Confetur: quais as tendências para o turismo global?

Dando início à programação do segundo dia da Confetur (Conferência Internacional de Turismo), realizada no WTC Events Center, aberta ontem (30), foi apresentado o painel Tendências do turismo global: indústria, feiras e mercados.

O bate-papo foi comandado por Rika Jean-François, chefe de Responsabilidade Social Corporativa da ITB Berlim. “Os trade shows são uma das principais tendências, por conta da necessidade da volta do contato presencial, que ficou restrito durante esses anos de pandemia”, afirmou a executiva no início do painel.

“Não existe canal de marketing melhor do que as feiras, porque nelas você consegue filtrar seu público. Além disso, elas permitem o contato humano, que é insubstituível”, completou.

Principais tendências

Durante sua fala da Confetur, Rika abordou as diversas tendências para o setor, reforçando a importância dos eventos híbridos. “As pessoas estão ficando mais seletivas, e os recursos tecnológicos precisam ser aprimorados para atender às necessidades”, explicou, ressaltando que esse modelo de eventos foi importante durante a pandemia, mas é necessário criar experiências verdadeiramente interativas.

Rika destacou que, apesar de haver uma tendência sobre a diminuição dos eventos em termos de espaço, as iniciativas mais robustas ainda são positivas para o setor como um todo.

“A personalização desses eventos, dessa experiência, ajuda a atrair e reter clientes. Além disso, as preocupações sustentáveis são uma grande tendência, visto que os clientes estão cada vez mais buscando por experiências que não causem fortes impactos ao meio ambiente. É preciso nos preocupar com reutilização de energia e água”, analisou.

Projeções

Segundo Rika, as viagens internacionais ainda estão longe de recuperar o nível pré-pandemia. “As coisas não voltaram ao normal ainda. Notamos algumas mudanças, como o crescimento das viagens domésticas. As internacionais estão levando um pouco mais tempo, porque as pessoas ainda estão receosas”, disse.

Para este ano e 2024, a projeção da executiva é de que a inflação afetará diretamente o setor de viagens, apesar de  estarem entre as prioridades dos viajantes.

“O aumento desse indicador tem sérios impactos nos gastos com viagens. E isso afeta diretamente o setor. Assim, as pessoas estão optando por gastar menos com a experiência como um todo. Essa motivação pela viagem não mudou muito, e temos que preservar isso”, comentou.

Confetur - Rika

Rika analisou tendências e projeções para o turismo global

 

Falando sobre a hotelaria mundial, a executiva reforçou a boa performance do setor na Europa, por conta das opções de entretenimento e de trabalho oferecidas. “A indústria está bem forte, mas plataformas de alugueis, como Airbnb, ainda não recuperaram a demanda”, acrescentou.

“De acordo com minhas projeções, as viagens de negócios vão se recuperar totalmente no fim de 2024. Já o segmento de cruzeiros tem tido ótimo retorno, sendo o Caribe um dos destinos mais populares. Entre os desafios do setor, está a condição climática, desperdício de alimentos, que são reais e urgentes, além do problema das emissões de carbono, agora que a demanda aérea vem crescendo. É necessário planejar bem, para mudar em todas essas frentes”, finalizou.


Grandes eventos: como atraí-los?

O painel seguinte do último dia da Confetur, intitulado São Paulo: os maiores eventos da América Latina, contou com participação de Pierre Mantovani; CEO da Omelete e CCXP; Willians Lopes (GL Events e São Paulo Expo); Claudio Macedo (Allianz Parque e WTorre Entretenimento); Rogério Dezembro (LivePark Entretenimento e Grupo DC Set); Du Serena (Kontrol Agency e BeOn); e Maurício Soares (M-S Live, Arca São Paulo e Spark).

O diálogo foi medidado por Juan Pablo de Vera, CEO da Diex Mídia. No início da conversa, Lopes falou sobre o crescimento da demanda de eventos em Sâo Paulo ao longo de 2023. “Esse ano, tivemos mais de 70 eventos diretos, e as projeções para os próximos anos é de crescermos pelo menos 10% acima desse número”, explicou.

