Segundo uma pesquisa do Instituto Cambridge para Liderança em sustentabilidade, o setor de turismo é responsável por mais de 5% das
emissões de gases de efeito estufa no mundo, percentual que poderá diminuir ou não, caso adotemos práticas para combater esse avanço. Temos um enorme desafio pela frente para reduzir essa contribuição para o aquecimento global e para as mudanças climáticas. Isso, claro, tendo em vista principalmente as taxas de crescimento do setor hoteleiro, atualmente, entre 2% e 31%, dependendo da região do mundo analisada.

Uma questão que vem acompanhada por fortes pressões do exterior, das matrizes na Europa e nos Estados Unidos, sobre os gestores brasileiros, mas também das diretorias dos grupos nacionais que, claro, não podem, e não querem, ficar para trás em um tema que hoje é muito importante e que, em poucos anos, se tornará imprescindível.

As férias, as festas do final de ano e o carnaval passaram e o momento agora é de avaliação e planejamento dos próximos meses. Entre os temas que se destacam, nesse início de 2024, está justamente a hotelaria sustentável. E não é sem razão, afinal, um estudo recente da Oliver Wyman, com integrantes da geração Z, os nascidos entre 1990 e 2010, mostra que 75% deles estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços sustentáveis.

Outros levantamentos comprovam que os chamados millenials, os nascidos entre 1982 e 1990, são os que mais se preocupam com as causas ambientais, com percentuais que ultrapassam os 50%. Eles preferem se relacionar com empresas que adotam práticas sustentáveis. Ou seja, a adoção de ações para reduzir o desperdício e a redução das emissões dos gases, que geram o efeito estufa, precisam estar entre as prioridades em todo e qualquer planejamento a partir de agora. O motivo é simples: são medidas que potencializam os negócios a partir da comprovação de que a empresa está contribuindo para a saúde do planeta e para a qualidade de vida das pessoas.

Pois bem, mas o que os hotéis podem fazer para que se mantenham atualizados e posicionados como empresas socialmente e ambientalmente responsáveis? Essa é uma pergunta que tenho ouvido bastante em reuniões e congressos, e já adianto que a resposta não é simples. O trabalho que precisa ser realizado é customizado e depende diretamente de um amplo diagnóstico das ações, projetos, programas e da própria gestão. É a partir desse levantamento que uma consultoria especializada vai elaborar um plano, com cronograma de ações, treinamentos e estratégias. Aqui cabe um esclarecimento importante: hoje, são poucas as empresas no setor hoteleiro, no Brasil, que contam com equipes internas capacitadas para a definição e implementação de ações sustentáveis. Normalmente, essa função acaba sendo dividida entre integrantes de setores como Recursos Humanos, Engenharia e Administração, entre outros, sem qualquer unidade na atuação e, muitas vezes, sem resultados concretos. Então, sim, é imprescindível contratar especialistas terceirizados.

E quais são, hoje, os principais desafios dos hotéis para a adoção depráticas sustentáveis? A necessidade de economizar energia, a criação e monitoramento de uma rede de fornecedores e parceiros que respeitam o meio ambiente, a redução do consumo de água e um processo a médio prazo para a eliminação de plástico e papel são apenas alguns desses desafios. Mas, talvez, o mais importante tópico dessa lista seja o que abrange as ações de treinamento e qualificação. Afinal, é necessário que todos os envolvidos nas operações de um hotel entendam os processos, demonstrem engajamento, adquiram conhecimentos gerais, estejam atentos aos detalhes sobre as iniciativas que estão sendo implementadas, se sintam prontos para responder a perguntas dos hóspedes e para incluir a sustentabilidade e suas variáveis em um pitch no momento da venda.

Atualmente, esses treinamentos chegam em níveis de detalhamento impensáveis há alguns anos. Recentemente, conversando com a bióloga Simone Oigman Pszczol, profissional que lidera um experiente time de consultores para empresas, soube que, nesses treinamentos, o compartilhamento de conhecimento é cada vez mais profundo. Ela me contou que funcionários dos restaurantes dos hotéis, por exemplo, são qualificados para falar sobre práticas sustentáveis e sobre temas mais detalhados como o comportamento de espécies da terra e do mar, permitindo que clientes e hóspedes mergulhem em um mundo de corais, crustáceos e peixes, das limitações relacionadas à época do defeso e a razão pela qual determinado peixe não é servido naquele estabelecimento. Simone ressalta que os hóspedes valorizam muito essas informações, elogiam a iniciativa e avaliam positivamente hotel, restaurante e colaboradores.

Os desafios que envolvem a hotelaria sustentável são inúmeros e, nas próximas colunas, vamos nos aprofundar no tema e detalhar os processos. Nesse momento, o mais importante é tratarmos o assunto com muita atenção e nos prepararmos para esse novo mundo, com a adoção de boas práticas para clientes cada vez mais conscientes e exigentes, monitorarmos o surgimento de novas certificações e premiações e avaliarmos as possibilidades de crescimento que se abrem e para os inúmeros benefícios relacionados à criação ou consolidação da reputação da empresa.

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Com 35 anos de experiência no setor hoteleiro, Tomas Ramos é reconhecido pela habilidade em produzir competências para um desempenho destacado na área de Turismo de Lazer e Corporativo, envolvendo vendas online/offline, marketing, distribuição, gestão de receitas e processos operacionais. Com estilo marcado pelo foco em objetivos e resultados, Ramos tem uma longa experiência na colaboração, criação e implementação de conceitos inovadores em nichos de mercado novos ou tradicionais, sempre com o objetivo de atingir resultados eficazes. Vencedor de 16 categorias do prêmio internacional Adrian Awards, da Hospitality Sales & Marketing Association International (HSMAI), em Nova York, estudou Marketing, Revenue Management, Gestão de Receitas e Desenvolvimento Hoteleiro & Investimento na Cornell University e, recentemente, completou uma pós-graduação em Digital Business, na Columbia University USA.

(*) Crédito da foto: arquivo pessoal Tomas Ramos