O ano de 2023 acabou em clima de preocupação para o turismo. Após sinalizações de que o governo mexeria no Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), o segmento ligou um alerta. Até que, no dia 29 de dezembro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad confirmou mudanças no benefício fiscal. A temida MP (Medida Provisória) 1.202 foi promulgada, gerando movimentação generalizada entre entidades turísticas.

Na última sexta-feira, mais de 30 associações ligadas ao setor assinaram uma carta em prol da continuidade do Perse, que também solicita a colaboração do Congresso Nacional para a manutenção do programa. De acordo com o documento, a apresentação de Haddad trouxe “equívocos sobre o período de vigência do programa, índices de geração de empregos e os benefícios sociais e fiscais da Lei, além de não mencionar o prejuízo econômico de 513 bilhões que o setor de turismo e eventos suportou nos anos de pandemia, sendo estas as atividades com as mais graves restrições de funcionamento”.

Embora os benefícios fiscais, como a isenção de pagamento de tributos como IRJP (Imposto de Renda de Pessoa Jurídica), PIS (Programa de Integração Social), Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e CSLL (Contribuição Social Sobre Lucro Líquido) ainda estejam em voga para o segmento, a MP cumpre tramitação em Brasília para que seus efeitos se transformem em lei.

Para as entidades, é compreensível que o governo necessite organizar as contas públicas, ao mesmo tempo em que a carta ressalta a eficácia do Perse para a recuperação do setor. O documento destaca o período de vigência do programa, desenvolvido para durar cinco anos — “tempo necessário para a plena recuperação dos setores de sua abrangência”, diz o texto.

A carta ainda pontua o potencial de geração de empregos no turismo, utilizando como base dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Ministério do Trabalho. “No saldo acumulado entre janeiro e outubro de 2023, a geração de empregos no setor de eventos cresceu 46,6%, contra apenas 23,3% dos serviços em geral e a redução em áreas como agropecuária (- 9,1%) e construção civil (-12,4%)”.

O documento elaborado pelas entidades lembra que o Perse é o maior programa de transação fiscal da história do país, além de enfatizar os “mais de R$ 20 bilhões de reais de débitos negociados entre a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e as empresas do setor até o momento”.

Precisamos nos unir, diz Picka

Os próximos passos

Em contato com a reportagem do Hotelier News, representantes de entidades turísticas falaram sobre os próximos passos para a manutenção do Perse. “Vamos trabalhar o mais unidos possível para combater esse processo. Acho que o governo, na MP, não tem sustentação para manter”, diz Alexandre Sampaio, presidente da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação).

Sampaio afirma que a entidade, ao lado da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), ingressará juridicamente contra a MP. “Vamos fazer um trabalho junto aos nossos parlamentares para tentar derrubar a Medida Provisória”.

Para Marcelo Picka, presidente do Conselho da Resorts Brasil, a MP não vem em boa hora, uma vez que muitos empreendimentos ainda estão se recuperando dos prejuízos causados pela pandemia. “Todo o processo para beneficiar o nosso setor foi baseado em estudos e estatísticas para que Perse tivesse realmente uma eficácia condizente com as nossas necessidades. O prazo de cinco anos foi o resultado desse estudo”, pontua.

Picka ainda reforça que as entidades precisam se unir para que os benefícios fiscais sejam continuados. A aprovação da MP no Congresso Nacional não está garantida — ou seja, é hora do turismo destacar sua relevância não apenas para o setor, mas para a economia do país como um todo.

Confira abaixo o teor da carta enviada aos orgãos governamentais:

PERSE É NECESSÁRIO, MERECE CONTINUAR, E CONTAMOS COM O CONGRESSO NACIONAL PARA MANTER O PROGRAMA.

A revogação antecipada do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (PERSE) proposta pela Medida Provisória 1.202, de 29 de dezembro, causa preocupação nos segmentos de cultura, entretenimento e turismo. A apresentação do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na véspera, trouxe equívocos sobre o período de vigência do programa, índices de geração de empregos e os benefícios sociais e fiscais da Lei, além de não mencionar o prejuízo econômico de 513 bilhões que o setor de turismo e eventos suportou nos anos de pandemia, sendo estas as atividades com as mais graves restrições de funcionamento.

Entendemos que o Governo Federal precisa organizar as contas públicas, da mesma forma que é preciso compreender que o programa é meritório e eficaz, como reconheceu o próprio ministro.

