O Brasília Palace merece ser visitado na sua próxima viagem à Brasília
(fotos: Peter Kutuchian)

“A arquitetura não tem importância. A vida é que é importante”. A frase dita por Oscar Niemeyer durante toda a sua vida vai contra seu próprio trabalho, mas se encaixa muito bem quando pensamos na essência de um meio de hospedagem. O que importa no conjunto de áreas públicas e quartos que montam a estrutura de um hotel? A resposta é tão óbvia que as vezes nos complicamos ao responder. É a vida!  E vivê-la de forma sublime é uma grande necessidade.

Ao comparar os atos que realizamos em uma hospedagem como check-in, estada, alimentação, lazer, trabalho e check-out, tudo isso seria uma mini vida. Afinal, nascemos, crescemos, comemos, nos divertimos, exercemos um trabalho e no fim da vida, fazemos o check-out dela, como num fade-out de uma filme qualquer.

Quando Saulo Borges, gerente Comercial da rede Plaza Brasília Hotéis, me presenteou com o livro Brasília Palace, organizado por Luis Esnal e com ensaio fotográfico de Ruy Teixeira, e depois de folhear algumas páginas, o primeiro pensamento que me veio foi que tinha que fazer um In Loco Especial do empreendimento. Afinal, qual hotel construído na segunda metade do século passado, no País, é mais importante historicamente? 

O Brasilia Palace representa por si só o início de uma grande era que o Brasil vivenciou na gestão de Juscelino Kubitschek. A mudança da capital  Federal, saindo do Rio de Janeiro e indo para o planalto central, começando do zero e sob o ótica de um projeto de urbanização de Lucio Costa e com os grandiosos monumentos de Oscar Niemeyer. O hotel, que antes de ser conhecido como Brasília Palace foi construído sob a nomenclatura de Hotel de Turismo, sendo a primeira construção na capital  Federal, junto com o Palácio da Alvorada.

O registro de sua inauguração o faz ser como a segunda obra aberta, atrás apenas do Palácio da Alvorada, situado a 1,5 mil metros, seguindo o protocolo de que nenhuma outra construção poderia ser inaugurada antes da residência oficial da presidência da República. O ano era 1958.

Até Brasília ser oficialmente inaugurada, o Brasília Palace foi palco de despachos e festas, fazendo parte do trabalho e da diversão de JK. Até o fim de seu governo, o presidente fazia questão de mostrar o hotel para todas as comitivas e celebridades que visitavam a cidade. Muita gente famosa passou por lá, incluindo Che Guevara, que ficou hospedado no quarto de número 305. O hotel viveu sua época de glória desde o início de sua construção até o fim da era JK.

Alguns fatos interessantes: O Brasília Palace foi o primeiro hotel do Brasil a ter um sistema de ar-condicionado; o meio de hospedagem serviu de embaixada dos Estados Unidos por mais de dez meses, de maio de 1960 até março o ano seguinte; o primeiro concurso de "miss" no País foi realizado no hotel.

Além de Niemeyer, outro artista deixou suas marcas no Brasília Palace. Athos Bulcão, artista plástico responsável também em dar a tonalidade ao concreto de Brasília, onde existem mais de 70 obras espalhadas. No hotel, são dois painéis, o de azulejos azul-anil e branco no jardim e o na antiga sala de estar onde hoje é o grande salão do Brasília Palace.

Na madrugada do dia cinco de agosto de 1978, um curto circuito numa cafeteira causou um incêndio. O hotel foi evacuado e ficou fechado até 2006, quando a Construtora PaulOOctavio assumiu a operação do empreendimento, e que recentemente adquiriu a propriedade.

O projeto de reforma vislumbrou a participação do próprio Niemeyer que, já com idade, reclamava dos corredores extensos indagando quem era responsável por aquele absurdo. A escadaria que dava acesso ao lobby foi substituída por uma rampa e o alvará dos bombeiros previa a instalação de um corrimão. O arquiteto, ao descer pela rampa e segurando nele perguntou o por quê do corrimão. Depois da explicação, ele disse: “assim que o alvará sair, arranca isso daqui".

