os benefícios e facilidades que ele traz, sem deixar, enquanto as autoridades médicas e sanitárias orientarem, de tomar todas as precauções para atender as exigências relacionadas à saúde da população.

Nossa prioridade, num primeiro momento, são os turistas argentinos, e a razão é muito simples e demonstrada pelos números que apresentam um intercâmbio turístico fundamental para a economia de ambos países. Mas, sem dúvida, seria importante fazer o mesmo tipo de acordo com outros países vizinhos que também apresentam índices relevantes no intercâmbio turístico com o Brasil.

HN: Em algumas falas, o senhor afirmou que o turismo brasileiro precisa encontrar caminhos para uma retomada segura. Quais são esses caminhos e quais os principais obstáculos a serem enfrentados?

ML: Em primeiro lugar, quero destacar e agradecer o trabalho do deputado Otávio Leite (PSDB/RJ) pela aprovação, no dia 1º de dezembro, do Projeto de Lei nº 2380/21 do Fungetur (Fundo Geral do Turismo), que estabelece uma linha de crédito destinada a financiar empresas do setor. Ele será fundamental nesse momento de retomada das atividades para que os empreendedores tenham fôlego para realizar os investimentos necessários para atender uma demanda que tende a aumentar daqui para frente.

Para enfrentar a crise que o setor vem passando por ter ficado praticamente paralisado, com índices de ocupação próximos de zero, durante a pandemia, temos proposto também que a hotelaria seja incluída entre os 17 setores que foram beneficiados com a extensão por mais 2 anos da desoneração da folha de pagamento, uma vez que a atividade gera 7,2 milhões de empregos, a metade das vagas abertas pelos 17 setores beneficiados juntos, sendo muitas vezes a principal e, muitas vezes, a única atividade econômica de pequenas cidades pelo país.

Outro ponto que temos ressaltado é a importância da regulação das plataformas on-line de aluguel de unidades residenciais. É sempre importante destacar a competição desleal a que são expostos os hotéis diante dessa modalidade de locação, que é isenta de diversas despesas e documentos, como alvarás, licenças e licenciamentos, além de não receber nenhum tipo de fiscalização a que os meios de hospedagem legalizados estão sujeitos constantemente.

A médio e longo prazos, o turismo brasileiro precisa de leis e atualizações legislativas constantes que tenham como foco estimular o setor. Entre elas, a mais importante, seria a nova Lei Geral do Turismo, que aguarda votação no Senado e que pode ajudar muito a destravar o setor de turismo brasileiro.

HN: Para o pós-pandemia, quais ações podem ser adotadas no sentido de promover o destino Brasil internacionalmente e garantir maior injeção de receita por parte dos turistas estrangeiros?

ML: Nosso país é um destino turístico com imenso potencial ainda a ser explorado. Temos uma diversidade muito grande de atrações para todo tipo de turista. No Brasil, temos opções de turismo cultural, de natureza, urbano, praia, montanha, floresta, enfim, são muitas cidades, desde pequenos vilarejos a grandes centros urbanos, que proporcionam a quem nos visita uma experiência diversificada e única no mundo. O que precisamos são medidas que atraiam o viajante internacional, como os acordos bilaterais e a liberação de créditos para o setor, além de investimentos em divulgação para que, quando o turismo internacional retomar com mais intensidade, possamos finalmente colocar o Brasil entre os principais destinos turísticos do mundo.

(*) Crédito da foto: Arquivo HN