Equipotel: lideranças optam por orçamentos conservadores à espera de um 2024 desafiador

Para finalizar o segundo dia de Hospitality Trends na Equipotel, o Hotelier News convidou duas lideranças de grandes redes, uma nacional e outra internacional. Maria Carolina Pinheiro, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Wyndham para a América Latina, e Alexandre Gehlen, diretor geral da ICH Administração de Hotéis, dividiram o palco com Vinicius Medeiros para o último conteúdo desta terça-feira.

O painel Visão do topo: como as lideranças enxergam 2024 abrangeu as expectativas de c-levels para o ano seguinte, partindo de premissas de demanda, tarifário, segmentos de mercado, entre outros elementos que compõem o cenário hoteleiro.

Medeiros iniciou o debate na Equipotel questionando como estão as performances da rede em 2023 frente ao ano passado. Com 38 empreendimentos no Brasil, a Wyndham vem registrando bons resultados, com destaque para o lazer. Otimista nata, Maria Carolina espera um ano ainda melhor que 2022. “No ano passado, fechamos 49 contratos e iniciamos 2023 partindo desse princípio. As pessoas estão viajando mais e, para nós, os negócios melhoraram muito”.

A vice-presidente da rede norte-americana revelou na Equipotel que o crescimento deve chegar a 20%, com destaque para praças como Gramado e Olímpia. “No Brasil, temos a facilidade de saber que os problemas existem, mas vamos para um 2024 mais positivo”.

Na ICH, Gehlen afirmou que a pandemia levou ao desligamento de 50% de sua folha de pagamento, mas que o Perse e o retorno dos eventos foram pontos cruciais para catalisar a retomada desde março de 2022. “São fatores que mudaram o setor de forma absoluta. Hoje, vivemos um crescimento robusto, ainda que a diária média tenha entrado em um estágio de estagnação, mas ainda em patamares superiores. Nossa expectativa de incremento tarifário é de 14% frente ao ano passado”.

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Painel encerrou a programação do dia

O dilema dos preços

Precificação é sempre um assunto delicado para a hotelaria. Sem a perspectiva de inflação de dois dígitos em 2024, além de tarifas chegando no limite, o crescimento orgânico de diária média é um desafio real para o setor, considerando uma base comparativa robusta em 2022.

“Existe uma preocupação em relação a 2024 no Brasil, mas temos que aumentar. Nossos orçamentos foram mais conservadores em termos de diária média, com crescimento, mas ainda abaixo do orçado em 2023”, disse Maria Carolina. “Esperamos uma alta de 10%, que também será direcionada para engordar os salários das pessoas”, acrescentou a executiva.

Gehlen reforçou a fala da vice-presidente da Wyndham e pontuo que o desenvolvimento orçamentário para 2024 foi menos desafiador do que os anos anteriores, ainda no auge da pandemia. “O pós-pandemia era uma incógnita. Agora estamos nos estruturando, conversando com players. A expectativa é crescer cerca de 8% em RevPar, mas os orçamentos ainda não foram aprovados em conselho”.

O diretor geral da ICH também enfatizou o impacto dos preços das passagens aéreas na demanda hoteleira e o retorno do trabalho presencial por parte de muitas empresas. “Temos que ficar de olho nesse contexto de macroeconomia, logística, etc. Por outro lado, as companhias querem voltar a viajar, visitar clientes e promover interação”.

“No primeiro semestre, crescemos 8% em RevPar e imagino que 2024 o incremento seja entre 8% e 10%. Para o segundo semestre de 2023, prevemos algo em torno de 12%, uma vez que este é um período historicamente mais pujante. Vemos muitas cidades impactadas pelo volume de negócios de viagens”, complementou Gehlen.

Pontos de atenção

Para o ano que vem, os executivos definiram pontos de atenção para o setor hoteleiro. No topo da lista, os c-levels colocaram a retenção de talentos, destacando as iniciativas de suas empresas para agregar valor aos colaboradores para além dos salários.

