A hotelaria foi um dos setores mais afetados pela pandemia de Covid-19, devido às restrições sanitárias. Por outro lado, o momento de retomada, com aumento da demanda, estimula diversos empreendimentos a planejar o orçamento para 2022, a fim de recuperar os prejuízos e elevar a receita.

O Hotelier News conversou com hoteleiros e especialistas com o intuito de entender o panorama do setor e quais fatores devem ser considerados no momento de desenvolver um orçamento.

Nilton Cambé, gerente geral do Marriott São Paulo Airport, afirmou que, no momento atual, a palavra que define a elaboração de um orçamento é prudência. “A ansiedade, aliada ao tempo de espera pela volta dos negócios, pode trazer um certo exagero de positividade na elaboração do orçamento”, ressaltou.

Cambé disse também que é importante analisar a situação por diferentes ângulos para identificar tendências de vários segmentos da economia. Além disso, ele ressaltou quatro pontos fundamentais a serem observados: sensibilidade para identificar mudanças e fazer uma análise detalhada na construção do orçamento; flexibilidade para movimentar recursos e pessoas de acordo com a necessidade operacional; adaptabilidade para aceitar mudanças externas e internas; e comprometimento para executar o planejado em todas as suas etapas.

Quanto à previsibilidade para 2022, o profissional afirmou que continua sendo um fator bastante desafiador, destacando a importância de realizar análises de comportamento e de retorno das atividades nos mercados emissores.

“Volto a mencionar que não devemos nos levar pela ansiedade. Na hotelaria, temos observado com frequência a movimentação que ocorre em outros segmentos da economia e a reação do turismo, tanto de lazer quanto de negócios”, pontuou.

Seguindo o raciocínio de Cambé, mas trazendo uma visão um pouco mais otimista, Celso Valle, diretor do Palácio Tangará, afirma que tudo ainda é pouco claro no setor e que é necessário analisar o histórico de desempenho da hotelaria para elaborar um orçamento.

“O ponto mais importante a ser observado é o desempenho na pandemia. E no nosso caso, ele tem sido excepcional, com exceção dos eventos sociais e corporativos, que deve voltar com força no ano que vem. De 52 sábados no ano, 50 já estão reservados para eventos”, completou.

Quanto a uma eventual terceira onda de Covid-19, ambos concordam que traria menos impactos à hotelaria do que a fase mais crítica da crise sanitária, levando em consideração o aumento do ritmo da vacinação no Brasil.

Tanto Cambé quanto Valle deram dicas para elaborar um bom orçamento, levando em consideração todas as variáveis e cenários possíveis, a fim de garantir um bom desempenho.

“O mais importante é que as expectativas entre os investidores e responsáveis para entregar os resultados estejam muito bem alinhadas. Não dá para ceder à pressão de que tudo tem que acontecer em 2022 e que o retorno financeiro muito baixo ou mesmo o prejuízo acumulado são coisas do passado. O que eu indico é analisar detalhadamente cada segmento de negócio do hotel, considerar o aumento de custos na operação e lembrar que é a equipe que traz os resultados, por isso é fundamental essa atenção aos seus colaboradores. Além disso, é importante prever verbas para ações de relacionamento com clientes, parceiros e comunidade. Por último, é vital alinhar com os investidores os resultados esperados factíveis, visto que o momento ainda é de recuperação”, pontuou Cambé.

Já Valle indicou que é importante analisar sempre o desempenho do empreendimento nos últimos 90 dias, sendo possível assim traçar um panorama para o futuro. “A previsão deriva do desempenho, e por isso é necessária essa observação do desempenho”, finalizou.

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Cambé: setor não pode ir pela ansiedade

Hotelaria: como montar um orçamento?

Roberto Kanter, professor dos MBAs de Marketing e Gestão Comercial da FGV-RJ (Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro) e diretor da Canal Vertical, afirma que o primeiro ponto a ser levado em consideração antes mesmo de começar a elaborar o orçamento são as premissas macroeconômicas.

“O primeiro trabalho que todo gestor tem que fazer é olhar para a frente e ver tudo o que vai acontecer com o mercado. Tem que olhar dólar, taxa de juros, economia, prever um grau de estabilidade econômica e política, para avaliar o quanto as pessoas vão demandar os serviços do setor”, pontuou, ressaltando a importância de considerar também a alta da demanda do turismo de negócios.

Outro ponto destacado por Kanter é a sazonalidade, considerando a localização do empreendimento. “É importante analisar onde o hotel está e se ele é impactado por questões sazonais, ou seja, a mudança de estações. A melhor maneira do hoteleiro analisar isso é olhar para o passado, fazer um levantamento dos últimos anos para poder projetar o futuro e obviamente ele vai ter um panorama das tendências. Se for um empreendimento novo, com pouco histórico, vale a pena conversar com outros hoteleiros da região para entender todo esse cenário”, disse.

De acordo com o professor, projetar a receita também é um passo extremamente importante na hora de montar um orçamento, pois esta projeção também vai indicar a amplitude do investimento que precisa ser feito para entregar os resultados previstos. Além disso, ele ressaltou que é importante equilibrar demanda e mão de obra, para garantir boa ocupação e receita.

“Cada hotel tem seu DNA, mas é importante projetar a receita em todos os segmentos do empreendimento, como os quartos, lazer, restaurante, dentre outros. Realizando este processo, fica mais fácil realizar o controle do orçamento”, finalizou.

(*) Crédito da capa: stevepb/Pixabay

(**) Crédito da foto: Divulgação/Marriott São Paulo Airport