Lá no início, quando a hotelaria ainda era mato, os empreendimentos se dividiam em três categorias: Econômico, Midscale e Luxo. Com as mudanças no perfil do consumidor e a chegada dos Millennials ao grupo de clientes, o setor se viu obrigado a passar por profundas transformações. Nos últimos anos, o lifestyle, destaque que caiu nas graças do público jovem e exigente, vem tomando espaço de propriedades mais tradicionais, principalmente em segmentos intermediários.

Gigantes do setor, como é o caso da Accor, vêm investindo pesado em unidades com foco em design e experiência. A prova viva disso é a fusão com empresas como a Ennismore, que adicionou mais bandeiras ao portfólio da rede, ou a estreia da WOJO, marca global de coworking do grupo francês.

Outro exemplo claro de rede apoiada no lifestyle é o Selina, que proporciona verdadeiras experiências imersivas nos destinos em que seus hotéis estão alocados. Em âmbito nacional, a Swan Hotéis passou recentemente por um processo de rebranding, buscando maior identificação com o conceito e, em breve, deve inaugurar seu primeiro espaço de colaboração composto por coliving, coworking e hotelaria.

Diante da explosão da “categoria” no mercado brasileiro, propriedades com DNA clássico podem acabar perdendo demanda se não correrem atrás de modernização. Para Roland Bonadona, ex-CEO da Accor para a América do Sul e proprietário da Bonadona Consulting, hotéis midscale sempre tiveram o desafio de entender qual o seu lugar no mercado.

“A preocupação sempre foi saber onde se colocar entre as categorias de hotéis econômicos e de luxo. São empreendimentos que não possuem o preço do econômico, mas também não oferecem todos os diferenciais de estrutura e serviços de luxo. São unidades intermediárias em quase tudo: nas acomodações, nos espaços para eventos, na gastronomia”, avalia.

lifestyle - futuro do midscale - bonadona

         Bonadona reforça a necessidade de hotéis midscale encontrarem seus diferenciais

A reinvenção do midscale

Mesmo que o lifestyle não seja uma exclusividade do midscale, o segmento acaba por ser o mais afetado. Enquanto propriedades de alto padrão são vistos como hotéis destinos, em contrapartida os econômicos cumprem um papel mais básico do setor com serviços mais enxutos e poucas opções de lazer em sua estrutura.

“As pessoas vão ao Palácio Tangará, por exemplo, muitas vezes para conhecer o hotel e não necessariamente para fazer turismo em São Paulo. A mesma coisa acontece no Unique. São hospedagens que oferecem experiência. Já os hóspedes dos econômicos usufruem de uma boa cama, um bom chuveiro e não têm o costume de passar o dia no hotel”, complementa Bonadona.

Para o executivo, a categoria precisa identificar seus potenciais diferenciais diante da concorrência para não perder espaço no mercado, visto que o público desses empreendimentos simbolizam uma boa fatia da demanda. “São famílias com um pouco mais de renda, mas que não podem bancar um hotel de luxo. Antes essas unidades eram muito padronizadas e repetitivas e o cliente de hoje não busca isso”, afirma.

Diante das mudanças no setor, hotéis midscale precisam se reinventar e se modernizar. Espaços integrados, conectividade e maiores possibilidades para o A&B (Alimentos & Bebidas) são alguns pontos relevantes. “É preciso alinhar o hotel às expectativas do hóspede de hoje, pois cada geração que chega pede por mais modernidade, atendimento e opções de serviços”, pontua Bonadona.

Ricardo Mader, diretor da JLL, contrapõe afirmando que as categorias estão intimamente ligadas ao preço, independente do estilo e decoração. “O hotel precisa saber para qual público estará voltado. Midscale é aquele empreendimento que oferece qualidade de instalações e serviços com valores direcionados a um determinado nicho de clientes. Ser um hotel mais transado é outra coisa”.

Em contrapartida, Mader reforça a necessidade de transformações em bandeiras midscale tradicionais. “Um Novotel, que é uma marca tradicional, voltada para executivos, hoje oferece hotéis totalmente diferentes. É tudo interativo, mas sem exagerar na decoração”.

lifestyle - futuro do midscale - ricardo mader

                                      Para Mader existe mercado para todos os perfis

Mercado plural

Apesar da alta procura por empreendimentos lifestyle, Mader pontua que existe espaço no mercado para todos os perfis de hotéis. “Empresas mais tradicionais, como multinacionais, ainda apostam em empreendimentos clássicos. Acredito que essas propriedades ainda têm seu público. Se isso vai mudar a longo ou médio prazo, não posso dizer”.

Ainda segundo o diretor da JLL, as mudanças que hoje refletem nos hotéis são frutos de transformações de comportamento e segmentos. “Os escritórios estão mudando completamente, com mais áreas de interação. Com o crescimento do home office, esses espaços serão utilizados para colaboradores se encontrarem e isso respinga na hotelaria”.

Reforçando a fala do executivo da JLL, Bonadona também não vê conflitos de demanda no mercado. “São variações de produtos. Em termos gerais, o midscale pode atender o lazer, negócios e o bleisure”.

(*) Crédito da capa: Peter Kutuchian/Hotelier News

(**) Crédito das fotos: Divulgação