Até o final do ano passado, falava-se que 2022 seria o ano da retomada total dos setores de turismo e hotelaria. O surgimento da variante Ômicron e o consequente aumento de casos de Covid-19, contudo, frearam esse processo. A pá de cal foi o cancelamento do Carnaval de rua em algumas cidades com o objetivo de evitar grandes aglomerações. Neste cenário de incertezas, como fica a ocupação hoteleira? Na Bahia, no Rio de Janeiro e em Pernambuco, o setor tem buscado novas estratégias para atingir as metas inicialmente projetadas.

Em entrevista ao Hotelier News, Luciano Lopes, presidente da ABIH-BA, pontuou que é difícil desenvolver uma estratégia que “substitua” a demanda que o Carnaval provê, visto que a festa representa 11% do faturamento anual da hotelaria de Salvador. Ainda assim, nesse “novo normal” pandêmico, a expectativa do mercado é de que, no período das festividades, a ocupação fique na casa de 70% a 80%. Nada mal para o contexto atual, mas distante das performances históricas.

“Na capital, temos diárias médias consideravelmente mais altas durante o período, o que é bastante positivo para o setor hoteleiro. Com o cancelamento do Carnaval de rua, os hotéis têm buscado criar pacotes específicos para garantir bons indicadores”, destaca.

Em 2021, a ocupação média em Salvador ficou em torno dos 45,61%. Já nos primeiros dez dias de janeiro deste ano, o número subiu para 80%.“Esperamos que esta onda não tenha tanto impacto. Devido ao alto ritmo de vacinação, essa nova variante não tem produzido casos graves. Além do Carnaval, a Bahia também tem outros atrativos, como cultura, gastronomia e turismo religioso, que garantem um bom fluxo mesmo sem a festividade”, completa Lopes, acrescentando que a entidade tem atuado em conjunto com o poder público na realização de road shows para promover o destino.

“As pessoas estão entendendo que a realização do carnaval de rua é inviável e por este motivo temos buscado outras alternativas”, complementa o dirigente.

Luciano Lopes - ABIH-BA

Lopes acredita que o cancelamento do carnaval não terá grande impacto na ocupação

Festas internas como alternativa

Segundo Alfredo Lopes, presidente do HotéisRio e do conselho da ABIH-RJ, que apoiou o cancelamento da festa, os empreendimentos cariocas criaram uma programação própria para o Carnaval, o que inclui festividades e bailes.

“Ainda assim, continuamos atentos às tendências e orientações médicas e sanitárias. É importante ressaltar que o destino Rio está maduro e mostra responsabilidade na condução do combate à pandemia. Então, mais do que nunca, o desejo dos brasileiros de visitar e curtir o Rio de Janeiro está preservado”, ressalta.

Ele afirma ainda que, por ora, a rede hoteleira carioca não tem registrado cancelamentos representativos quanto às reservas feitas para o Carnaval. “O Rio é uma cidade cosmopolita, com atrativos turísticos reconhecidos internacionalmente, além das inúmeras opções culturais e gastronômicas. A motivação de viagem dos turistas no feriado de Carnaval perpassa a folia”, acrescenta.

Complementando o raciocínio de Lopes, Artur Maroja, presidente da ABIH-PE, afirma que a hotelaria tem visto o momento com serenidade e reforça que há possibilidade de realização de festas internas. “É possível que os eventos aconteçam. Vale lembrar, no entanto, que o momento exige distanciamento e, neste sentido, o ideal é que não haja festas, nem públicas ou privadas. O que cabe a nós é trabalhar com responsabilidade”, acredita.

Ainda segundo Maroja, a expectativa é de que a ocupação hoteleira no período permaneça em torno de 80%. Por outro lado, o hoteleiro considera que o atual cenário pode ter impacto direto nessa projeção, causando redução no percentual previsto, devido às restrições impostas pela pandemia.

Apesar do otimismo, ainda é necessário cuidado

Mesmo com as expectativas positivas por parte das entidades hoteleiras dos estados que a reportagem conversou, vale ressaltar que a pandemia ainda está em curso. Além do aumento exponencial do número de casos de Covid-19, a nova cepa tem provocado cancelamento de voos e instabilidade econômica, que impactam diretamente na hotelaria.

Além disso, a variante tem mantido outra taxa de ocupação – a das UTIs – acima de 80% em 13 estados brasileiros, segundo dados da Fiocruz. Diante dessa realidade, é possível – e até mais sensato – que a folia precise esperar um pouco mais para acontecer.

(*) Crédito da capa: soel84/Pixabay

(**) Crédito da foto: Divulgação/ABIH-BA