Enquanto a hotelaria celebra indicadores robustos frente ao ano passado, outro importante aliado também tem motivos para comemorar. O setor de eventos, outro grande impactado pela crise gerada pela pandemia, vem em um ritmo de aquecimento exponencial — movimento que deve se manter em 2024.

Berço de importantes feiras e congressos, a capital paulista vive um momento de bonança no segmento Mice. Após um longo jejum, os eventos corporativos voltaram a fazer parte da economia da cidade. De acordo com dados da UBRAFE (União Brasileira de Feiras e Eventos de Negócios), em parceria com a SPTuris, entre junho de 2022 e junho de 2023, o segmento injetou R$ 11 bilhões no destino.

O Barômetro de Eventos B2B computou a realização de 1.231 eventos de grande porte em São Paulo no período, totalizando 8 milhões de participantes. O estudo leva em consideração ações com foco na geração de negócios, como feiras, congressos e convenções.

Já um estudo desenvolvido pelo SPCVB (São Paulo Convention & Visitors Bureau) aponta que, apenas no primeiro semestre de 2023, 850 eventos foram realizados no estado de São Paulo. O número representa alta de 141% frente ao mesmo período em 2022. Já na segunda metade de 2023, o calendário marca 202 grandes eventos de todos os segmentos.

claudia e malu

Claudia Coelho e Malu Sevieri

Casa cheia

Um dos principais pavilhões de eventos de São Paulo, o Expo Center Norte tem uma agenda de 80 feiras em 2023. Considerados eventos de grande porte — com metragem acima de 10 mil metros quadrados (m²) — mais da metade das datas confirmadas já foram realizadas. “Também temos eventos menores, que ocupam salas, com a presença de 200 a 700 pessoas”, conta Claudia Coelho, diretora do espaço.

O Expo Center Norte realiza feiras de diferentes segmentos, como decoração, turismo, entretenimento, beleza, alimentação e saúde. “Nosso calendário é bem diversificado. Atendemos diferentes mercados e todos estão apontando recorde de público e estacionamento, além de uma ocupação hoteleira robusta”, diz a executiva.

Com as feiras como seu carro-chefe, o Expo Center Norte destaca o crescimento de tamanho dos eventos, mesmo com reajustes do aluguel do espaço. “Trouxemos para 2022 muitos contratos da pandemia e transferências de datas. Logo, 2023 foi a nossa retomada oficial. Ficamos muito tempo parados, então os preços foram atualizados”, enfatiza Claudia.

Os organizadores já renovaram os contratos para 2024, com uma área igual ou maior em relação a 2023. “Não temos históricos de clientes que estão reduzindo de tamanho, salvo exceções específicas de alguns mercados. É unânime o sentimento positivo para o ano que vem. Será uma continuação do aquecimento de 2023”, prevê a diretora.

Na primeira metade de 2023, o São Paulo Expo recebeu cerca de 35 eventos, sempre com o foco em turismo de negócios. Foram mais de 800 horas de conteúdo, 7,5 mil expositores e 900 mil visitantes. Para o segundo semestre, mais de 50 eventos estão agendados.

“Fechamos o primeiro semestre de 2023 com números sólidos que destacam a sua liderança no mercado de eventos e a expressiva retomada do setor. De janeiro a junho, registramos um crescimento de 35% em relação ao mesmo período de 2022”, revela Willians Lopes, diretor geral do São Paulo Expo.

O pavilhão, localizado na Zona Sul da capital, recebe eventos corporativos dos setores de saúde, indústria, infraestrutura, agronegócios, comunicação, dentre outros. O executivo da GL events, detentora do empreendimento, reforça a fala de Claudia sobre o momento atual do segmento. “Em 2023, ainda estamos vivendo reflexos da retomada do setor de eventos pós-pandemia. Foram muitos eventos represados, alguns que acontecem a cada dois anos, e que estão sendo realizados este ano”.

Para 2024, a agenda do São Paulo Expo já computa 50 eventos confirmados. “Sempre levando em conta a agenda de grandes eventos da cidade de São Paulo”, salienta Lopes.

Willians Lopes

Lopes destaca agenda de 2024

Visitantes e expositores

Para Malu Sevieri, CEO da Emma Brasil, o setor de eventos vem atravessando uma série de transformações. O retorno massivo do presencial fez explodir a busca por experiências e conteúdos, sinalizando mudanças no comportamento dos visitantes. “Não se vende mais eventos online como antes, então, as empresas estão voltando a investir no presencial. É um movimento não só da pandemia, mas de comportamento”.

Outro ponto de atenção são os credenciamentos de última hora. No Expo Center Norte, as filas na recepção se tornaram comuns, mas não por falhas de organização. “Converso com os promotores para saber se existem problemas operacionais, mas eles têm me reportado explosões de credenciamento de última hora. O online foi cansativo e muitos querem acompanhar as novidades do presencial”, avalia Claudia.

Do outro lado do balcão, os expositores estão se planejando com antecedência, de olho nos melhores lugares dos pavilhões. Organizadora da ProWine e outros eventos, a Emma Brasil ainda relata a chegada de novas empresas ao segmento. “Algumas estão chegando e outras retornando. Vejo um entendimento da importância de estar presente nesses eventos. Na Emme, realizamos reuniões no Zoom para tirar todas as dúvidas dos expositores antes da data”, salienta a CEO.

Hotelaria como aliada

Sempre na ponte aérea Rio x São Paulo, Malu ressalta que é visível a necessidade de ampliação da oferta hoteleira nos arredores dos grandes centros de eventos. “Chega um momento que fica difícil encontrar hotéis nessas cidades. São Paulo é um destino que possui uma hotelaria modernizada, mas se eu fosse proprietária de um hotel e pudesse investir em ampliações, com certeza investiria”.

A Emma Brasil firma parcerias com empreendimentos hoteleiros da região, que são indicados no site dos eventos e direcionados para as páginas dos hotéis. Para os expositores e visitantes que ficam hospedados em propriedades credenciadas, a organização disponibiliza um transfer para o pavilhão.

“É um conforto que facilita a vida das pessoas e gera segurança. Os hotéis ainda nos permitem deixar um mimo de boas-vindas no quarto para quem participa dos eventos”, conta Malu. A CEO acrescenta que não pede contrapartidas pelas reservas oriundas das feiras, mas exige uma boa experiência de hospedagem e tarifas competitivas.

As negociações também fazem parte das operações do São Paulo Expo. Lopes afirma que o espaço busca condições especiais para o público tanto em tarifário quanto em comodidades. “O translado para o evento, é um exemplo. Também procuramos soluções no setor de A&B (Alimentos & Bebidas), para que o visitante não precise sair do evento para se alimentar”.

O Expo Center Norte dá prioridade ao Novotel Norte, membro do mesmo conglomerado. Entretanto, um único empreendimento não comporta as demandas de uma grande feira. “As parcerias ficam a cargo dos promotores, mas temos parcerias com o SPCVB quando a demanda é alta. É importante que o hoteleiro entenda essa dinâmica”, diz Claudia.

“Esse crescimento que estamos vendo em 2023 contribui diretamente na performance de outros setores beneficiados com a realização dos eventos, como companhias aéreas, hotéis, bares e restaurantes. Ademais, o segmento de turismo de eventos é uma mola propulsora essencial à economia, responsável por 160 mil empregos no estado de São Paulo e pela ativação de negócios em fábricas de todo o país”, finaliza Lopes.

(*) Crédito da capa: Divulgação

(**) Crédito da foto: Nayara Matteis/Hotelier News