“A nossa demanda beneficia toda uma cadeia de turismo, além de gerar muitos empregos e estimular alta arrecadação de impostos. Dentre os eventos que recebemos, tivemos a CCXP, Hospitalar, Expert XP e Fenatran, lotando nossos pavilhões, visto que hoje somos um dos principais venues de eventos da capital paulista”, complementou Lopes.

Em seguida, Dezembro falou sobre as estratégias da LivePark para atrair ainda mais eventos. “É um trabalho contínuo de investimento em infraestrutura, para que os maiores eventos do mundo escolham nossos venues. São Paulo é um universo gigantesco de diversidade, públicos e interesses. A recente reformulação no Autódromo de Interlagos permitiu recebermos o Lollapalooza no primeiro semestre, e o The Town no segundo”, analisou.

“Estamos fazendo um grande investimento na requalificação dos parques que assumimos, atraindo eventos sazonais e permanentes, e isso é motivo de muita felicidade”, continuou o executivo da LivePark.

Outras estratégias

Durante o painel da Confetur, Macedo pontuou que o Allianz Parque tem recebido pelo menos dois grandes eventos por semana. “Em nove anos de história, foram 140 shows, 300 jogos de futebol, entre outros”, pontuou.

“Falando um pouco do Vale do Anhangabaú, concessão que assumimos há dois anos, realizamos nesse período 2.405 atividades diárias, 25 eventos econômicos, dois da municipalidade e 16 filmagens. É um trabalho desafiador e que nos encanta muito”, acrescentou Macedo.

Confetur - Painel_Eventos

Painel analisa demanda de eventos em SP

Por fim, Serena falou sobre a atuação da BeOn, focada no entretenimento de jovens, com eventos de música eletrônica, que respondem por 95% do portfólio da empresa. “Nossa missão sempre foi entregar festivais e festas no melhor nível possível, elevando a qualidade a todo momento. Temos conseguido entregar grandes marcas nacionais e internacionais para o mercado de entretenimento jovem no Brasil. Hoje, temos cerca de 25 eventos por ano”, comentou.

Para o executivo, a escolha de um bom local determina a boa performance de um evento. “Se você não tem um bom venue, não adianta ter o artista, um orçamento gigantesco ou investimento grandioso, não vai funcionar”, explicou Serena.

Complementando o raciocínio, Soares destacou que a importância de revitalizar as áreas no entorno dos venues também ajuda a atrair grandes eventos. “É importante conseguirmos ter essa relação no setor de eventos entre o setor público e iniciativa privada, isso cria diversas oportunidades para o segmento”.


Como elevar a experiência do turista?

Iniciando a rodada de palestras da tarde do segundo dia da Confetur, aconteceu o painel Promovendo a experiência do turista na capital paulista. No bate-papo, participaram Carlos Bernardo (Accor); Fernando Guinato (Sheraton WTC); Ricardo Roman Jr (ABIH-SP); Márcio Guerreiro (Abeoc São Paulo); e Toni Sando (SPCVB).

Sando iniciou o painel falando sobre a importância de proporcionar a melhor experiência para o turista no destino. “O que temos colocado como reflexão é qual a importância que esse turista tem para a cidade. Será que estamos apenas embalando e vendendo o destino?”, questionou.

Em seguida, Bernardo comentou sobre a estrutura do estado de São Paulo para receber visitantes, de negócios ou lazer. “As mudanças que tivemos dizem respeito à tecnologia, mas quando falamos de mão de obra para prestar um bom serviço, ela continua existindo”, disse.

Durante o painel na Confetur, o executivo da Accor ressaltou que nenhum viajante gosta de ficar na fila no check-in de um hotel. “Então, dependemos muito da tecnologia para agilizar processos como esse. Check-in não pode ter fila, precisa ser desburocratizado. Além disso, os hotéis precisam preparar bem os quartos, não só com recursos tecnológicos, mas sim uma acomodação bem cuidada, limpa, climatizada. É preciso cuidar com carinho desses pequenos detalhes”, explicou.

Elevando a experiência

Ainda durante a explanação, Bernardo apontou que o compromisso dos hoteleiros com a experiência também contribui para garantir bons resultados. “Temos que pensar muito bem na seleção dos colaboradores, e dar importância a quem é apaixonado pelo setor, porque são essas pessoas que fazem a diferença”, enfatizou.

