Enquanto gestores fazem verdadeiros malabarismos financeiros para manter as portas abertas, na outra ponta os profissionais buscam maneiras de manter o seu sustento diante de uma crise sem precedentes. Se está ruim para quem emprega, a situação é ainda mais apreensiva para os empregados. Com incontáveis cortes de custos, trabalhadores temporários e intermitentes cresceram de forma explosiva no último ano.

De acordo com o balanço divulgado hoje (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego avançou em 23 das 27 unidades da federação. No quarto trimestre de 2020, a taxa de pessoas sem emprego bateu em 13,9%, ante 14,6% no trimestre anterior.

Na média brasileira, a taxa de desemprego no país ficou em 13,5% em 2020, frente a 11,9% em 2019, a maior taxa anual desde o início da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. No desempenho em 2020, o maior índice do país foi registrado na Bahia (19,8%) e o menor, em Santa Catarina (6,1%).

Em janeiro deste ano, o Uol publicou um levantamento realizado pela Asserttem (Associação Brasileira de Trabalho Temporário), que apontou pouco mais de 2 milhões de contratações temporárias em 2020, um aumento de 34,8% em relação a 2019, quando foram geradas 1,5 milhão de vagas.

Com praticamente todos os direitos do efetivo, mas sem aviso prévio, o trabalhador temporário também não recebe a multa de 40% sobre o valor do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), se for demitido sem justa causa. O contrato pode durar por até seis meses, prorrogáveis por mais três. Ele é contratado por meio de uma agência para atender a necessidades pontuais, para substituir um trabalhador fixo ou quando há aumento da demanda, por exemplo.

Já o contrato intermitente ou esporádico permite que uma empresa admita um funcionário para trabalhar eventualmente e o remunere pelo período de execução desse ofício. Dessa forma, nesse modelo, o colaborador pode realizar o trabalho de modo esporádico, intercalando os períodos de atividade com os de inatividade.

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              Marcia reforça que contratos temporários são boas oportunidades de efetivação

Trabalhadores temporários: bom para as duas partes

No turismo, em especial a hotelaria, os modelos de contratação não são novidade. Com sazonalidades de movimento, como alta temporada e finais de semana, manter um quadro de funcionários maior que as demandas não é um negócio rentável. Com a pandemia, o cenário se agravou mais ainda, com demissões em massa e aumento de trabalhadores temporários.

Em agosto do ano passado, o CAPIH (Comissão de Administração de Pessoal da Indústria Hoteleira) realizou uma pesquisa sobre os impactos da pandemia no mercado de trabalho do setor. Entre as áreas mais afetadas por desligamentos aparece a governança, com 42%.

Para Márcia Constantini, diretora de Projeto Integrador da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos), os modelos de contratação são uma boa saída para as empresas e trabalhadores. De acordo com a entidade, os setores de saúde e supermercados foram os que mais contrataram temporários no último ano.

“Os contratos temporários cresceram muito na pandemia. Segundo dados internos, houve aumento de 35% entre 2019 e 2020. As empresas logo no início enxugaram seus quadros de funcionários e, com a insegurança econômica, utilizaram dessas contratações para suprir as demandas”, pontua a diretora.

Marcia explica que contratos intermitentes e temporários absorvem também as necessidades do empregado sem “manchar” a carteira de trabalho. “São modelos bacanas e bons para o próprio trabalhador, além de existir a chance de efetivação e oferecer todos os direitos trabalhistas. Vale a pena para os dois lados”.

Segundo Lucila Quintino, sócia da HotelConsult, um dos pontos de atenção para os hotéis são os treinamentos e a terceirização da mão de obra. “Existem empresas e agências especializadas que ficam a cargo da contratação. É importante pegar boas referências antes de escolher. Já a formação de pessoas demanda tempo, então o ideal é contratar pessoas que já conheçam o funcionamento do empreendimento para não deixar a desejar no padrão de serviços e não haver inconsistências”.

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                          Lucila destaca que as empresas também são avaliadas por contratados

Oportunidades no setor

Se essa é uma tendência que será mantida para os próximos anos, a resposta é afirmativa. Pelo menos, enquanto não houver estabilidade econômica e redução significativa no número de casos de Covid-19. “Acredito que a contratação de temporários e intermitentes seguirá crescendo enquanto parte relevauma snte da população for vacinada e as empresas estiverem inseguras financeiramente”, avalia Marcia.

Cenário que foi reforçado por Márcio Moraes, consultor de carreira da QI Profissional. “Acho que em 2021 ainda veremos uma situação de retomada vagarosa. Estamos na segunda onda, na qual muitas surpresas e contágios estão acontecendo. Isso traz uma estranheza ao mercado enquanto abrir ou não, pois um hotel aberto tem custos elevados”.

Com mudanças de comportamento do turista, Sergio Ferreira, diretor da Gi Horeca, consultoria de RH que atende ao setor de hospitalidade, aponta crescimento no turismo interno, com oportunidades de novas contratações em resorts, hotéis de lazer e restaurantes. “Bancos de talentos têm utilizado esses profissionais para complementar a mão de obra aos finais de semana e feriados, quando a demanda é maior. Já os intermitentes não existe tanta procura, pois precisa ser avisado com antecedência, fazer exame médico entre outras burocracias”, explica.

Sobre os departamentos com maior procura, estão em destaque a governança, A&B (Alimentos & Bebidas), garçom e cozinha. “Percebemos que a governança é um perfil muito procurado, mesmo porque não existe uma média de ocupação regular. O hotel pode estar seguindo todos os protocolos, mas é difícil manter uma equipe coerente com essa produtividade”, comenta Moraes.

O levantamento promovido pela Gi Horeca observa que os locais com maior chances de aberturas de vagas atualmente são: Bahia, Pernambuco, Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro. Para captação das vagas, o projeto Gi Comunidade está estruturando ações para oferta do primeiro emprego e recrutamento de pessoas em comunidades nos estados do Nordeste como Bahia, Pernambuco e Ceará.

Para finalizar, Lucila alerta que não são apenas as empresas que avaliam os funcionários, mas a recíproca é verdadeira. “Os profissionais precisam entrar não apenas pelo salário, mas para se comprometer verdadeiramente e arcar com suas obrigações. É preciso avaliar a cultura da empresa, suas políticas e ver o quão satisfeito ele está ali”.

(*) Crédito da capa: gettyimages

(**) Crédito das fotos: Divulgação