Daniel Bernardes trabalha na Plaza Brasilia Hotéis desde 2009
(foto: Peter Kutuchian)

Atual gerente de Operações em duas unidades da Plaza Brasilia Hotéis – Kubitschek Plaza e Manhattan Plaza, onde coordena sete supervisores diretos e uma equipe de aproximadamente 250 colaboradores, Daniel Quintas Tresinari Bernardes trabalha na rede brasiliense desde 2009, onde começou como gerente geral do Brasília Palace, primeiro edifício a ser erguido na capital federal, nos idos de 1958.

Conhecemos Bernardes quando fomos à Brasília visitar as unidades da rede Plaza Brasília, principalmente o hotel histórico, para uma matéria especial. Daniel nos mostrou o empreendimento, cujo projeto é de Oscar Niemeyer, e se mostrou admirador das artes, pois foi ele quem coordenou a decoração e os móveis de design, alguns deles expostos e outros disponíveis para uso dos hóspedes.


Bernardes foi gerente do Brasília Palace

Filho de hoteleiro, seu pai Humberto Tresinari Bernardes, que fez a passagem em 1996, trabalhou em vários empreendimentos em todo o País como Transamérica São Paulo, Plaza São Paulo, o extinto Crown Plaza SP, Ariaú Manaus, Naoum Brasília, Bonaparte Brasília, Bourbon Foz, Hotel das Cataratas, entre outros. Foi daí que veio a paixão hoteleira de Daniel.

Bernardes iniciou sua expertise no primeiro ano deste século, durante o ensino na Les Roches, no Hotel Beau-Site, como garçom. Já no Brasil, fez um estágio no Hospital Santa Lucia, em Brasília, onde foi responsável pelo aprimoramento do atendimento. Entre os anos 2003 e 2004 foi para os Estados Unidos para trabalhar como trainee em Hospedagem no Westin Peachtree Plza, em Atlanta. Quando voltou, foi ser supervisor de A&B no antigo Blue Tree Park Brasília, atual Royal Tulip. Dois anos depois, assumiu sua primeira gerência no Sia Park Executive, onde ficou por dois anos. Antes de entrar na Plaza Brasília, atuou como gerente de Hotelaria no Hospital Daher. 

Bacharel em Ciência Política pela Universidade de Brasília, Daniel enveredou-se pela hotelaria indo cursar Administração Hoteleira em uma das mais prestigiadas instituições de ensino do planeta, a Les Roches, na Suíça, formando-se em 2003. Não satisfeito com a dupla certificação, o executivo está se formando em Direito no Centro Universitário IESB.

Em entrevista ao Hôtelier News, o executivo compartilha de sua experiência acadêmica, dos motivos que o fizeram voltar para o Brasil após dois anos nos Estados Unidos, discorre sobre o mercado de Brasília e opina ainda sobre o Turismo no País e como os hoteleiros devem atuar.

Hôtelier News: Por que resolveu fazer Hotelaria após ter feito Ciência Política?
Daniel Bernardes: Estava fazendo Ciência Política para me preparar para a carreira diplomática no Rio Branco. Mas ao longo do curso percebi que as teorias políticas que estudávamos não tinham aplicação prática no Brasil. Fui me desinteressando pelo curso e em uma palestra me encantei pela hotelaria. Depois de viver por muitos anos em hotéis como filho de Hoteleiro descobri esta paixão adormecida.

HN: Tua formação em Hotelaria foi no Les Roches, por que decidiu fazer lá e o que isso agregou no teu currículo? Tua ideia era mudar de país? 
Bernardes: Já tinha morado nos EUA antes e gostei muito da experiência. Decidi que, se iria mudar radicalmente meu foco, teria que estudar em uma escola de referência. Não existe referência maior para a hotelaria do que a Suíça e a Les Roches está entre suas melhores escolas. Me desfiz de minha herança, paguei parte do curso e fui, sem saber como pagaria pelo restante. Trabalhei lá para juntar dinheiro e minha família ajudou a financiar o restante do curso.

HN: E como foi a experiência na Les Roches?
Bernardes: Poderia escrever um livro sobre a experiência de estudar na Les Roches. Foi uma algo impar na minha vida. Tanto a parte profissional da escola quanto o ambiente multicultural proporcionam um crescimento enorme para quem faz. E para quem pensa que estudar na Suíça é como tirar férias nos Alpes, está muito enganado. A carga horária é pesada, estudos e trabalho concomitantes, quase como um internato, além disso são os alunos que operam a parte de Alimentos e Bebidas da escola.

E para quem precisa de dinheiro e quer experiência, a escola faz serviço de catering para eventos que ensinam muito o dia-a-dia da hotelaria.

