Diretor geral do WTC Events Center e Sheraton São Paulo WTC, Fernando Guinato vive na pele as demandas dos segmentos de hotelaria e eventos. Como setores que se complementam, o executivo destaca a importância do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) para ambos os mercados.

“É lógico que o mercado não vê com bons olhos essa alteração. Você está desrespeitando uma regra que já existe, que está consolidada, onde essas empresas tinham benefício assegurado até 2027 e no meio do caminho isso é rompido”, destaca Guinato.

Com mestrado em Contabilidade, o profissional tem vasta experiência em planejamento estratégico, financeiro e na área tributária. Já atuou no Grupo Águia, além de possuir sua própria consultoria nos segmentos citados anteriormente.

Na entrevista da sessão Três perguntas para, Guinato fala sobre os benefícios do Perse, as mudanças no setor de eventos, assim como o apagão de mão de obra nos segmentos.

Três perguntas para: Fernando Guinato

Hotelier News: O final de 2023 foi marcado pelo anúncio de mudanças no Perse, com a promulgação de uma nova MP. Caso seja aprovada no Congresso, quais serão os principais desafios para os setores de eventos e hotelaria em 2024?

Fernando Guinato: O mercado já sentia alguma modificação. De alteração nas regras do Perse, a partir do momento que se começou a falar em reforma tributária e outras atitudes na área da esfera tributária que poderiam ser tomadas. É lógico que o mercado não vê com bons olhos essa alteração. Você está desrespeitando uma regra que já existe, que está consolidada, onde essas empresas tinham benefício assegurado até 2027 e no meio do caminho isso é rompido. O Brasil tem uma perspectiva de negócios para os investimentos históricos estrangeiros que é super positiva. Tem mercado e condição de que as empresas que investem aqui tenham um retorno desejado. Onde é que o carro pega? Na insegurança jurídica. Esse é o grande problema do país. O que se escreve hoje, o que se determina que vai ser uma lei, tem uma grande possibilidade de ser rasgada no futuro e você fica sem aquela segurança jurídica que eventualmente teria respaldado na lei.

Existe um outro aspecto que eles também não levam em consideração: as empresas sérias, — e nós estamos falando da grande maioria no segmento do turismo — elaboram o seu budget nos meses de outubro e novembro. Ou seja, todas consideraram esse benefício, pois é uma lei em vigor. Quando na última semana de dezembro resolvem mandar uma medida provisória para o Congresso, no mínimo haverá uma negociação. E como é que ficou o orçamento dessas empresas? Quer dizer, nós vamos considerar que agora aquilo que foi colocado como um benefício líquido e certo não existe mais? Isso é próprio de quem não tem uma empresa, de quem não tem a menor experiência em gestão administrativo financeiro, ou seja, de quem não está qualificado, infelizmente.

HN: O Sheraton São Paulo WTC é referência no segmento Mice e exemplo de hotel convention. O que mudou da crise para os dias atuais? Como o empreendimento se modernizou e buscou se adaptar às novas demandas?

FG: Nós aprendemos muito com a pandemia. Por decreto, a nossa atividade foi a zero de uma semana para outra. No fim de março, foi decretado que não poderia mais haver evento presencial. Além do nosso centro de eventos, nós temos também um hotel que vive em função desse segmento. Então, as duas áreas foram diretamente impactadas. O que nós fizemos? Com uma parceria com a empresa do audiovisual que está aqui, no WTC, começamos a criar estúdios para lives e para eventos que fossem transmitidos por meio de uma plataforma.

Nós chegamos, no período crítico da pandemia, a ter três estudos funcionando simultaneamente em nosso centro de eventos. Em uma segunda etapa, realizamos eventos híbridos. E o que ficou de lição, realmente, nessa pandemia? Antes, nos preocupávamos em vender metro quadrado. Você precificava e vendia esse espaço. A pandemia nos ensinou que se você não agregar tecnologia ao metro quadrado, vai ficar distante do que o mercado está querendo e solicitando. Então, o componente técnico aliado ao espaço é algo importante. Não dá para imaginar fazer um evento sem uma estrutura de audiovisual eficiente e competente, sem uma internet que funcione. Esses elementos acabaram sendo agregados ao objetivo antes principal, que era a locação de espaço. Hoje, quem apenas aluga seu espaço vai estar para trás do mercado. Tem que existir um componente tecnológico, obrigatoriamente.

HN: O segmento de eventos é um dos maiores empregadores do país, mas muitos organizadores ainda sentem o esvaziamento de mão de obra especializada. Este é um problema para o WTC? E como o empreendimento vem tentando driblar essa questão?

FG: A pandemia forçou a adequação em nossos quadros de colaboradores. Então, todos passaram por uma reestruturação. Alguns com desligamento, outros com afastamento temporário e outros com redução de jornada.

Em uma determinada época, adotamos o home office. O grande problema que nós tivemos é que o retorno e o reaquecimento do mercado veio numa velocidade e num período muito curto. E as empresas foram pegas no contrapé, não tinham o seu quadro de colaboradores adequado para aquela demanda. Nós, assim como o mercado como um todo, sofremos com isso. Houve uma recomposição do quadro de colaboradores, mas não podemos esquecer que passamos por uma fase que a pessoa era entrevistada, acreditávamos que tinha aptidão, ela punha a camisa de jogador e mandávamos entrar em campo. Tivemos que queimar uma etapa que é importantíssima, que é o treinamento.

Uma etapa de adequação e de adaptação daquele profissional, as suas normas, procedimentos. Isso tudo teve que ser deixado num determinado momento para trás. E o que aconteceu? Em um primeiro momento conseguimos recompor um número de colaboradores, mas não a qualidade de entrega de antes. Recompomos 100% do número de colaboradores, mas atingimos 60%, 70% do nível de entrega. Hoje, a maioria das empresas do segmento superou essa fase, ou superou pelo menos a fase crítica. Ainda existem algumas adequações. O mercado se comportou de uma forma que muitos profissionais que atuavam há muito tempo nos setores de hotelaria e de eventos resolveram migrar para outros segmentos. E eu costumo dizer que não basta ter vontade ou formação, é preciso ter vocação.

Então, não temos dúvida de que perdemos excelentes profissionais. E estamos tentando recompor. É importante a gente mencionar também que isso só foi possível porque os colaboradores mantidos se desdobraram, fizeram muito mais do que aquilo que habitualmente deveriam fazer. Mas eu estou confiante de que nós já percorremos o caminho mais árduo e que daqui para frente só vamos ter notícias boas no que se refere às entregas dos serviços contratados.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Sheraton WTC São Paulo