Em função do fluxo de caixa forte, margens de lucro volumosas e maior resiliência, o segmento econômico vem atraindo cada vez mais investidores e desenvolvedores hoteleiros, principalmente no pós-pandemia. Ainda assim, a Marriott International, que conta com mais de 30 marcas em seu portfólio, e é líder em número de quartos entre as gigantes hoteleiras, continua evitando desenvolver empreendimentos da categoria, informa o portal Hotel Management.

“Temos sido conspícuos ​​por nossa ausência no setor, mas vemos valor nisso”, afirma Paul Thomas, vice-presidente de Desenvolvimento Internacional da Marriott. “Só não espere que uma nova bandeira seja plantada lá”, continua. Segundo ele, o foco da empresa está nas marcas europeias de médio porte, como Moxy e Fairfield. “São marcas que podem representar um aspecto do segmento econômico, se aproximando de produtos como Holiday Inn Express e Premier Inn”, complementa.

Mesmo com mais de 1,2 mil unidades Fairfield, Thomas indica que há um esforço de expansão ainda maior na Europa, por meio da construção modular, reduzindo o tempo de abertura de dois anos para nove meses. “Com a Fairfield, estamos pegando um produto já bem-sucedido, desconstruindo-o e reconstruindo-o novamente para atender às nuances do mercado local”, explica.

Embora o desenvolvimento da Fairfield se direcione mais para os mercados secundário e terciário, a Moxy estará presente em centros urbanos estratégicos. A marca, lançada em 2014, em Milão, conta hoje com 115 hotéis em operação e 120 no pipeline.

Concorrentes: estratégias divergentes

A estratégia da Marriott contrasta totalmente com sua principal concorrente na Europa, a Accor. Muito conhecida no Brasil por suas unidades econômicas da família ibis, a gigante francesa vem expandindo essas bandeiras em diversas praças do país. Outras redes também concordam com o desempenho operacional positivo dos ativos no mercado econômico, em função do aumento dos clientes mais sensíveis a preços.

“É um modelo de negócios resiliente”, afirma Sean Lowe, CEO da Atlas Hotels, uma das maiores franqueadas do Holiday Inn Express no Reino Unido. “Tivemos que aprender rápido como otimizar o preço quando não estávamos cheios. À medida que o país começou a reabrir, os hotéis de serviço completo e mais caros foram restringidos de algumas ofertas, incluindo lojas de alimentos e bebidas, que causavam compressão e clientes negociando em segmentos mais baixos”, explica.

“Pagamos nossa dívida até o fim e convencemos os stakeholders a continuar investindo”, continua Lowe. A Atlas, subsidiária da London & Regional Properties, adquiriu seis hotéis na Escócia ao longo da pandemia. “Nossos proprietários acreditam neste setor porque podemos manter as margens. Então, a ocupação voltou a disparar e estouramos os orçamentos. Qualquer coisa vagamente de lazer estava cheia muito rapidamente.”

Para Luc Boschmans, diretor Administrativo da Tristan Capital Partners, investir no segmento econômico é apostar na segurança do negócio. “Nossa tese é que o segmento econômico é mais resistente a questões como a recessão. Preferimos possuir orçamento do que ativos na extremidade superior”, reforça.

“Somente para todos” é o slogan da B&B Hotels, mas isso não significa que a experiência se limite a cama e o café da manhã. Ainda assim, se opõe à ideia de investir muito em experiências para além da estada nesse segmento. “Uma armadilha em que os hoteleiros caem é gastar muito dinheiro no térreo e esquecer o quarto de hóspedes”, comenta Kevin Murray, diretor Administrativo de Desenvolvimento da B&B no Reino Unido. “Nosso trabalho é vender o sono. É isso que fazemos”.

A fim de maximizar o espaço, alguns hoteleiros do segmento estão testando quartos sem janelas, que, segundo eles, muitos dos clientes sensíveis a preço não se importam, especialmente se o sono for sua maior prioridade. “Você precisa usar todo o espaço disponível, trata-se de otimização”, avalia Boschmans. Embora Lowe ache interessante para os gerentes de receitas, Thomas, da Marriott, não gostou da ideia, especialmente no que ele chamou de construções subterrâneas no centro da cidade.

Enquanto as concorrentes seguem seus planos de abraçar todos os perfis de clientes, navegando por diferentes categorias, a Marriott aposta em empreendimentos mais elevados para expandir sua presença global. Um exemplo claro é a chegada da bandeira JW a São Paulo, marcando a entrada da rede no segmento de luxo da capital paulista.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Marriott International