Fiz amigos de todas as partes do mundo, mantemos contato até hoje, trocamos experiências e networking.


Turma de Bernardes na Les Roches
(foto: arquivo pessoal)

HN: Como foi a volta para o Brasil? Por que decidiu retornar?
Bernardes: Tinha a intenção de ficar morando fora mas quando estava terminando meu período de trabalho em Atlanta voltei ao Brasil pois fui presenteado com minha filha Sofia. Ela me fez ficar. Recomeçar aqui com um currículo de fora é desafiador. Dois pontos foram mais críticos na minha readaptação: modo de trabalho e currículo.

HN: Pode explicar melhor?
Bernardes: Tanto nos EUA quanto na Suíça os relacionamentos profissionais são muito diretos; certo é certo, errado é errado, as pessoas esperam este tipo de feedback. Aqui no Brasil ser muito direto muitas vezes é visto como sinônimo de rispidez ou grosseria. Tive que reaprender a dar algumas voltas para fazer críticas ao trabalho das pessoas. Da mesma forma tive que aprender a receber feedback desta forma.

Quando retornei passei seis meses mandando currículos. Cheguei a ouvir de um entrevistador que não me contrataria porque sabia que eu tomaria seu lugar em alguns meses. Felizmente conheci uma pessoa que não se intimidava com isso e aceitou o desafio. Depois deste processo inicial o currículo só pesou positivamente.

HN: Você é paulistano, por que mudou para Brasília?
Bernardes: Sou natural da cidade de São Paulo, filho de hoteleiro, mudei muito de cidade. Boa parte da minha família decidiu vir e ficar em Brasília. Ao longo do tempo alguns saíram daqui, mas acabamos criando raízes na cidade.

HN: O que é ser gerente de operações?

Bernardes: O gerente de operações se divide em duas frentes: operação diária do hotel e planejamento. A operação é complexa, temos especificidades de diversos ramos de conhecimento: atendimento, vendas, segurança, TI, arquitetura, lavanderia, alimentação, departamento jurídico, entre outros. 

Conhecer cada área destas a ponto de prestar um bom serviço demanda estudo e experiência. Brinco que em um hotel é preciso trocar o pneu com o carro andando, a operação não para por nada. Além disso é preciso planejar, um hotel que não se renova e se atualiza está fadado a ficar obsoleto. 

HN: Qual o maior desafio no dia a dia?
Bernardes: Meu maior desafio, e um grande motivador, é que na operação de um hotel não existem dois dias iguais. Quem busca um trabalho pacato, de escritório, não vai encontrar na hotelaria. Todo hoteleiro tem histórias mil a contar sobre episódios em seus hotéis. Estar sempre pronto a atender uma demanda, por mais exótica que seja, está no sangue do hoteleiro.

HN: Sua carreira é toda baseada em Brasília, pode explicar sobre as características deste mercado como a operação hoteleira e mão de obra?
Bernardes: Brasília é uma cidade ímpar, seja pelo seu nascimento planejado, sua arquitetura ou seu viés político. Sempre que converso com colegas em outros estados ou quando trazemos um profissional de outra região as diferenças são nítidas. A cidade respira o funcionalismo público, ele movimenta boa parte da estrutura da cidade. Por isto temos algumas particularidades que chamam a atenção como a boa parte dos funcionários sonharem com o serviço público. Não é incomum perdermos colaboradores para os concursos públicos. Aqui também existe grande resistência ao trabalho nos finais de semana e a noite. A referência das pessoas é o horário comercial do serviço público e trabalhar fora dele, mesmo na hotelaria, é visto como algo muito negativo. Os hóspedes se assustam quando descobrem que muitos museus em Brasília só funcionam de segunda a sexta em horário comercial. A política também influencia a ocupação dos hotéis, a maioria dos hóspedes vem para Brasília de terça a quinta-feira quando o Legislativo está operando. Já tivemos épocas em que a ocupação da cidade variava 20% a 30% se o presidente da República estivesse ou não na cidade.


Daniel atuou como gerente do Brasília Palace e cuidou pessoalmente dos detalhes
de decoração, mantendo este cofre da época da inauguração do hotel

HN: Como é trabalhar na rede Plaza?
Bernardes: A Plaza Brasília é a empresa que trabalhei por mais tempo até hoje. Temos um diretor que não veio de escola hoteleira mas fez escola, apaixonado pelo que faz. Isto se reflete na empresa toda, uma rede local com DNA da cidade. Tive, e tenho, grandes desafios aqui que me motivam e impulsionam a equipe. Temos uma estrutura muito particular nossa, com pinceladas de redes internacionais e hotéis familiares; é uma mistura interessante.