Reinaugurado, com 155 quartos, incluindo quatro suítes, o Brasília Palace faz parte do portfólio da Plaza Brasília Hotéis, que conta com outros três empreendimentos no destino. O hotel possui um restaurante, Oscar, a piscina oval, que distoa do próprio edifício, academia de ginástica, salas para eventos e estacionamento.

Algumas mudanças foram feitas na reconstrução do hotel: os caixilhos metálicos ao longo da fachada leste foram recuados e substituídos por de madeira, criando uma agradável varanda em todas as habitações. Na fachada oposta (oeste) foram instalados quebra-sóis verticais e articulados. Além disso, duas escadas de incêndio externas foram acopladas ao projeto original.  

Geralmente, quando viajamos, desejamos ir a um destino onde exista história e cultura, pois esses elementos agregam conhecimento. O Brasília Palace Hotel é assim, além de ele ter uma arquitetura toda especial, onde a simeteria assume conta, existe ainda, em sua base, toda a história da construção da nossa capital Federal. Ir à Brasília e não visitar o hotel, é como ir ao Vaticano e não ver o Papa.

A experiência na hospedagem no Brasília Palace foi destacada pela quantidade de obras de arte espalhadas pelo hotel, principalmente no lobby, além é claro, dele ser o primeiro hotel histórico a receber essa classificação do País.

Percorrer os longos corredores para ir e vir do quarto, ou mesmo para ir até a piscina e restaurante, me fazia pensar em outra frase de Niemeyer: "Espero que Brasília seja uma cidade de homens felizes: homens que sintam a vida em toda a sua plenitude, em toda a sua fragilidade; homens que compreendam o valor das coisas simples e puras – um gesto, uma palavra de afeto e solidariedade".  Essa frase pra mim vale para todas as cidades.

Por Peter Kutuchian*

Hospedagem
Com 155 habitações, incluindo quatro suítes, distribuídas em três pavimentos, os quartos do Brasília Palace são funcionais. Contam com uma área de 30 m² e as suítes, exatamente o dobro. A entrada se faz por um hall onde há a porta do banheiro, o frigobar e um aparador sob ele. Esse móvel faz parte do armário que fica encostado na parede do banheiro. No quarto, de um lado a cama, do outro um móvel que serve de apoio à TV. Em frente a janela que vai do chão ao teto e separa a varanda fica uma pequena mesa com duas cadeiras.

Pela varanda podemos ver o Lago Paranoá e por sorte ficar hospedados, o que foi o nosso caso, em um dos quartos bem em frente a uma figueira real, plantada sem querer por um dos trabalhadores da obra.

Boa iluminação e tons claros da madeira utilizada criam um ambiente acolhedor. O armário é amplo o suficiente para acomodar itens para uma hospedagem de vários dias. O banheiro também tem um tamanho ideal para não causar desconforto mesmo que duas pessoas estejam ao mesmo tempo em seu interior. Amenities diferenciados completam a hospedagem.

Restaurante Oscar
Atendendo toda a gastronomia do Brasília Palace, o Oscar Restaurante oferece as três principais refeições, além de atender também os pedidos do room service. O PDV (ponto de venda) gastrônomico conta com uma decoração luxuosa dentro do salão, que é oval e conta com mobiliário no tom preto e metais cromados, o piso frio na cor mais clara equilibra o ambiente. 

Pudemos provar as três refeições, sendo que o café da manhã é montado no terraço, uma área ao lado do salão. Com uma decoração mais despojada,  o espaço congrega quatros estações para a primeira refeição do dia. Frutas e sucos; pães, frios e bolos; café, chá e leite e pratos quentes. Boa variedade e itens que celebram o bem-estar fazem parte das opções.

Almoço e jantar seguem um cardápio baseado na gastronomia italiana, composto por massas artesanais, além de pratos de carne, aves, peixes e risotos. Destaque para as sobremesas. No almoço, o menu executivo compõe a principal oferta da casa, trazendo entrada, prato, principal e sobremesa.

Sem dúvida, o local é especial tanto para um almoço de negócios como para o começo de uma noite romântica.

Serviço
brasiliapalace.com.br

* A reportagem do Hôtelier News viajou para Brasília e hospedou-se no Brasilia Palace Hotel a convite da rede Plaza Brasilia Hotéis.