Pedro Treacher é a pessoa por trás do OCANTO, marca brasileira de turismo regenerativo. Em 2024, o profissional completa 20 anos de carreira no setor, colecionando experiências profissionais em diversos países e áreas do segmento.

Treacher já empreendeu no ecoturismo, liderou operações de grandes grupos viajando pela Europa e conduziu o DMC (Destination Management Company) de uma renomada operadora de turismo de luxo no Brasil.

O executivo ama velejar, viajar e fotografar. Em suas viagens pelo Brasil, o profissional busca experiências ativas, como trekkings e expedições de caiaque.

Confira, abaixo, a entrevista exclusiva cedida à reportagem do Hotelier News.

Três perguntas para: Pedro Treacher

Hotelier News: Qual é a origem da proposta do OCANTO em direção ao turismo regenerativo? Como essa visão foi concebida e quais foram os primeiros passos tomados para concretizá-la?

Pedro Treacher: O nome OCANTO é inspirado pelos diferente cantos e encantos do Brasil, além do canto dos pássaros, da natureza e das pessoas. O turismo regenerativo, ou seja, aquele que propõe que sustentar não é mais suficiente, é preciso restaurar, baseado em proporcionar conexões genuínas entre o viajante e o destino, foi a premissa básica para o surgimento da marca.   

Partimos do histórico dos nossos negócios, a Pousada Literária de Paraty, Pousada Trijunção, no Cerrado, e Pousada Tutabel, em Trancoso, para criar uma marca que integra estas operações, e que tem como pilares comuns criar experiências de conexão genuína com cada região, arquitetura integrada à paisagem, uma alta gastronomia baseada em sabores nativos e produção agroecológica, a conservação da biodiversidade, e respeito às comunidades, saberes e vocações de cada lugar. O Brasil é diverso e cada canto tem um patrimônio a ser reconhecido, valorizado e guardado para as próximas gerações. 

Nossas pousadas são anfitriãs em cada destino e oferecem uma diversidade de experiências para que os viajantes possam se conectar com aquela cultura, com os sabores, a natureza, e as pessoas do lugar, de forma autêntica e genuína. Temos o desafio de fazer isso de maneira única e personalizada, com um padrão de atendimento e com experiências que tenham o potencial de se tornarem, de fato, memoráveis.

HN: Quais desafios e oportunidades o OCANTO identifica para o crescimento do turismo regenerativo no país? Como a empresa pretende abordar e superar esses desafios, aproveitando as oportunidades apresentadas?

PT: Somos um grupo realmente apaixonado pelo Brasil e acreditamos que mais e mais pessoas sentem o mesmo e buscam vivências que só o nosso país consegue oferecer.

O Brasil tem um patrimônio natural único, é o país mais biodiverso do mundo, e tem potencial para liderar e ser uma referência em turismo regenerativo.  Por isso, se hoje nós estamos em três destinos nacionais, o nosso objetivo é estarmos cada vez mais presentes nos biomas brasileiros nos próximos 10 anos.

Em 2023, o Brasil foi mencionado como o melhor país do mundo para ecoturismo (Forbes Advisor). Isso é uma tendência, em especial após a pandemia que vivemos, de viajantes mais preocupados com o tipo de viagem que fazem e em busca de conexão com a natureza. Por outro lado, todos temos o desafio de lidar com os efeitos da emergência climática e, certamente, isso trará impactos para todo tipo de destino, sejam os mais remotos ou urbanos.

Neste sentido, nós temos um compromisso não apenas de levar mais e mais pessoas para conhecerem os destinos onde estamos presentes, mas de garantir um desenvolvimento equilibrado, sustentável e integrado destes locais, garantindo a conservação do meio ambiente e a valorização das comunidades locais.

Nós trabalhamos para que nossa forma de atuar inspire outras marcas e iniciativas a trilharem esta mesma direção, de valorizar e conservar o que o Brasil tem de melhor.

HN: Por fim, na sua opinião, quais são as práticas que não podem faltar em empreendimentos com proposta sustentável? Ao que o mercado precisa se atentar?

PT: A adoção de práticas sustentáveis é obrigatória para qualquer operação hoteleira. Mas podemos ir além disso e promover práticas baseadas em conservação, que acompanham o ritmo da natureza e da cultura do lugar; e, claro, dialoguem com comunidades e especialistas para entender sobre o destino e como a sua presença faz sentido ali. É preciso escutar as pessoas do lugar, dialogar e estar aberto para cocriar projetos sociais e ambientais que tragam impactos positivos para cada região.

Nesta direção, a Fazenda Bananal – área de conservação que promove experiências de imersão na natureza, cultura e gastronomia de Paraty, realiza um programa de educação socioambiental para alunos da rede pública, em parceria com a prefeitura da cidade, recebendo mais de 3 mil alunos por ano. Na Pousada Trijunção (Cerrado), Embrapa e Onçafari são, respectivamente, parceiros no desenvolvimento de pesquisas sobre atividades produtivas sustentáveis e de espécies com risco de extinção, como o lobo-guará e diferentes espécies de onças. Enquanto na Pousada Tutabel (Trancoso), fazemos parte da Aliança Futuri, criada pela CI-Brasil (Conservação Internacional), que promove práticas de turismo regenerativo na Costa do Descobrimento, na Bahia.

(*) Crédito da foto: Thiago Dias