HN: O que deseja no futuro profissialmente?
Bernardes: Quero mais desafios! Acredito que o próximo passo da minha carreira seja assumir um cargo corporativo, com mais foco em planejamento. Para isso imagino que em algum momento terei que me despedir da cidade ou do País.

HN: Se você tivesse um hotel, o que seria diferente nele? O que mudaria na operação?
Bernardes: Eu buscaria criar um hotel com serviços para as novas gerações: ágil, conectado, próximo do cliente e menos formal. Vejo que hoje algumas áreas precisam se reinventar: recepção, quartos, áreas de lazer para se adequar ao perfil dos novos clientes. Hoje uma internet de alta velocidade e uma área de convivência bacana valem muito mais para os clientes do que um menu de travesseiros.

HN: Quais hotéis no exterior e no Brasil você considera um exemplo? 
Bernardes: No exterior considero a rede Kiwi Collection, o Yotel NYC, Grand Hotel Zermatterhof, ass rede Four Seasons, W Hotels e Thon. Já no Brasil, a rede Fasano, o Carmel Charme e Resort, Hotel Unique, Botanique, Santa Teresa Hotel, Ponta dos Ganchos Exclusive e Saint Andrews.

HN: Como você vê o futuro da hotelaria no Brasil?
Bernardes: Infelizmente no Brasil o modelo CondoHotel se multiplica cada vez mais. O investidor constrói um empreendimento e decide capitalizar vendendo as unidades. Quem compra é atraído por promessas de altos rendimentos mensais ou a moradia em um hotel. Quando a operação começa é que os problemas aparecem, este híbrido não permite nem um serviço de hotel puro nem a rentabilidade que se promete. Neste sentido a hotelaria do País caminha para uma perda grande em seu principal serviço: hospitalidade. Assim, aqueles com operações de hotel puro e visão de futuro conseguirão progredir com seus produtos enquanto aqueles com produtos híbridos ficarão sempre à margem.

HN: Na sua opinião, o que os hoteleiros precisam mudar em suas atuações para que o segmento se aprimore?
Bernardes: A hotelaria é conservadora em sua essência, mas precisa sair disso com urgência. As gerações dos Millennials e Centennials buscam serviços muito diferentes do que sempre nos propomos: funcionalidade sem frescura, conectividade, consumo cidadão, integração.

Os serviços do AirBnB e Uber estão ai para desconstruir nosso pensamento de serviço. Alguns hotéis já começaram a pensar como essas gerações: Yotel, W e outros são exemplos do que podemos esperar para o futuro. Quem quiser continuar pensando 'fraque e luvas' está fadado a desaparecer. Além disso, as avaliações online hoje fazem parte da rotina diária de qualquer hoteleiro. Quem não as acompanha diariamente não sabe o que está entregando a seu cliente.

HN: Se você fosse o ministro do Turismo o que faria primeiro?
Bernardes: O Brasil é um País de proporções continentais, muitas das nossas tentativas de criar políticas públicas em qualquer setor estão fadadas ao insucesso. Veja o exemplo do sistema de classificação de hotéis, quantas tentativas se fizeram sem adesão? Enquanto isso Stephen Kaufer, Langley Steinert e outros criaram no ano 2000 o que hoje é a maior referência no mundo em troca de experiências sobre viagens, o TripAdvisor.

Como este temos diversos novos sistemas de UGC (User-generated content  – Conteúdo gerado pelo usuário). Outro destes que muitos utilizamos: Waze, que conseguiu mapear boa parte do globo com mapas muito mais atuais que quaisquer outros com informações de tráfego online.

Pode até parecer que os assuntos estão desconexos para alguns, mas se fosse Ministro do Turismo minha primeira ação seria de abarcar plataformas de conteúdo gerado pelo usuário nas políticas públicas. Não tenho dúvida que qualquer nova tentativa de criar uma classificação hoteleira no Brasil será em vão. E para quê? Se a primeira coisa que o cliente fará antes de fazer sua reserva não é conferir se o hotel tem a chancela do Ministério e sim o que os clientes dizem sobre o local nas diversas ferramentas de avaliação online.

Hoje, mesmo com um País continental, podemos ter políticas públicas customizadas para cada região, a receita não é difícil: menos ego, mais empenho, mais senso de cidadania, conhecimento das tecnologias e a real vontade de fazer.

HN: Quais são os hobbies e o que faz nas horas livres?
Bernardes: Meus hobbies e distrações não são muito usuais. Gosto de estudar, estou terminando o curso de Direito. Gosto de motos, tenho uma Harley 883. Gosto de explorar meu lado criativo, tenho uma impressora 3D, uma máquina de corte a laser e uma router CNC. No tempo livre desenho e faço peças de madeira, acrílico, plástico e metais.

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