Com resultados acima da mediana das estimativas de mercado, o PIB (Produto Interno Bruto) perdeu força no terceiro trimestre de 2023, ainda que tenha registrado variação positiva de 0,1% frente aos três meses anteriores. Os dados, divulgados hoje (5) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apontam avanço de 0,6% no setor de serviços ante o trimestre anterior.

Analistas do mercado financeiro projetavam baixa de 0,3% no terceiro trimestre de 2023, o que mostra que o resultado, mesmo que minguado, ainda sim é positivo. A desaceleração chega após a atividade econômica registrar um desempenho superior ao esperado no primeiro semestre do ano.

A variação de 0,1% consolida a terceira taxa positiva consecutiva para o PIB brasileiro. Desta forma, o indicador retorna ao maior patamar da série histórica, que acumula dados desde 1996, operando 7,2% acima dos níveis pré-pandêmicos do quatro trimestre de 2019.

Componentes econômicos

De julho a setembro de 2023, o Brasil ainda registrou sinais positivos no mercado de trabalho, segundo dados do IBGE. A geração de vagas de emprego formal e o aumento da renda média e da massa salarial foram vistos por analistas como fatores de estímulo para o consumo de bens e serviços.

Os juros ainda são garantidos em patamar elevado. O BC (Banco Central) iniciou em agosto o ciclo de cortes da taxa básica (Selic), entretanto, analistas alertam que o reflexo dessa medida tende a aparecer com algum atraso na atividade econômica.

Os juros básicos em dois dígitos seguiram dificultando a compra de bens e serviços de maior valor, que são mais dependentes dos financiamentos. Com essa abertura e o fim do impulso da safra agrícola, os analistas passaram a prever perda de fôlego para o PIB do terceiro trimestre.

Sobre a demanda, o consumo das famílias avançou 1,1% no terceiro trimestre de 2023 frente ao segundo. O resultado pode estar ligado aos programas governamentais de transferência de renda e à continuação da melhoria do mercado de trabalho. A inflação mais moderada e o crescimento do crédito também ajudaram o consumo.

O IBGE também informou que os investimentos produtivos na economia brasileira, medidos pelo indicador da FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), caíram 2,5% no terceiro trimestre, na comparação com os três meses imediatamente anteriores.

Serviços segue avançando

Maior empregador do país e detentor de 70% do PIB brasileiro, o setor de serviços manteve desempenho positivo no terceiro trimestre. Houve variação positiva em atividades financeiras (1,3%), imobiliárias (1,3%), informação e comunicação (1,0%), outras atividades de serviços (0,5%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,4%) e comércio (0,3%). Por outro lado, a atividade de transporte, armazenagem e correio recuou 0,9%.

No turismo, dados do InFOHB, relatório desenvolvido pelo FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), também indicam aquecimento no setor hoteleiro, com incremento em seus principais indicadores, como RevPar e diária média (17% e 0,1%, respectivamente) em setembro.

A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) revisou a projeção de crescimento de +2,8% para +3,0% no PIB, em 2023, alavancado pelo consumo das famílias, que avançou 3,5% ante o ano passado, e pelo setor de serviços, que cresceu +3,2%.

Segundo o presidente da Confederação, José Roberto Tadros, o consumo familiar é o principal responsável pelo avanço do PIB pela ótica da demanda no terceiro trimestre (+1,1%). “A crescente massa real de rendimentos do trabalho, juntamente com o início da flexibilização da política monetária, estimulou os gastos dos consumidores finais. Essa foi a maior variação desse agregado das contas nacionais trimestrais”, explicou.

Os avanços mais expressivos do comércio e dos serviços nos últimos meses são justificados pela desaceleração dos índices gerais de preços. O economista da CNC e responsável pela análise, Fabio Bentes, avalia que  os preços médios no comércio (+2,0%) e no setor de serviços (+5,5%) apresentaram variações significativamente inferiores em comparação ao mesmo período do ano passado, que registrou +10,1% e +8,5%, respectivamente. “Sob a ótica da oferta, destaca-se o setor de serviços (+2,4%). Para 2024, a entidade projeta um avanço mais modesto (+1,8% em relação a 2023), por conta da base comparativa mais alta”.

Nas atividades industriais, houve variações positivas das indústrias extrativas (0,1%) e das indústrias de transformação (0,1%). Já a atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos cresceu 3,6%, puxando o resultado do setor, e a construção recuou 3,8%.

Na comparação com o mesmo período de 2022, a agropecuária cresceu 8,8%, principalmente com o desempenho de alguns produtos da lavoura que possuem safra relevante no terceiro trimestre, como milho, cana-de-açúcar, algodão e café, segundo o IBGE.

A indústria registrou alta de 1,0%. Novamente o melhor resultado veio de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (7,3%).

(*) Crédito da foto: Pixabay