“Reter nos hotéis é difícil, então a Wyndham desenvolveu um app voltado para gorjetas, o que é algo muito relevante. É uma forma de atrair e manter as pessoas nos hotéis também”, contou Maria Carolina.

“A hotelaria hoje perde pessoas para outros setores. Em algumas cidades, os hotéis competem com a indústria. Engajar o colaborador não se trata apenas de salário, mas de ações. O desafio está na rotina. Lançamos nossa plataforma Educa Mais, para que os funcionários tenham acesso a treinamentos e profissionalizações”, avaliou Gehlen.

Outros fatores listados pelos executivos foram:

  • Vendas;
  • Limpeza;
  • Qualidade;
  • Tecnologia;
  • Recuperação de ativos

“Em 2022 e 2023, tratamos de recuperar o caixa que sangrou durante a pandemia. Agora, estamos dando ênfase na recuperação de nossos ativos. O Brasil está recebendo poucos novos hotéis, o que gera um bom momento para reformas e melhorias para que os hóspedes se sintam em um hotel novo e moderno. Temos incentivado os conselhos a aprovar os orçamentos para essas obras, pois também é uma forma de crescer a diária média de maneira orgânica”, finalizou Gehlen.


Demandas futuras voltarão a subir no 2º semestre

Dando sequência à programação do Hospitality Trends na 60ª edição da Equipotel, Ricardo Souza, team leader da OTA Insight para a América Latina, comandou a palestra Hotel Trends Stats: saiba a demanda futura nas principais cidades do país. O conteúdo traz o segundo estudo desenvolvido pela empresa de business intelligence em parceria com o Hotelier News.

A segunda edição do estudo trimestral estará disponível amanhã (21), na íntegra para download no site do Hotelier News. Enquanto o estudo completo não sai, Souza compartilhou na Equipotel os principais insights para demandas futuras em uma janela de 180 dias nas capitais brasileiras.

Trazendo comparativos de demanda e preço, Souza indicou dados tanto do setor aéreo quanto hoteleiro mapeados nas principais OTAs, sites e metabuscadores dos segmentos. “Quando olhamos para os dados, vemos um primeiro semestre com nível de demanda mais alto até março – que foi um mês excepcional em algumas praças. A partir do segundo trimestre, a demanda se estabilizou com níveis mais baixos”.

De acordo com o estudo, as principais praças prometem boas demandas nos próximos meses. “Até o momento, a demanda era maior no primeiro semestre, mas ela volta a crescer agora. Para a hotelaria, o segundo semestre é historicamente mais forte que o primeiro”, pontuou Souza.

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Medeiros e Souza debateram os dados do estudo

Precificação e antecedência de compra

Com dados de preços públicos de 2023 e 2022, o executivo da OTA Insight destacou que a maioria das cidades analisadas seguem sua jornada de crescimento de tarifas em relação ao ano passado. Sobre a demanda, as capitais variam em saltos entre 10% e 18% na mesma base comparativa.

A antecedência de compra dos mercados monitorados mostra volume de preços, com oportunidades de descontos mais agressivos para janelas de 120 dias. “Entendam as estratégias de vocês, se o preço é o mesmo com 120 dias de antecedência, pois esta é uma janela de oportunidades”, avaliou Souza, que ainda ressaltou que poucos hotéis também oferecem benefícios e diferenciais para reservas de mais de duas noites.

“Segundo a Booking, mais de 70% dos hotéis de Belo Horizonte trabalham com descontos mobile. Outros mercados também têm essa possibilidade, pois as vendas por dispositivos móveis incentivam a demanda doméstica e reservas last minute”, explicou o executivo.

Outro braço de oportunidades são as tarifas não reembolsáveis, pouco praticadas pela hotelaria, uma vez que o consumidor atual pede por maior flexibilidade. “A pandemia gerou esse receio, mas é possível trabalhar as duas frentes. Você pode trocar uma tarifa não reembolsável por descontos, pois ela garante ocupação e previsão de receita”, disse Souza.

