Em sua terceira passagem pela CVC Corp, Fabio Godinho assumiu o comando da companhia em 2 de junho. Ele retornou à presidência da empresa com inúmeros desafios. Além dos efeitos negativos da pandemia, a CVC Corp enfrenta problemas de endividamento e, em março deste ano, anunciou acordo com debenturistas para renegociar R$ 900 milhões em débitos, aponta a Folha de São Paulo.

Além disso, a empresa viu suas ações caírem do patamar de R$ 56 no início de 2019 para R$ 38 em janeiro de 2020, e depois desabarem para os atuais R$ 3 desde a turbulência da crise sanitária. Em sua primeira entrevista para falar de suas expectativas à frente do negócio, Godinho falou sobre os planos para recuperar a empresa e criticou a Reforma Tributária aprovada na Câmara, que exclui boa parte do setor de turismo das exceções previstas pelos deputados.

O executivo ressaltou que está otimista com o apoio do governo federal ao turismo, argumentando que os planos da gestão atual estão alinhados ao do setor, que é o de facilitar o acesso para que os brasileiros viajem e gerar novos empregos. “Eu acho que o governo está muito alinhado com o turismo, não só pelos interesses da grande classe média, que tem todo o sonho de tirar férias, mas também pela economia dos polos turísticos que dependem que os turistas cheguem lá”, diz.

“Quem possibilita isso são os intermediários, os agentes de viagem, as operadoras. E quando falamos de turismo, estamos falando de cerca de 13 milhões de empregos diretos”, completa.

Iniciativas

Godinho salienta que sua gestão pretende ampliar a oferta de produtos exclusivos da CVC Corp e continuar facilitando as condições para que os brasileiros consigam viajar. “Hoje, temos produtos oferecidos em dez vezes sem juros, temos um custo financeiro elevado para fazer esse financiamento, mas é isso que possibilita a 15 milhões de pessoas viajarem anualmente só dentro da nossa estrutura”, destaca.

O executivo afirma que a empresa investiu, nos últimos anos, R$ 500 milhões em sistemas, tornando a companhia uma das poucas do mundo com conexão total do mundo digital com as lojas físicas.

Reestruturação

Falando sobre a reestruturação da CVC Corp, Godinho disse que trouxe com ele um time de profissionais com conhecimento não só do setor de turismo, como da própria companhia. “Trago comigo um time de pessoas, que têm amplo conhecimento do setor e da empresa. O mercado de turismo é bastante específico e exige bastante conhecimento, e nós sabemos quem são essas pessoas que têm capacidade de fazer a companhia andar no ritmo que a gente quer, como sempre andou”, analisa.

O novo CEO também citou a volta da família fundadora da CVC Corp para o negócio. “Eu sou apenas uma representação, como presidente, mas também tem todo um grupo comigo, como o Gustavo Paulus, que está voltando como investidor e trazendo a família. Tem também o Valter Patriani que, de alguma forma, estamos organizando um comitê para ele”, diz.

No fim de junho, a companhia divulgou que o conselho de administração aprovou follow on no valor de R$ 549 milhões. Segundo fato relevante, no contexto do acordo de investimento, o GJP Fundo de Investimentos em Ações, que é da família de Paulus, investiu R$ 100 milhões.

Reforma Tributária

Quanto à Reforma, Godinho diz acreditar que o Senado vai alterar o trecho que trata do turismo, algo que já está sendo articulado pelo setor. Em uma mudança de última hora na semana passada, os deputados, atendendo a demandas do turismo, colocaram o setor como um dos que têm acesso a um regime especial, para usufruir de alíquota menor.

Por outro lado, apenas parte do setor – os segmentos hoteleiro, de parques de diversões, bares, restaurantes e companhias aéreas – obtiveram o benefício. As agências de viagem e eventos, por exemplo, e as companhias aéreas que operam rotas mais longas acabaram caindo no regime padrão, com alíquota cheia.

Atualmente, o turismo paga 3,65% de tributos federais referentes a PIS e Cofins, e de 2% a 5% do tributo municipal ISS, que varia de acordo com a cidade. Com a alíquota padrão da Reforma estimada em cerca de 25%, em alguns casos a carga tributária de empresas do setor pode até quadruplicar.

“Não podemos ter esse desalinhamento tributário, que parte do setor entra, e parte do setor não entra na exceção”, diz Godinho.

Demanda aquecida

O novo CEO da CVC Corp diz que a demanda está aquecida, tanto no turismo doméstico, quanto no internacional. Segundo o executivo, no Brasil os cruzeiros vivem forte crescimento. “Quase 30% do mercado interno marítimo já é vendido dentro das lojas da CVC”, pontua.

No turismo internacional, Argentina e Europa são os os principais destinos da empresa. “Argentina, obviamente, pela questão da moeda e pela atratividade. O brasileiro gosta muito de ir para Bariloche e Buenos Aires. A gente praticamente esgotou todos os fretamentos que tínhamos para esses destinos”, comenta.

Com relação à Europa, Godinho conta que a malha aérea já retornou aos níveis de 2019. “O nosso carro-chefe são os circuitos europeus de ônibus, que é uma viagem muito legal e você consegue conhecer vários lugares em uma viagem só, já com translado garantido”, finaliza.

(*) Crédito da foto: Divulgação/CVC Corp