Em conteúdo publicado recente no Hotelier News, a JLL apontou novas tendências já em curso na hotelaria de luxo. Entre tantos insights, embora alguns não fossem propriamente novos (menos mármore e mais experiência, por exemplo), a palavra ultrapersonalização chamou atenção. Agora, na prática, como hotéis independentes e redes hoteleiras encaram esse conceito? Para quem se destina?

Certo é que esse público triple A não cansa de viajar depois de passar dois anos sem romper as fronteiras do próprio país. Paris é um exemplo, informam dados da Statica: depois de receber 22,6 milhões de visitantes em 2021, a Cidade Luz fechou o ano passado com 44,1 milhões de turistas, alta de 95,1% no período. Muitos deles ricos o bastante para passar uma semana no Le Bristol, cinco estrelas da Oetker Collection que cobra R$ 9,9 mil – cerca de US$ 2 mil na cotação de ontem (3) – por uma noite.

Vice-presidente de Operações da rede de luxo, Luca Allegri disse em entrevista ao Valor Econômico que a empresa – que administra o Palácio Tangará no Brasil – fez adaptações recentes para melhor receber os clientes. Segundo o executivo italiano, os investimentos se concentraram na ampliação dos quartos mais simples e no reforço da área de A&B, com a criação de bares mais exclusivos. Em paralelo, reformulou o serviço, que está mais customizado do que nunca.

Hoje, o executivo recebe relatórios diários informando o nome do cliente que gastou € 1 mil euros em garrafa de vinho. “Além de ter passado a procurar mais experiências gastronômicas dentro do hotel, e isso inclui a compra de vinhos de qualidade, esse cliente procura, principalmente, mais espaço”, comentou Allegri. “Acredito que seja reflexo da covid, e o que fizemos foi reformar nossas suítes júnior, dando a elas assinatura e uma configuração mais espaçosa”, complementa o executivo da Oetker Collection.

Ele destacou ainda que a rede destina 10% dos lucros anuais de cada hotel para custear tanto as pequenas, quanto as enormes reformas periódicas. Agora, é na exclusividade e personalização que o Bristol aposta. Segundo Allegri, hóspedes famosos têm a opção de não serem vistos ao usarem “passagens secretas” por dentro da propriedade.

Público jovem na mira

Dono do Madame Rêve, hotel de luxo aberto há dois anos em Paris, Laurent Taïeb conta que o horizonte é bom para a hotelaria de luxo da Cidade Luz. Tudo por conta da chegada (ou seria volta?) de uma clientela que procura “mais do que apenas dormir. “Estamos voltando ao século 19, quando os clientes abastados frequentavam os estabelecimentos para se reunir. Mesmo que seja difícil dar vida a esses lugares, eles são o luxo de amanhã”, avalia.

Luxo – ultrapersonalização - Laurent Taïeb

Taïeb: jovens buscam outro tipo de luxo

Taïeb acrescenta que a ostentação de marca do luxo não faz parte da nova cara da cidade. E o motivo disso está no novo comportamento do consumidor.

“Jovens com situação financeira bastante favorável ficam entediados rapidamente e acham a clientela às vezes velha demais. E, inversamente, nas alternativas que o mercado pode oferecer, não encontram padrões suficientes”, diz.

Para entregar o que promete, contudo, os dois profissionais vêm enfrentando uma barreira: a escassez de mão de obra qualificada. Sim, meu amigo, não é só você que está com dificuldade de encontrar um garçom ou uma camareira.

“Houve uma escassez de pessoal após a pandemia e, nas entrevistas, hoje conta mais a postura discreta, o olhar da pessoa, do que a experiência. Isso conseguimos ajustar”, conta Allegri.

(*) Credita do capa: Divulgação/Oetker Collection

(**) Crédito da foto: Iorgis Matyassy/Les Echos Week-end