São Paulo

Durante sua palestra na Equipotel, Souza compartilhou dados individuais de algumas das principais capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro. Na capital paulista, setembro ganhou proporções atípicas devido à realização do The Town entre outras feiras e eventos de médio porte. Para os próximos meses, as projeções são otimistas, impulsionadas pelos shows da Taylor Swift e Fórmula 1.

“Maximizar preços impacta na diária média do mês e até mesmo do trimestre. A alta no primeiro trimestre de São Paulo foi catalisada pela tarifa explosiva de março, período de grandes eventos na capital”, pontuou Souza.

Para a Fórmula 1, 50% dos hotéis paulistanos já estão lotados, enquanto as apresentações da cantora Taylor Swift movimentaram o mercado para 35% de ocupação até o momento, mas a previsão é que esse número seja muito maior. “No período da Fórmula 1, os preços ainda são semelhantes a 2022, mas as tarifas estão decolando no final de setembro e outubro”.

Rio de Janeiro

Já a Cidade Maravilhosa aponta para os meses de setembro e outubro em ritmo mais lento, com ganho de tração em novembro. “Assim como São Paulo, os shows da Taylor Swift ajudam, além de feriados e eventos na primeira quinzena do mês, que é bem promissora. A boa notícia mesmo vem na alta temporada, com Natal e Ano Novo dando sinais de demanda mais altos que em 2022”, adiantou Souza.

O especialista afirmou que a procura por voos e hotéis para o verão já ultrapassam os indicadores de setembro do ano passado — o que indica uma alta temporada movimentada na capital fluminense. “Janeiro de 2023 foi excelente para a hotelaria carioca e 2024 a demanda seguirá forte”.

Para o Ano Novo, cerca de 80% dos hotéis do Rio de Janeiro já estão com restrições de reservas. “E esse número deve subir no Carnaval. Comparado a São Paulo, o Rio pode parecer com preços muito abaixo, mas a capital paulista foi muito forte em sua escalada”, finalizou o palestrante da Equipotel.


Perspectivas para 2024 são otimistas para o setor hoteleiro

Ontem (19), o Hotelier News deu a largada na programação do Hospitality Trends — espaço dedicado a conteúdos exclusivos para o setor hoteleiro. Hoje (20), a grade de palestras e painéis continua, trazendo temas de teor financeiro, previsibilidade de mercado e visão das lideranças sobre cenários futuros.

Os conteúdos desta quarta-feira  da Equipotel foram abertos por Pedro Cypriano, CEO da Noctua Advisory, que comandou a palestra Orçamentos 2024: qual o grau de otimismo da hotelaria?, ao lado do mediador Vinicius Medeiros, editor-chefe e sócio do Hotelier News.

Medeiros deu as boas-vindas aos presentes na Equipotel e relembrou que o conteúdo apresentado por Cypriano foi compartilhado durante o Hotel Trends Orçamentos, realizado pelo Hotelier News e Noctua Advisory em agosto. “Este é um termômetro para 2024, com um estudo de orçamentos pensado para medir as perspectivas para o próximo ano”.

Cypriano iniciou a palestra com dados e previsões para a hotelaria em 2024, com base em informações do passado e presente. Vislumbrando o horizonte do setor, o fundador da Noctua abordou como desenvolver orçamentos assertivos.

Como pano de fundo, Cypriano destacou os impactos gerados pela pandemia e suas consequências para a hotelaria de hoje, que segue se recuperando da crise. A pesquisa contou com a colaboração de 363 hotéis, 34 resorts, 11 multipropriedades e timeshare, localizados em 23 estados e 148 cidades.

No panorama global, as informações sinalizam que o aéreo voltou aos patamares pré-pandêmicos, com 5% acima de 2019 em termos de demanda. Já o internacional está em 93% na mesma base comparativa.

Outro dado relevante é a valorização das empresas hoteleiras. “Por trás da crença do capital financeiro global das companhias, hoje nosso negócio vale mais do que valia antes, contrariando os profetas do apocalipse que diziam que a hotelaria não seria mais o que era antes”, disse Cypriano.

