Português de origem, Rui Manuel Oliveira chegou no Brasil aos 17 anos, época em que começou sua trajetória no setor hoteleiro. Formado em Administração de Empresas pela USP (Universidade de São Paulo), o executivo deixou sua marca na hotelaria brasileira como vice-presidente de Operações da Meliá Hotels por mais de 25 anos.

Oliveira iniciou seu caminho na hotelaria como recepcionista do Hotel Ca’d’Oro, na capital paulista. Segundo o executivo, seu sonho era se tornar um diretor de uma grande multinacional, mas a vida tinha outros planos. “Os rumos foram mudando e nunca imaginei que permaneceria na hotelaria”, conta.

Para Oliveira, o Ca’d’Oro foi uma verdadeira escola, uma vez que permaneceu no empreendimento por 10 anos, galgando cargos como gerente de Recepção e gerente geral noturno. “É uma empresa que tive muita satisfação em trabalhar e fiz muitos amigos”, revela.

Em seguida, ingressou no Caesar Park, onde também atuou como gerente de Recepção. Mais tarde, foi gerente geral de outras propriedades paulistanas, como o Nikkei Palace Hotel, no bairro da Liberdade. “Ajudei na implantação do Transamerica São Paulo, o que foi um marco na época, até que retornei ao Caesar Park como vice-presidente de Operações Internacional, uma vez que a rede estava em fase de expansão fora do Brasil”.

Oliveira foi convidado para integrar o time da Meliá Hotels nos anos 1990, quando a rede espanhola passava por reestruturação interna. “Morei em Miami por um período e de lá comandava as operações nas Américas. Retornei ao Brasil para auxiliar no crescimento da empresa por aqui”.

Fora das operações, Oliveira atuou em conjunto com entidades do setor, como FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) e na diretoria do SPCVB (São Paulo Convention & Visitors Bureau). Atualmente, o executivo segue ativo na hotelaria como fundador da Hotel Consulting Services — que oferece serviços de consultoria ao setor.

Três perguntas para: Rui Manuel Oliveira

Hotelier News: No passado, você atuou em importantes entidades hoteleiras. Recentemente, associações como BLTA e Resorts Brasil anunciaram parcerias com a Embratur para a promoção do Brasil no exterior. Qual a sua visão a respeito dessas alianças?

Rui Manuel Oliveira: Participei da criação da AHT (Associação de Hotéis de Turismo), que englobava empreendimentos cinco estrelas no Rio de Janeiro e São Paulo, na época em que João Doria era presidente da Embratur. Nossa missão era alinhar interesses do turismo e hotelaria, em um momento importante de conscientização de união entre os hotéis.

Mais tarde veio o FOHB, que participei ativamente na criação. Infelizmente, o setor sofreu muitas mudanças desde então. Hoje, temos diversas entidades, como a ABIH e SPCVB, que impulsionaram grupos de hoteleiros interessados em divulgar os hotéis no exterior junto à Embratur. Lamentavelmente, o turismo foi perdendo sua relevância perante o governo, tornando-se uma moeda de troca política. Muita coisa se perdeu no tempo.

Vejo com bons olhos esse novo movimento por parte das associações, pois existem pessoas voltando a pregar esses princípios. É uma pena que todo o trabalho desenvolvido tenha se perdido, caso contrário, estaríamos em outro patamar, mas nunca é tarde para lutar pelo que acreditamos.

HN: Muito se fala sobre um futuro híbrido da hotelaria, com empreendimentos de ofertas mistas, alinhando diferentes frentes de negócios. Você acredita nessa tendência?

RMO: A grande verdade é que este é um setor complexo e precisamos entender essa complexidade. É necessário trabalhar com diretrizes, pois a operação hoteleira engloba várias camadas de negócios dentro de um mesmo ecossistema. Acredito que esse modelo funciona se colocado às claras, principalmente para os investidores.

Hoje, os investidores desejam aplicar seu dinheiro em projetos que acreditam ser rentáveis. Do ponto de vista de mercado, podemos desenvolver empreendimentos com múltiplas operações, pois atraem demandas com interesses diversos para além da hospedagem.

Realmente, é uma grande oportunidade, que a própria Meliá está olhando. Sabemos que os eventos, por exemplo, são janelas de atratividade para rentabilizar outros departamentos. Existe potencial para operações integradas, o que falta é investimento e pessoas interessadas em apostar nesse modelo.

Os investidores ainda são conservadores e no Brasil não temos muitos cases para servir como exemplo. Ao contrário dos EUA, não estamos acostumados com esse modelo de projeto.

HN: As perspectivas para 2024 são de desaceleração do setor, com maior retorno à sazonalidade e recuo das viagens de vingança no lazer. Já para o corporativo, a demanda está subindo, porém ainda aquém da pré-pandemia. Como você enxerga o cenário para o próximo ano?

RMO: Existem várias respostas para essa pergunta e muitos aspectos a serem analisados. No Brasil, as operações hoteleiras tradicionais ainda estão muito restritas, no sentido de não agregar outros modelos de negócios, sobretudo alternativas para redução de custos sem perder qualidade.

Operamos com custos elevados e exigências altas, isso sem falar da inflação dos insumos. E, se as despesas aumentaram, como estão as receitas? Estamos praticando preços muito baixos se compararmos o Brasil com outros mercados. É preciso sair desse ciclo vicioso.

A própria mão de obra tem que ser qualificada, pois não é possível colocar qualquer pessoa no atendimento. É preciso treinamento e orientação. E isso cria um volume de custos muito alto. Logo, caímos novamente na questão da falta de apoio do governo em um setor que gera muitos empregos, mas está engessado.

É muito complicado, pois poderíamos desenvolver centros de treinamento para absorver mais pessoas com a ajuda do governo. Todos sairiam ganhando. Mas os custos elevados e inflação alta geram uma receita baixa que não permite esse tipo de investimento. Temos que realizar um trabalho com todos os envolvidos para buscar alternativas para desenvolver um modelo de negócios que funcione bem e atraia investimentos.

(*) Crédito da foto: Nayara Matteis/Hotelier News