Começo este texto sobre a inclusão das mulheres que atuam na hotelaria brasileira com uma excelente definição sobre a diferença entre diversidade e inclusão de Vernā Myers, uma das maiores especialistas mundiais sobre o tema : “Diversidade é convidar para a festa, inclusão é convidar para dançar “. E uma das reflexões que faço sobre o status da inclusão das mulheres na hotelaria são quais mulheres do setor estão sendo ” convidadas para esta festa ” e quantas estão ” dançando”. Quando falamos de diversidade e inclusão no setor, é necessário ter um olhar atento para não cometermos o engano de achar que estamos com grandes evoluções, pois é importante analisar quem e qual quantidade esta sendo contemplado o grupo de minoria social que é o foco da ação versus a capacidade de realizar a mesma com eficiência.

Mulheres são a maioria das profissionais que trabalham na hotelaria, por isto temos boas iniciativas de inclusão para elas no Brasil, porém a maior parte para desenvolvimento de liderança para ocupar cargos de alto escalão. São iniciativas importantes e necessárias para mudarmos o status atual das lideranças do setor, que geralmente são ocupadas por um mesmo perfil, seja nas principais redes, hotéis e empresas de meios de hospedagem ou nas associações ou entidades de classe, que contemplam a minoria das mulheres que atuam na hotelaria e sinto falta das ações que podem ser beneficiar a maior parte delas. Onde estão as ações para maternidade, de conscientização sobre o assédio, de equidade salarial? Aqui no Hotelier News foi publicada uma matéria de uma pesquisa recente informando que ganham 19,4% menos que homens no setor privado, mostrando que existem pontos importantes a serem trabalhados para garantir esta inclusão.

Março é o mês das mulheres, devido ao Dia Internacional da Mulher. Observei durante este mês várias ações para mulheres na hotelaria e a grande maioria realizou o “clichê ” dos presentes ou ações de felicitação pela data. Até para ter mais informações para escrever este texto, conversei com algumas profissionais que atuam no setor, em vários cargos e empresas diferentes, sobre como elas enxergam a inclusão feminina. Infelizmente as repostas foram que ainda falta muita escuta para pensar e realizar as ações focados nelas. Me disseram que ainda existe machismo no setor, impedindo que elas possam ser respeitadas em reuniões, por exemplo. A mentalidade de parte das mulheres que ascendem profissionalmente são as que trabalham “igual homem”.

Ainda temos o problema de assédio, homens que fazem “elogios” inadequados e acham normal, e as mulheres sentem falta de ações de conscientização sobre este tema, de estrutura preparada para receber estas denúncias quando ocorrem estas situações. As que trabalham no atendimento ao público ou em vendas informaram que ainda existe a preferencia por um “padrão físico” para estas funções, no qual as empresas negam que aconteça, porém não se reflete em quem está nestes cargos atualmente. Outra pauta importantíssima que não possui grandes ações é a maternidade. Eu mesmo, quando atuava no setor, tive várias amigas que postergaram o desejo de ser mães por medo da demissão, que infelizmente ainda é uma realidade. E também as mães que atuam no setor não se sentem incluídas, pois ainda existem gestões que, por exemplo, agendam reuniões no final da tarde, prejudicial a buscarem filhos na escola para aquelas que não possuem uma rede de apoio. Pensar a inclusão é exercer muita escuta para realizar ações realmente eficientes.

E as mulheres que atuam na hotelaria brasileira merecem muito ações que realmente pensem a inclusão, pois são em sua maioria excelentes profissionais, talentosas, inovadoras, fundamentais para evolução do setor, e muitas vezes são silenciadas por gestões com mentalidades machistas e patriarcais. Claro que temos o privilégio, no Brasil, de termos a Sra Chieko Aoki como maior referência na hotelaria nacional, mas exceções não são regra , com as ações certas, teríamos outras ” Chieko’s ” na hospitalidade brasileira. Estruturas e profissionais capazes para realizar ações de inclusão eficientes existem, basta que o setor invista nos mesmos para mudarmos este status da inclusão das mulheres na hotelaria nacional.

Hubber Clemente é fundador da startup Afroturismo HUB, focada na inclusão e diversidade racial no turismo, atuando a mais de três anos com o tema. Hoteleiro , com mais de 25 anos de carreira no setor, com atuação profissional na Accor, Blue Tree Hotels , Maksoud Plaza, Decolar e outras grandes empresas do turismo, hospitalidade. Especialista em vendas e marketing, com formações em Gestão de Viagens e Eventos Corporativos, Big Data, Design Thinking, Diversidade & Inclusão e LinkedIn Creator Acelerado.

(*) Crédito da capa: Arquivo pessoal