Um dos gargalos que mais impactam o crescimento do turismo, a infraestrutura de mobilidade urbana no Brasil tem um longo caminho a ser percorrido até chegar aos patamares ideais. Segundo um estudo desenvolvido pela CNI ( Confederação Nacional da Indústria), o país precisa desembolsar cerca de R$ 290 bilhões até 2042 para se equiparar a outros destinos que são referência na oferta de transportes urbanos na América Latina.

A Cidade do México (México) e Santiago (Chile) são alguns exemplos de mobilidade urbana a serem seguidos. De acordo com o estudo, o aporte bilionário deveria ser distribuído nas 15 principais regiões metropolitanas do país. Contudo, a falta de financiamento é ainda o maior empecilho para o Brasil avançar.

Dos R$ 295 bilhões estimados para a modernização da mobilidade urbana no país, R$ 271 bilhões precisariam ser destinados para expansão de linhas de metrô. Esse montante equivale ao necessário para mais do que dobrar a extensão da malha vigente. Em seguida, estão os investimentos para ampliação das estruturas de rede de trens (R$15 bilhões) e de BRTs (R$9 bilhões).

Para a modernização acontecer, vale ressaltar que parcerias entre as iniciativas pública e privada são essenciais, além da viabilização de fontes de investimentos, com recursos nacionais e estrangeiros.

A CNI aponta que as evidências apontam que o Brasil não apenas diverge de experiências internacionais de sucesso na mobilidade urbana sustentável, como também deteriorou sua posição de referência na América Latina.

As 15 regiões metropolitanas avaliadas no trabalho são: Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, Goiânia, Belém, Fortaleza, Natal, Salvador, João Pessoa, Maceió, Porto Alegre, Recife e Teresina.

“A urbanização não foi acompanhada por um planejamento voltado à redução das distâncias percorridas pelos cidadãos, para a qual o adensamento das cidades e a melhor distribuição de suas principais funções – moradia, trabalho, serviços e lazer – constituiriam seu alicerce”, diz o estudo.

De acordo com o jornal O Globo, Wagner Cardoso, gerente-executivo de Infraestrutura da CNI, Wagner Cardoso, afirma que um dos caminhos para o país é a junção entre o governo e empresas. “É importante ampliar o número de Parcerias Público-Privadas em um modelo de PPP que agrupe a construção do sistema, da operação e da manutenção, em contratos de concessão de duração relativamente longas, em torno de 30 anos”.

Cardoso salienta ainda que um dos problemas do país é o baixo financiamento em transporte coletivo. “Pode-se afirmar que o país subinveste e subfinancia o transporte coletivo e inversamente privilegia e subsidia o transporte individual motorizado, inclusive na precificação dos combustíveis fósseis utilizados por automóveis e veículos individuais”.

Sustentabilidade

O estudo aponta que o Brasil é o país com a menor parcela de veículos elétricos entre as nações latino-americanas. Santiago e Bogotá (capital da Colômbia) têm três vezes mais ônibus elétricos em operação que em todo território brasileiro.

Outro ponto de destaque do estudo é que 74% dos 116 municípios brasileiros com mais de 250 mil habitantes cumpriram os prazos estipulados pela Lei de Mobilidade Urbana, que estabeleceu que essas cidades elaborassem e aprovassem um PMU (Plano de Mobilidade Urbana) até abril do ano passado.

A mesma lei determinou que todas as cidades com população entre 20 mil e 250 mil pessoas apresentassem um PMU até 12 de abril de 2023.

“O diagnóstico referente às maiores regiões metropolitanas brasileiras é de que as cidades cresceram, foram amplamente urbanizadas, mas os transportes não acompanharam o ritmo de crescimento dessas metrópoles”, diz um trecho do levantamento, que concluiu que o país priorizou o transporte privado.

Transporte individual

O estudo destaca que, em geral, as cidades com maiores níveis de renda têm maior demanda por transporte individual. Isso pode explicar por que em Curitiba 49% das viagens são feitas de carro ou moto, apesar do reconhecido sistema de BRT (Bus Rapid Transit) e de a cidade apresentar uma boa infraestrutura de transportes para os padrões brasileiros.

Já no Rio de Janeiro, a participação dos transportes individuais é de 19,5% e pode estar associada a uma confluência de fatores ligados tanto a um menor nível de renda de amplos setores da população metropolitana, quanto à existência de uma extensa – ainda que precária – rede de transportes na metrópole.

Também chama a atenção o subaproveitamento nas nossas metrópoles da bicicleta como um modal de transportes, que oscila entre 0,8% e 2,4%. Em Santiago a parcela é de 4% e em Bogotá, 7%.

Segundo a pesquisa da CNI, para o setor industrial, um sistema eficiente de mobilidade urbana é relevante em múltiplos sentidos. Afeta o tempo de deslocamento dos trabalhadores, o conforto do usuário, além dos custos diretos envolvidos no movimento casa-trabalho-casa, afeta diretamente a produtividade e os gastos associados ao transporte.

“Esse desgaste diário afeta não apenas a concentração e capacidade do funcionário, mas sua assiduidade e probabilidade de afastamento por doenças. Nesse sentido, a modernização do sistema seria essencial para melhorar a competitividade da indústria, além de estimular a cadeia produtiva voltada ao transporte público de média e alta capacidade”, diz o estudo.

Pandemia

O estudo destaca mudanças significativas nos padrões de deslocamento urbano, com o aumento do trabalho sob a forma de home office e do comércio digital – processo que foi acelerado com a pandemia de Covid-19 –, e o surgimento do transporte por aplicativo.

Nas duas maiores metrópoles brasileiras, por exemplo, a demanda por transportes coletivos ainda se encontra bastante abaixo ao último ano pré-pandemia: em São Paulo, as viagens de metrô e de ônibus em 2022 estão cerca de 25% abaixo dos níveis de 2019; no Rio de Janeiro, a queda da demanda por metrô é de mais de 30% e a de ônibus, da ordem de 15%.

(*) Crédito da foto: Reprodução/ANPTrilhos