Quando um importante player do turismo entra em crise, uma reação em cadeia acontece. E com os problemas do Hurb (antigo Hotel Urbano) não foi diferente. A tribulação da OTA foi exposta publicamente nos últimos dias, mas os atrasos de pagamentos vêm sendo sentidos pelo setor hoteleiro há dois meses. No caso da hotelaria, empreendimentos de lazer de pequeno porte, com até 40 quartos, foram os mais afetados.

O ápice da crise foi atingido na segunda-feira (24), quando João Ricardo Mendes, até então CEO do Hurb, renunciou ao cargo após a publicação de vídeos debochando e xingando clientes que realizaram reclamações. Em seguida, veio a abertura de um processo administrativo por parte do Ministério da Justiça. E os desdobramentos não param por aí.

Segundo o jornal O Globo, executivos de grandes redes do setor afirmaram que a tendência é que as cadeias mais consolidadas evitem fazer reservas ou fechar negócios com a empresa sem pagamento antecipado. As fontes ainda alertaram que o dano reputacional do Hurb agravou a situação da agência de viagens.

Em entrevista ao veículo de imprensa, Ricardo Roman Jr, presidente da ABIH-SP (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em São Paulo), pontua que, mesmo com as dificuldades financeiras de outros operadores, a crise no Hurb é fruto de problemas internos da companhia.

“É mais uma questão que a empresa teve com recebíveis de cartão de crédito. Para o setor hoteleiro, os atrasos começaram em janeiro e fevereiro. Nossa torcida é que eles consigam se reerguer. Se a empresa precisar de apoio do segmento, dentro do possível, iremos ajudar, mas precisa honrar compromissos. A mudança do CEO é positiva”, afirma Roman Jr.

O presidente da entidade ainda ressalta que os hotéis que fizeram reservas pela OTA precisam atender os clientes e, se for o caso, resolver o problema com a empresa em seguida.

Efeito dominó

Hotéis independentes, de lazer e menor porte fazem parte do nicho de atuação do Hurb. Por se tratar de um segmento pulverizado, Roman Jr estima que a empresa tenha entre 5% e 10% de participação de mercado. Na mesma fatia da indústria, a CVC está entre os maiores operadores, com maior escala e capilaridade.

Amílcar Mielmiczuk, diretor da Verdegente e ex-diretor de desenvolvimento da Blue Tree, afirma que a crise do Hurb causa sobretudo um dano de imagem para o setor, mas não deve ser um grande problema para as redes hoteleiras.

“Médias e grandes redes abrem e fecham rapidamente o canal de vendas em caso de inadimplência de operadores e não devem estar muito preocupadas com isso. É diferente a situação do hotel de lazer de pequeno porte, com até 40 quartos e tíquete médio de diária de até R$ 500, aí pode ser mais complicado se ele for um parceiro desse operador”, diz o executivo.

Um presidente de rede hoteleira com 60 unidades em cinco países, incluindo cinco resorts, explicou que o Hurb é um parceiro antigo, mas pequeno da cadeia. A inadimplência, mesmo assim, existe, ainda que reduzida. O executivo relata que a reação foi não confirmar uma série de reservas, mas diz esperar que a empresa se recupere.

Segundo o executivo, em linhas gerais, o Hurb costuma oferecer pagamento antecipado a hotéis com descontos que podem chegar a 30% em compras feitas antes. Roman Jr explica que esse modelo de negócio é importante para os empreendimentos durante a baixa temporada, pois diminuem a ociosidade da rede.

No mercado em geral, porém, a praxe é que hotéis recebam pagamento dos operadores em 20 ou 30 dias após confirmarem a reserva, sem descontos.

No setor aéreo, um executivo de uma das três grandes linhas aéreas afirma que o Hurb é pequeno em representatividade quando o tema é venda de bilhetes aéreos e que não tem tido, ainda, problemas de pagamento. O executivo descreveu, porém, que as vendas têm sido feitas com pagamento à vista.

(*) Crédito da foto: lidiasilva/Shutterstock