Um dos equívocos cometidos pelo ministro refere-se ao período de abrangência da Lei que criou o PERSE, lei 14.148. Haddad afirma que a lei foi elaborada para durar dois anos, quando, na verdade, desde o início da sua articulação com o governo, com o apoio da Câmara e do Senado, já previa uma duração de cinco anos, tempo necessário para a plena recuperação dos setores de sua abrangência.

O ministro equivoca-se, também, em relação à queda de empregos. Ele se esquece de reconhecer que os setores de eventos, cultura, entretenimento e turismo continuam sendo o maior gerador de empregos no país, conforme apontam os dados do IBGE e do Ministério do Trabalho e Emprego. No saldo acumulado entre janeiro e outubro de 2023, a geração de empregos no setor de eventos cresceu 46,6%, contra apenas 23,3% dos serviços em geral e a redução em áreas como agropecuária (- 9,1%) e construção civil (-12,4%).

Além disso, o ministro esqueceu de citar que o Governo Federal recuperou, como consequência da lei que criou o PERSE, mais de R$ 20 bilhões de reais de débitos negociados entre a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e as empresas do setor até o momento. Esse é o maior programa de transação fiscal da história do país.
Por fim, recomenda-se um aprofundamento no número apresentado pelo Ministro Haddad no que diz respeito à renúncia fiscal de R$ 16 bilhões em decorrência do PERSE. Ainda que tenhamos já solicitado essa informação à Receita Federal há alguns meses, não obtivemos resposta a esse pedido. Esse número apontado não nos parece real, uma vez que nos cálculos dos economistas que elaboraram o PERSE, o programa teria o custo anual estimado entre R$ 4 e R$ 5 bilhões, em especial após a redução de CNAEs (Classificação Nacional das Atividades Econômicas) estabelecida no início deste ano.

O PERSE foi aprovado em três oportunidades com apoio suprapartidário no Congresso Nacional (Lei 14.148/21, derrubada dos vetos e Lei 14.592/23) sempre por prazo determinado. O crescimento econômico somente é possível com segurança jurídica, e as empresas do setor cultural, de turismo e eventos querem seguir acreditando no Brasil. Temos certeza de que o Senado e Câmara vão reconhecer que todos os investimentos realizados e empregos criados suportam as medidas proporcionadas pelo programa, pelos resultados que apresentamos.

1 ABAV – Associação Brasileira de Agências de Viagens
2 ABEFORM – Associação Brasileira das Empresas de Formaturas
3 ABEOC Brasil – Associação Brasileira de Empresas de Eventos
4 ABETA – Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura
5 ABIH – Associação Brasileira da Industria de Hotéis
6 ABRACE – Associação Brasileira de Cenografia e Estandes
7 ABRACEO – Associação Brasileira dos Organizadores de Corridas de Rua e Esportes Outdoor
8 ABRACORP – Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas ABRAFESTA – Associação Brasileira de Eventos
9 ABRAFESTA – Associação Brasileira de Eventos
10 ABRAPE – Associação Brasileira dos Promotores de Eventos
11 ABRAPLEX – Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex
12 ACADEMIA – Academia Brasileira de Eventos e Turismo
13 ADIBRA – Associação de Parques e Atrações
14 ADIT Brasil – Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil
15 AGEPES – Associação Gaúcha de Empresas e Profissionais de Eventos
16 Air Tkt – Associação Brasileira dos Consolidadores de Passagens Aéreas e Serviços de Viagens
17 ALAGEV – Associação Latino-Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas
18 AMPRO – Associação de Marketing Promocional
19 ANAFIMA – Associação Nacional da Indústria da Música
20 ANPPE – Associação Nacional dos Profissionais de Produção de Eventos
21 BLTA – Brazilian Luxury Travel Association
22 BRAZTOA – Associação Brasileira das Operadoras de Turismo
23 CLIA – Cruise Lines International Association
24 FBHA – Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação
25 FOHB – Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil
26 IFEA – Associação Internacional de Festivais e Eventos
27 RESORTS BRASIL – Associação Brasileira de Resorts
28 SINAPREM – Sindicato Nacional de Empresas de Agenciamento e de
Produções de Eventos Artísticos Musicais e Similares
29 SINDEPAT – Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas
30 SINDIMUSICA – Sindicato das Indústrias de Instrumentos Musicais do Estado de São Paulo
31 SINDIPROM – Sindicato de Empresas de Promoção, Organização e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos
32 SKAL Internacional São Paulo – Associação Internacional dos Profissionais de Turismo
33 UBRAFE – União Brasileira dos Promotores de Feiras
34 UNEDESTINOS – União Nacional de CVBx e Entidades de Destinos

(*) Crédito da capa: Divulgação/Governo do DF