Está aí uma pergunta difícil de responder de bate-pronto. Em 2020, na primeira onda, havia muitas dúvidas, desconhecimento sobre a doença, desesperança, efeito manada e, claro, o medo da morte. Ao mesmo tempo, a hotelaria nacional acabara de encerrar um 2019 positivo, com as propriedades que trabalharam bem com caixas relativamente saudáveis. O ano virou, o otimismo estava renovado, mas a doença se descontrolou, tornando alguns meses mais letais do que trimestre e semestres inteiros. Hotéis e resorts voltaram a fechar, alguns para sempre. Você certamente já tem sua avaliação, mas, na sessão Opinião de hoje (26), convidamos Luciano Lopes, presidente da ABIH-BA, para compartilhar também a dele. Leia até o final!


A pandemia chegou e atingiu os mais diversos setores de forma súbita e assustadora. O turismo foi um dos mais afetados, prejudicando gravemente o desempenho da hotelaria, que interrompeu praticamente todas as atividades na Bahia. Desde então, o segmento vem alertando os governos sobre as dificuldades de manter o funcionamento dos hotéis, em função das restrições no combate à Covid-19.

Essa crise sanitária e humanitária mudou todas as previsões para 2020, já que a expectativa era de um ano de boas apostas para a economia baiana. Nunca poderíamos imaginar que estaríamos vivendo um desequilíbrio econômico dessa dimensão. No período pré-pandemia, saíamos de uma alta estação com bons resultados e isso permitiu aos hotéis enfrentarem a situação inicialmente.

Entretanto, com a segunda onda, já se acumulavam perdas significativas e irreparáveis. A baixa demanda vem se estendendo há mais de um ano e os hotéis já não tinham e não têm mais capital de giro. É indiscutível que a pandemia segue cobrando um duro preço para a hotelaria.

Para se ter uma ideia, o desempenho em Salvador ainda continua baixo. No mês de maio, a taxa média de ocupação foi de 28,69%, enquanto no mesmo período de 2019 alcançou-se quase 50%, embora aponte uma melhora se comparada ao mês de abril, quando o indicador ficou em 20,33%. A gradual retomada ainda é incapaz de cobrir os custos de manutenção.

Essa leve melhora foi verificada tanto para os hotéis voltados para o público de lazer, quanto para os que atendem ao corporativo, ainda que os primeiros tenham tido desempenho ligeiramente superior em função dos hóspedes que buscam o descanso, sobretudo nos finais de semana – período no qual a ocupação cresce até 10 pontos percentuais – e feriados.

Os hotéis abertos têm arcado com prejuízos consideráveis e lutam para equilibrar as contas. O cancelamento do Carnaval, do São João e demais festas tradicionais, inibiram o movimento de viajantes.

 

Luciano Lopes - Opinião_ primeira ou segunda onda

“Para se ter uma ideia, o desempenho em Salvador ainda continua baixo. No mês de maio, a taxa média de ocupação foi de 28,69%, enquanto no mesmo período de 2019 alcançou-se quase 50%, embora aponte uma melhora se comparada ao mês de abril, quando o indicador ficou em 20,33%. A gradual retomada ainda é incapaz de cobrir os custos de manutenção.”

Luciano Lopes, presidente executivo da ABIH-BA

 

Observando a evolução dos passageiros no Aeroporto Internacional de Salvador divulgados pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), tampouco é possível falar em retomada, apesar dos números serem bem melhores do que no ano passado. Em abril de 2021, o total de passageiros (193.913) foi bem superior ao de abril de 2020 (17.141), embora ainda incipiente se comparado com o período pré-pandemia (abril de 2019), com 520.793 passageiros embarcados e desembarcados.

Muitos esperam o reaquecimento dos mercados para voltar a abrir suas portas, mas qualquer cenário depende das vacinas. Considerando que em torno de 50% da população de Salvador já tomou pelo menos a primeira dose da vacina, temos esperanças de que, em breve, possamos ter sempre praias e pontos turísticos abertos, pois as pesquisas mostram que Salvador é um dos destinos mais desejados, principalmente por famílias já cansadas do isolamento.

A hotelaria está preparada para atender a todos com os protocolos de segurança, mas é necessário que as atrações turísticas também estejam disponíveis para completar a rica experiência da visitação.

A ABIH-BA continua buscando intensamente o apoio dos governos e das mais diversas esferas para garantir a sobrevivência econômica do segmento e evitar uma degradação ainda maior do setor.

Conquistamos a isenção e redução de impostos, novas linhas de crédito e a reedição da Medida Provisória 936, permitindo a redução da jornada de trabalho e dos salários para evitar as demissões em massa. Entretanto, o cenário ainda é muito preocupante.

Acredito que a retomada seja lenta e gradual, por isso é melhor pensarmos em sobreviver este ano e mirar a retomada em 2022. Seguimos em frente para a sustentabilidade dos negócios e manutenção dos empregos, dando suporte e atuando nas 13 zonas turísticas do estado da Bahia.

(*) Crédito da capa: fernandozhiminaicela/Pixabay

(**) Crédito da foto: Divulgação/ABIH-BA