O cenário de terra arrasada deixado pela pandemia da Covid-19 é, para dizer o mínimo, marcante. Marca, pois, no futuro, será lembrado como um dos piores períodos da humanidade em aspectos econômicos, políticos e sociais. É em meio a esse turbilhão que a hotelaria do Piauí busca respiros e tenta, ao menos, pagar as contas ao final de cada mês. O trabalho hoteleiro, como para o turismo brasileiro em si, é regado de incertezas, poucas notícias positivas e, em certa medida, vai obrigar que o segmento se reinvente no estado nordestino.

Quem faz essa análise não é o Hotelier News, mas sim Carlos Uchôa, presidente da ABIH-PI (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Piauí). “Diante do cenário atual, a visão do setor hoteleiro volta ao pessimismo. Mesmo que as atividades voltem a normalidade, será de forma gradual e os prejuízos já serão incalculáveis”, afirma. Após Alagoas, a seção sobre retomada das praças hoteleiras no Brasil chega ao estado.

Em entrevista concedida a reportagem nesta semana, o executivo foi franco ao avaliar perspectivas para 2021, pediu mais apoio específico para o trade e detalhou os resultados ruins da hotelaria piauiense.

Apoio

O presidente começou falando das dificuldades dos hotéis do estado em manterem as portas abertas, o que chamou de “prova de fogo”. Isto porque, segundo ele, o prejuízo do empresariado foi grande ao investir na manutenção da operação dos empreendimentos, tanto na capital e no interior, quanto no litoral. “Não creio que o setor se recupere sem apoio das instituições financeiras, em especial do governo federal. O ideal seriam linhas de crédito que se adequassem ao turismo em volume financeiro e prazos”, explica.

Os benefícios do gênero liberados até então, segundo Uchôa, atendem ao setor de forma geral, ignorando a intensidade do impacto para cada segmento. Isso faz com que recursos sejam, nas palavras dele, “irrisórios” para resolver os atuais problemas do trade turístico.

Internamente, a ABIH-PI ajuda na implementação e treinamento dos protocolos de segurança da pandemia, além de desenvolver o portal do associado com informações para o segmento.

Resultados

Dividida em dois públicos – corporativo (Teresina e interior) e lazer (litoral), a demanda hoteleira do estado oscilou em um ano de pandemia, mas praticamente para baixo. Por falta de turistas ou condições para operar, meios de hospedagem voltados ao turismo de lazer fecharam as portas por um certo período.

Mesmo com o movimento voltando entre julho de 2020 e fevereiro de 2021, Uchôa afirma que não foi o suficiente para recuperar bons números. “A rigidez das regras operacionais, estabelecidas nas últimas semanas, arrefeceu de vez a atividade hoteleira no litoral”.

Já na capital e no interior a situação consegue ser ainda mais drástica. Em abril de 2020, o setor teve 98% de suas operações encerradas, de acordo com Uchôa, retomando lenta e gradualmente entre junho e agosto. “Os resultados obtidos na ocupação durante um ano de pandemia foram pífios”, complementa o presidente.

A ocupação média no Piauí, portanto, foi detalhada entre junho e outubro, sendo:

  • Junho – 5%;
  • Julho – 12%;
  • Agosto – 19%;
  • Setembro – 22%;
  • Outubro – 36%

“Até este mês, o índice se manteve no mesmo patamar, mas como o que está ruim sempre pode piorar, agora estamos com números que nos levam ao pior período desde 2020, com expectativa de ocupação abaixo dos 20%”, alerta o executivo.

Perspectivas

Se chegamos até aqui após todas as informações passadas acima, o que menos se espera são boas notícias para os próximos meses. É com esse pessimismo indesejado que o presidente da ABIH-PI tem atuado nos primeiros meses de 2021 e que provoca mal pressentimento para o segundo semestre.

“Hoje permeamos na área do “se”. É um período de incertezas e mesmo que estados e municípios revoguem lockdowns e medidas restritivas, a tendência ainda é juntar 2020 e 2021 e contabilizá-los como dois anos perdidos da hotelaria nacional”, encerra.

Piauí: análise interna

Para além do panorama macro e geral que a ABIH nos proporciona em cada seccional, é preciso trazer olhares para quem atua, de fato, em meio a tempestade. É o caso de Dirk Zobiak, sócio diretor do DZ Hotel Intelligence, empresa que faz a gestão comercial do Metropolitan Hotel. Segundo ele, quedas constantes na ocupação mês a mês, em congruência ao agravamento da Covid-19 no Brasil, tirou o otimismo pré-pandemia e antecipou um cenário desesperador.

“Historicamente, o primeiro trimestre já é uma época de pouco turismo em Teresina, mas o novo coronavírus piorou isso. Nós chegamos a ter menos de 25% da ocupação durante os primeiros meses da pandemia no país”, afirma Zobiak. Ele relembra que foram quase quatro meses de portas fechadas e “muitas dificuldades”.

Com a reabertura a partir de julho, a ocupação crescia, segundo o empresário, cerca de 8% por mês, principalmente no corporativo. No entanto, a chegada de 2021 trouxe também o agravamento no número de casos e gerou maior instabilidade para o empreendimento. “Voltamos a um cenário de incerteza muito preocupante”, diz o executivo.

Com 70% dos hotéis de Teresina fechados durante a pandemia e uma retomada a passos curtos, a palavra “incerteza” volta a aparecer. De acordo com Zobiak, o home office do público corporativo, somado ao lockdown no Piauí e em São Paulo – principal emissor de turistas – são fatores que geram preocupação para o resto de 2021.

“Todo o planejamento para o ano está sendo revisto, mas acreditamos numa crescente da ocupação a partir de junho. O que fica de ensinamento é o trabalho árduo de reduzir e gerir custos, além de implementar processos operacionais novos, atendendo com baixos custos mas, ainda assim, entregando segurança para clientes. Nos reinventamos”, finaliza.

(*) Crédito da foto: Javier Collarte/Unsplash