Nos últimos anos, o mercado imobiliário de São Paulo tem enfrentado um desafio: a sobreoferta de studios. Este fenômeno é resultado de um boom na construção desse tipo de produto imobiliário. Por esta razão, existem questões cruciais sobre a dinâmica do mercado e as expectativas dos consumidores, com possíveis impactos também no mercado de hotelaria.

O aumento exponencial na construção de studios pode ser atribuído a uma série de fatores. Na perspectiva do consumidor, tem relação com a busca por praticidade, espaços menores e localizações estratégicas, com muitos investidores apostando nesse produto como um investimento. E, não podemos nos enganar, o mercado imobiliário só vende “o que o consumidor busca”.

Alguns bairros têm sido reconhecidos por terem uma presença significativa de studios, casos de Vila Olímpia, Pinheiros, Moema, Vila Madalena e Itaim Bibi, mas essa oferta se estende até mesmo para o Butatã, principalmente nas proximidades da USP (Universidade de São Paulo).

Studio da Charlie - SP

Studio administrado pela Charlie em Moema

Um ponto interessante é que não se sabe ao certo o tamanho da oferta de studios lançados e em operação na capital paulista. É uma certeza, contudo, que passa de uma dezena de milhar de unidades. Neste contexto, a rápida expansão desse produto gerou uma saturação no mercado, com reflexos que serão sentidos já no próximo ano.

Com uma oferta abundante, a demanda por studios pode não estar acompanhando a procura. Essa situação, por sua vez, acaba desafiando as projeções iniciais de retorno financeiro para investidores e desenvolvedores imobiliários que fazem a aposta nesse tipo de produto.

Para enfrentar esse cenário, é crucial que o mercado imobiliário de São Paulo reavalie suas estratégias. Isso pode envolver uma adaptação nas abordagens de marketing, diversificação dos tipos de propriedades construídas e uma análise mais criteriosa das demandas do mercado, visando uma operação efetivamente empresarial em vez de doméstica.

Na minha visão, a resolução desse desafio exige uma abordagem colaborativa entre desenvolvedores, investidores e consumidores, visando um equilíbrio sustentável entre oferta e demanda, garantindo a saúde a longo prazo desse segmento vital da economia paulistana.

Impacto na hotelaria

Quando analisamos a relação entre a sobreoferta de studios e a hotelaria, observamos que investidores que inicialmente optavam por adquirir unidades para investimento imobiliário podem reconsiderar suas estratégias. Mais ainda, nunca podemos esquecer o que aconteceu no início dos anos 2000.

São Paulo experimentou um notável boom na construção de flats, o que teve um impacto significativo no setor hoteleiro. A ascensão desse produto imobiliário, que oferecia comodidades semelhantes às de um hotel, mas em formato de residência temporária, redefiniu as opções disponíveis para os visitantes da cidade. Na hotelaria tradicional, o impacto inicial foi desastroso, derrubando diárias e a ocupação.

Bem, voltando ao tema original, a competição agora com os studios disponíveis no mercado pode impactar a procura por condo-hotéis, influenciando ainda os preços e a ocupação nos hotéis, bem como no mercado de short-term rentals, os aluguéis de curta temporada, que vive bom momento na cidade.

Tal contexto cria a necessidade de uma abordagem mais diversificada por parte dos investidores, considerando não apenas o mercado residencial, mas também as tendências do setor hoteleiro, que vive bom momento, com excelente performance desde o segundo semestre de 2022 e com a retomada dos padrões pré-pandemia já solidificado. Com isso, neste momento suas vantagens estão bem palpáveis e perceptivas em termos de investimento versus rentabilidade.

Studios - São Paulo

São Paulo, puxado pelos eventos, teve um novembro histórico

 

Matéria publicada esta semana pelo Hotelier News, por exemplo, mostra como novembro, que teve uma infinidade de grandes shows e eventos, rendeu números excepcionais para a hotelaria de São Paulo, o que só reforça como o investimento em condo-hotéis faz sentido para investidores.

Da minha parte, sigo acreditando nos condo-hotéis como boa opção de investimento, pelo menos na capital paulista. Ao que tudo indica, São Paulo seguirá seu bom momento, liderando o país em diária média – e também com bons níveis de ocupação. Isso garante retorno satisfatório aos investidores desse tipo de produto.

Mais ainda, com turismo de São Paulo movimentado e em ascensão, vejo espaço para esses dois produtos (condo-hotel e studios) coexistirem. Entendo que são ofertas complementares no mercado, destacando que a aceleração da oferta de studios nos próximos anos pode gerar impacto prejudicial ao mercado. Vamos ver as cenas dos próximos capítulos.

(*) Crédito da capa: Arquivo pessoal

(**) Crédito da foto: Divulgação/Charlie

(***) Crédito da foto: Vinicius Medeiros/Hotelier News

Corretora de imóveis, especialista em apart hotéis e condo-hotéis, Renata Bernardes atua há dez anos no mercado imobiliário. No período, desenvolveu a carreira Allflats, comandada por Aurimar Luis Novello e Regiane Bernardes Novello e que conta com 40 anos de expertise no segmento específico de condo-hotéis e flats. Com atuação na capital paulista, a profissional sempre buscou a integração com as operadoras hoteleiras para promover tanto a valorização das diárias, com a finalidade de rentabilizar os proprietários o máximo possível, como das unidades autônomas, a exemplo do La Residence Paulista e H4 Opera Jardins.