Usando informações da FecomercioSP, o palestrante da Equipotel destacou que as perdas no turismo chegaram a R$ 10 bilhões no auge da pandemia, mas a boa notícia é que o setor já performa acima de 2019. “A discussão de recuperação deixa de existir e começa uma corrida para ver até onde chegamos e qual a velocidade daqui pra frente”, acrescentou o executivo.

No primeiro semestre, o Brasil recebeu cerca de 3 milhões de turistas internacionais – dado que gera otimismo para a hotelaria. “A demanda aérea vai bem, com o brasileiro voltando a consumir lá fora e o doméstico forte. Quando observamos esse cenário nas principais cidades e no corporativo, ao longo do primeiro semestre enxergamos crescimento de diária média”, ressaltou Cypriano.

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Não olhem a diária como em 2019, disse Cypriano

Indicadores

Em linha com 2019, a ocupação já performa 2% acima da pré-pandemia, com diária média 12% superior acima da inflação e RevPar na casa dos 15% superior. “Falar sobre recuperação já deixou de ser pauta. Hoje, debatemos o que acontece daqui para frente, mas isso não significa que não temos espaço para crescer”, pontuou Cypriano.

Importante segmento para a demanda hoteleira, os eventos já atuam a 107% em relação a 2019. De acordo com o palestrante, cerca de 700 eventos estão programados para a capital paulista no segundo semestre.

O que esperar

Para 2024, Cypriano apontou dois drivers balizadores: demanda e oferta. Sem pipelines robustos de novas aberturas, o fundador da Noctua enfatizou que o aumento da competitividade não deve ser um problema para o setor no próximo ano.

“Sobre a demanda, não vamos mais ter saltos de dois dígitos. Chegamos a um ponto de estabilidade de crescimento ou de incrementos mais baixos do ponto de vista macro. Falando de lazer, o dólar alto estimula viagens domésticas”, salientou o executivo.

No próximo ano, Cypriano explicou que a aposta do setor hoteleiro segue sendo a diária média. “A receita virá não por volume, mas por precificação”, avaliou.

Focando em orçamentos, o palestrante apontou que cerca de 47% dos hotéis respondentes indicaram que não revisam seus budgets ao longo do ano. “É preciso corrigir e redirecionar a rota. Os empreendimentos devem olhar com mais frequência o que foi orçado e o que foi realizado para buscar resultados para além do orgânico”, disse o executivo.

A pesquisa da Noctua também trouxe avaliações sobre perspectivas futuras por segmento. Com notas entre 1 a 5, os hotéis responderam o que esperar para 2024:

  • Lazer: 4,1
  • Lazer em grupos: 3,3
  • Corporativo: 4,4
  • Eventos internos: 3,2
  • Eventos externos: 4,0

“Existe uma sensação de otimismo relevante e uma boa performance setorial. Para 2024, as possibilidades de receitas aumentam, com potencial de inteligência de mercado para melhorar a gestão”, avaliou Cypriano. “A economia está otimista e precisamos aproveitar isso para acelerar resultados”, completou.

“Aprendemos a machadadas que era necessário desenvolver uma operação mais enxuta. Não abandonem essas conquistas, mesmo com o mercado surfando bem. Elas não podem ser deixadas para trás”, acrescentou Medeiros.

Ainda que os indicadores sejam positivos, as grandes redes ainda enxergam margens para crescer. Para expandir seus leques de possibilidades de receita, Cypriano trouxe alguns caminhos a serem explorados. “Tarifas negociadas, maximização em picos de demanda, como eventos, são alguns exemplos”.

“Não olhem para a diária média com os olhos de 2019. O Brasil tem inflação e, na prática, você pode estar abaixo do que era antes da pandemia. Precisamos ter ciência disso, com metas audaciosas para melhorar resultados, remunerar equipes, fazer investimentos e compensar custos operacionais”, finalizou Cypriano no espaço do Hospitality Trends da Equipotel.

(*) Crédito das fotos: Nayara Matteis/Hotelier News