Ao fazer o planejamento de eventos, é muito importante realizar o exercício da logística reversa. Para colocar isso em prática, é bom começar pelo fim, ou seja, quando o evento termina mesmo. O que vai ocorrer com os resíduos que esse evento gerou? Essa pergunta deve ser a norteadora de todo esse planejamento. Isto posto, fazer o inventário de tudo o que vai acontecer no evento, ao listar os itens e definir os passos, deve-se manter o pensamento que esse momento é crucial para mapear todos os materiais que serão utilizados, quais os fornecedores serão utilizados e averiguar, especialmente, se eles estão alinhados com a utilização de materiais recicláveis e se são produzidos de forma sustentável.

É importante também considerar se os colaboradores estão sendo selecionados com os devidos cuidados, olhando para seu percurso, o meio de transporte utilizado, o valor que está sendo pago a eles, o treinamento e, claro, não esquecer que se deve ter atenção sobre inclusão da diversidade no grupo. Para citar exemplos há momentos do eventos e, entre os principais, a decoração. Além de ser sempre muito importante, pode ser melhor pensada nesse sentido. Entre os produtos naturais utilizados na decoração, as flores merecem destaque.

Existem ONGs que que fazem a coleta de insumos no final de cada encontro, por exemplo. Em São Paulo, a Flor Gentil pega o que seria descartado e reutiliza fazendo novos arranjos, destinando-os posteriormente a casas de repouso. Para a alimentação, a escolha do cardápio pode ser o ponto alto. Comidas que utilizem itens não processados e dar preferência a fornecedores locais vão fazer diferença. A apresentação dos alimentos com itens naturais ajuda no descarte final dos resíduos, por exemplo. Outra dica é utilizar materiais reciclados, como bandejas de fibra de bananeira, sendo que a folha da bananeira pode ser envoltório de doces ou até mesmo um sousplat, por exemplo. Já pensou em ter o cardápio impresso em papel semente também? É, sem dúvida, um incentivo e tanto para que os participantes façam plantios depois e ainda se economize no descarte desse material.

Se for fazer cartazes, folhetos ou outro material impresso, é possível utilizar papel reciclado a partir de bitucas de cigarro e, no caso, deve haver a explicação da origem do papel na arte do documento. Aproveitando essa ação, converse com a Poiato Recicla e espalhe coletores de bituca pelo espaço de eventos, já que esse material descartado é a matéria-prima. Eles poderão ser parceiros o ano todo em todas as área para fumantes do empreendimento. Para fechar esse item de alimentos e bebidas, que tal copos, canecas e taças que podem ser levados embora, estimulando o reuso no dia a dia, seja para beber água, café e outras bebidas sem utilizar descartáveis?

Agora sem esquecer do final, como foi aberto aqui nesse texto, se o espaço possui sistema de compostagem de alimentos, nada como divulgar isso na identidade visual do evento. Com isso, todo mundo vai saber que os resíduos dos alimentos viram adubo que pode ser utilizado na área dos jardins do empreendimento. Para os resíduos recicláveis, lixeiras devidamente identificadas são fundamentais, lembrando que as cooperativas de catadores podem receber todos os materiais que serão transformados, tais como, papel, vidro, alumínio e plástico de maneira única e separarão depois.

Isso significa que uma única lixeira com um pequeno cartaz identificando os materiais que são recicláveis dá conta do recado. Fortaleça a Cooperativa, o catador, inserindo a contratação de um no planejamento do evento, que tal? Como um bom exemplo, cito a Kombosa Seletiva. Quer mais opções? Dá uma olhada no trabalho da Pimp My Carroça. Se você está pensando em levantar a emissão de CO² do evento, existem calculadoras online gratuitas para ajudar nessa tarefa. O Idesam (Instituto de Desenvolvimento da Amazônia) e o S.O.S. Mata Atlântica, entre outras, são algumas instituições que mantêm essas ferramentas abertas online com rápido acesso.

São muitas e criativas as formas de sair do automático e fazer diferença, portanto. Somos seres humanos e estamos inseridos no meio ambiente. Interagir da melhor forma e causar menos danos a esse meio deve ser algo natural. Vamos criar o movimento de permitir que seja fluído e cotidiano, realizar ações que diminuam os danos ao nosso redor, em nossa vida e de todos. Bons eventos, bons negócios!

Bacharel em publicidade e propaganda pela FAAP, Solange conta com mais de 20 anos de experiência em diversas mídias, especializada em mídia digital, atualmente cursa Gestão Ambiental pela USP e atua numa OSCIP dedicada a ética ambiental e social.

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(*) Crédito da capa: Arquivo pessoal