A hotelaria carioca vai perder um empreendimento ícone, uma verdadeira joia. Dono do ativo imobiliário desde 2011, o BHG (Brazil Hospitality Group) confirmou à reportagem do Hotelier News que venderá o prédio do Pullman São Conrado Rio de Janeiro, atualmente fechado. Localizado em São Conrado, na Zona Sul da cidade, o hotel entrou em operação na década de 1970, funcionando por muitos anos como InterContinental Rio de Janeiro, e será transformado em um residencial.

CEO da BHG, Alexandre Solleiro disse que o projeto para mudança de destinação do imóvel está pronto. “As coisas estão se desenrolando bem neste sentido”, comenta. No meio do ano, a venda do ativo quase saiu. No dia 19 de maio, a Tegra Incorporadora até emitiu um Fato Relevante (leia mais abaixo) para o mercado informando sobre a possível aquisição do edifício. “Acabou não evoluindo e, hoje, conversamos com outras empresas”, revela Solleiro.

Em relação ao motivo da venda, o executivo justificou que o mercado hoteleiro no Rio mudou muito nos últimos anos, com aumento de oferta de quartos na cidade em função da Copa do Mundo e da Olimpíada e a criação de uma polarização turística entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca – e São Conrado fica exatamente no corredor entre as duas regiões. “São Conrado ficou em uma zona menos clara a nível de destino turístico e concluímos que seria melhor dar outra finalidade ao ativo”, justifica.

Joia - venda do Pullman - Fato Relevante

Embora Solleiro não tenha comentado nada disso na entrevista ao Hotelier News, há muito tempo se comenta no mercado hoteleiro carioca o pouco sentido em ter três propriedades upscale naquela microrregião. Vale destacar que, bem ao lado do empreendimento está o Hotel Nacional. A poucos quilômetros dali, na Avenida Niemeyer, fica o Sheraton Grand Rio Hotel & Resort. “Além disso, com os preços praticados pelo Hotel Nacional, demoraria bastante para rentabilizar a propriedade”, disse outra fonte ouvida pela reportagem, que não quis se identificar.

Joia

O título da matéria tem uma razão: o ativo imobiliário era a joia da coroa do acordo firmado entre BHG e Accor, ocorrido em 2017. O contrato assinado entre as duas empresas confirmou a rede francesa como operadora de 26 hotéis da BHG no Brasil. Pelo que se noticiou na época, R$ 300 milhões seriam investidos nas renovações e adaptações dessas propriedades aos padrões da gigante hoteleira. A reforma para transformar o antigo Royal Tulip São Conrado no Pullman Rio de Janeiro seria, de longe, a mais cara e complexa de todas.

Procurada pela reportagem do Hotelier News sobre a questão, a Accor informou que “não foi notificada sobre a informação solicitada e, portanto, segue com o contrato”.

Edifício histórico

Localizado na Avenida Prefeito Mendes de Moraes, o projeto do prédio ainda pertencente ao BHG é de autoria da Henrique Mindlin Associados Arquitetura e Planejamento. Inaugurada em 1971, a propriedade ocupa um terreno de 27,5 mil m² (metros quadrados), totalizando 31,5 mil m² de área construída distribuídos em um subsolo e térreo, além de 15 pavimentos de apartamentos.

Joia - venda do Pullman - Hotel Glória

Hotel Glória também vai virar residencial de luxo

Na última configuração para hotel, quando a propriedade operava como Royal Tulip São Conrado, havia 418 apartamentos. A infraestrutura se completava com dois restaurantes, dois bares, spa, kids club e piscina externa.

Além disso, o a propriedade ficou conhecida pelos hóspedes famosos, muitas festas e eventos, além de acontecimentos negativos. Em agosto de 2010, traficantes invadiram o empreendimento, mantendo 31 pessoas, entre hóspedes e colaboradores, como reféns por horas.

Alfredo Lopes, presidente do HotéisRio, acredita que a transformação do Pullman Rio de Janeiro em um residencial representa uma perda grande para a hotelaria carioca. No entanto, ele pondera que outros propriedades importantes da cidade tiveram o mesmo fim.

“Infelizmente, houve investimento maciço em novos hotéis na cidade em função da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. E, mesmo naquela época, as áreas de grande proporção disponíveis estavam na Barra da Tijuca, que ganhou cinco hotéis cinco estrelas”, lembra Lopes, com um discurso bem similar ao de Solleiro.

“Então, o Rio vive um momento de inflexão, como eixo de crescimento da cidade se deslocando para lá. Vale lembrar que houve outras perdas relevantes na cidade, como o Hotel Glória e Everest. Certo é que se a economia e a parte turística estivesse funcionando bem, essas propriedades não virariam residenciais”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Divulgação/Henrique Mindlin Associados Arquitetura e Planejamento

(*) Crédito do documento reprodução de internet

(*) Crédito da foto: Vinicius Konchinski/Uol