Seguindo com o painel, Roman Jr fez considerações acerca do associativismo para realizar acordos de interesse do setor, que contribuem consideravelmente para a performance dos hotéis. “Nós lançamos uma plataforma de compras para hoteleiros independentes que precisam reduzir seus custos. Nela, juntamos os hotéis para que eles possam ter poder de compra e assim melhorar a estrutura desses empreendimentos”, explicou.

“Nosso trabalho é receber e atender bem o turista. Fizemos um levantamento para entender quais equipamentos o viajante que vem a São Paulo mais frequenta. Alguns dos locais apontados foram o Parque Ibirapuera, MASP, Zoológico de São Paulo, Beco do Batman, entre outros”, complementou o presidente da ABIH-SP.

Iniciando sua explanação, Guerreiro afirmou que, hoje, São Paulo é o principal destino de viagens de negócios do país. “Somos um destino muito profissional. É necessário que os gestores de viagens sempre saibam com antecedência sobre a estrutura que o cliente vai ter. E isso passa pelo hotel, número de quartos, salas de reunião, entre outros detalhes”, acrescentou.

Confetur - Painel_Experiência

Participantes discutiram estratégias para elevar experiência do viajante

 

Questionado por Sando sobre sua visão do cenário de São Paulo, Guinato disse que, apesar de São Paulo ter muita força no turismo de negócios, é preciso considerar também os demais eventos que têm tomado conta do calendário. “Março foi o mês de maior ocupação na hotelaria de São Paulo, devido a dois eventos muito importantes: o show do Coldplay no Morumbi, e o festival Lollapalooza. Não dá para ignorar esse segmento”, avaliou.

“Ignorar eventos como o Carnaval, com a quantidade de blocos que saem na rua, é impossível. Porque tudo isso envolve uma forte operação da indústria hoteleira, e de outros segmentos presentes no setor”, acrescentou Guinato.

Ao longo de sua fala no painel da Confetur, o executivo observou que é crucial que os hotéis se atentem ao perfil do hóspede para proporcionar uma experiência de acordo com sua necessidade. “É isso que encanta o hóspede, saber que você, enquanto hoteleiro, proporciona uma experiência única para ele”, concluiu.


Guia Michelin e os impactos no turismo

Dando continuidade à programação da segunda edição da Confetur, foi apresentado o painel Guia Michelin e seus efeitos no mundo do turismo. O momento foi comandado por Guilherme Nigri, head do Guia Michelin na América do Sul, que falou sobre a mais recente novidade da publicação, seu ingresso no setor hoteleiro.

“Os critérios dentro do Guia Michelin são: qualidade dos ingredientes, maestria das técnicas culinárias, harmonia dos sabores, personalidade do chef representada na cozinha, e a consistência. Nos preocupamos com essa consistência, em garantir que os estabelecimentos mantenham o mesmo nível de qualidade”, apontou.

“Os inspetores do guia são funcionários da Michelin e vivem para conhecer restaurantes ao redor do mundo, anonimamente. Essa é a grande razão de nossa credibilidade”, completou o executivo.

Impacto no turismo

Durante sua apresentação na Confetur, Nigri reforçou que o turismo gastronômico é um dos motores da economia e citou São Paulo como um grande destino neste sentido. “Hoje, dois terços das pessoas estão propensas a optar por um destino pelo fato de o Guia Michelin estar presente. Além disso, mais de 70% das pessoas estão propensas a gastar mais por conta da gastronomia”, analisou.

Confetur - Guilherme_Nigri

“O Guia Michelin é uma verdadeira credencial para os estabelecimentos”, disse Nigri

 

O executivo pontuou, ainda, que os viajantes são sensíveis à gastronomia. Isso quer dizer que, se um destino tem uma proposta gastronômica interessante, normalmente acaba atraindo mais turistas.

“Hoje, as cidades utilizam o Guia Michelin como uma marca, um carimbo de destino gastronômico, o que faz bastante diferença”, finalizou.

(*) Crédito das fotos: Lucas Barbosa/Hotelier News