No cenário contemporâneo, onde os laços entre humanos e seus animais de estimação se fortalecem a cada dia, a indústria da hospitalidade precisa se adaptar para abraçar essa relação. De acordo com o Radar Pet 2023, elaborado pelo Sindan (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal), 26% dos cães e 10% dos gatos acompanham seus tutores em viagens. Dito isto, a hotelaria pet friendly deixa de ser uma tendência e passa a ser uma necessidade.

Em 2019, 21% da população se considerava desapegada em relação aos pets, número caiu para 18% em 2023. As justificativas para o maior apego afetivo, de acordo com o levantamento, parecem estar relacionadas com a pandemia. Enquanto o isolamento social era uma realidade, muitas famílias encontraram em seus bichinhos o conforto emocional necessário para manter o bem-estar. Agora que é permitido viajar, as pessoas não querem deixar seus amigos de quatro patas para trás.

A reportagem do Hotelier News foi em busca de relatos de empreendimentos consolidados no segmento pet friendly. E os três hotéis têm algo em comum: desde a inauguração, animais de estimação são bem-vindos.

“A quantidade de pessoas que trazem pets para o hotel vem aumentando, só em janeiro cerca de 20% dos hóspedes se hospedaram com seus bichinhos”, revela Layla Saito, Guest Relations do Laghetto Stilo São Paulo. O hotel, que ainda está em processo de soft opening, contará com uma área de recreação pet no futuro. “Hoje, o animal faz parte da família. Não poder levar cães e gatos para as férias em família seria um desconforto”, aponta a executiva.

“Desde o primeiro dia, as portas do Laghetto estão abertas para tutores e seus pets. É uma tendência importante que sempre levamos em consideração”, destaca Layla.

No Novotel Itu, localizado no interior de São Paulo, as coisas não são diferentes. “O resort está prestes a completar seis anos e é totalmente aberto para pets desde a inauguração. Temos, inclusive, um cãocierge”, brinca Carlos Jacobina, gerente geral do empreendimento, se referindo ao Milu, mascote virtual do hotel. “Quando os hóspedes acessam o nosso chat, é com a figura do Milu que eles conversam. A persona dele também faz parte da recreação infantil e de toda a parte lúdica mesmo do estabelecimento”, comenta.

Em âmbito nacional, todas as unidades da Selina contam, desde a sua inauguração, com a presença de amigos de quatro patas. “Além dos espaços comuns dos hotéis, os nossos restaurantes, tanto terceirizados, quanto internos, são pet friendly”, aponta Fabio Werneck, diretor de Operação da rede.

Operação pet friendly

Certo. Já entendemos que animais de estimação são importantes para as famílias brasileiras e que viajar ao lado deles é uma conveniência a mais — e, em alguns casos, uma necessidade. Mas, quais aspectos devem ser levados em consideração e que tipo de práticas são adotadas do segmento?

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Laghetto oferece tapete higiênico e caminha

Entre detalhes e adaptações que devem ser feitas a depender do contexto de cada propriedade, a fórmula parece ser a mesma: diária pet, enxoval, recreação e segurança. “No Laghetto, a diária pet é R$ 100. Oferecemos tapete higiênico, caminha e potes de comida e água. Além disso, pensando em segurança, tanto dos pets como em geral, as janelas dos apartamentos não abrem mais do que 15 centímetros.”, revela Layla.

Além disso, a profissional enfatiza algumas restrições que foram pensadas para garantir o conforto e a segurança de todos. “Não aceitamos mais de um bichinho por apartamento, nem permitimos a hospedagem de pets de grande porte, com mais de 15 quilos. O cãozinho pode circular em todas as áreas comuns, exceto pelo restaurante, desde que esteja com guia”.

Na Selina, as normas são similares. “A diária pet por aqui é R$ 50 e nós oferecemos todo o enxoval. Os nossos restaurantes são abertos para os animais, desde que eles sejam dóceis”, aponta Werneck. Além disso, outro ponto em comum entre os três empreendimentos é que, por segurança, todos exigem a carteirinha de vacinação atualizada.

Já no Novotel Itu, a diária pet custa R$ 150 e os animais de estimação contam com espaços de recreação que podem ser desfrutados junto aos tutores. “Na área da piscina, apesar de não ser permitida a entrada dos cães na água, temos um espaço onde os tutores podem tomar sol junto aos seus companheiros”, comenta Jacobina.

Outra questão operacional é o manejo do barulho. Em grandes centros urbanos, é essencial ter quartos com isolamento acústico. “Nós não permitimos celebrações que incluem barulheira, como a queima de fogos. No Réveillon, costumamos soltar balões biodegradáveis com sementes de árvores nativas da região. Aqui em Itu já existem leis que não permitem a queima de fogos com barulho exacerbado”, complementa o gerente geral do resort.

Oportunidades pet friendly

A hotelaria pet friendly oferece duas oportunidades principais: a primeira está nos pilares ESG, que são cada vez mais prioritários para o setor, e a segunda está em ações de comunicação. “Já realizamos feiras de adoção, com a participação de ONGs e pequenos produtores locais. Essas ações estreitaram o laço dos moradores dos destinos junto ao hotel”, conta Werneck.

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Milu, o cãocierge

Para Layla, uma boa parte do propósito dos hotéis focados em lazer é planejar espaços que gerem conexões. “Quando uma pessoa entra no lobby com um cãozinho, isso automaticamente deixa o ambiente mais leve. Outros hóspedes interagem com o animal e com o tutor. Os pets trazem alegria para o dia a dia da operação”.

Já no Novotel Itu, Jacobina relata ações diretas em parceria com a ASPA (Associação de Socorro e Proteção aos Animais). “Atualmente, 30% da nossa diária pet é revertida em doação para a ONG. Nós também realizamos, esporadicamente, feiras de adoção junto à Associação”, comenta. “Somente em 2023, foram 1640 diárias pets vendidas e R$ 50 mil doados para a ASPA”.

“Há mais ou menos quatro anos, em uma das feiras, dois casais adotaram pets conosco e, ainda hoje, anualmente, eles vêm ao resort junto com seus bichinhos. É um marco na vida deles, e por isso eles continuam voltando”, relata o gerente geral.

Apesar de ser mais comum encontrar viajantes acompanhados de cães, gatinhos também são bem-vindos nas estadas. “Para gatos, temos um apartamento com rede de proteção, que é mais seguro. Por isso, aceitamos um gato por vez”. Jacobina revela que muitas vezes há mais demanda que oferta. “Nós hospedamos até 20 animais ao mesmo tempo e, muitas vezes, existem mais famílias querendo vir com seus bichinhos do que nós comportamos”.

Olha a oportunidade, hoteleiro!

Quanto à comunicação, repare na foto de capa desta matéria. Esse cachorrinho é o Alfredo, um influenciador digital que passou pelo Selina Bonito. “Nós alcançamos um público grande como parceiros do Alfredo. Inclusive, em outra ocasião, houve um encontro de golden retrievers no Selina Paraty. O hotel foi fechado para esse evento, que contou com uma festança na piscina para os cães”, conta Werneck.

Enfim, hoteleiro, fica o recado: talvez seja a hora de abrir as portas para os hóspedes de quatro patas.

(*) Crédito da capa: Reprodução/Instagram/@ogoldenalfredo

(**) Crédito da foto: Divulgação/Laghetto Stilo São Paulo

(***) Crédito da foto: Divulgação/Novotel Itu