Em meio ao oceano conturbado imposto pela Covid-19, o barco da hotelaria independente, mais do que qualquer outro na indústria de hospitalidade, luta contra a maré com todos os remos disponíveis. Rígidos protocolos de segurança, prorrogação da MP 936 e outros incentivos dados pelo governos estaduais e federal, são exemplos do que têm ajudado na sobrevivência do segmento. No entanto, o cenário é ainda extremamente desafiador, ainda mais neste momento de endurecimento das medidas de restrição e demanda ainda mais diminuta.

Mesmo com representatividade de 70% do mercado no país, a hotelaria independente ainda clama por ajuda de governantes, seja qual for. Na perspectiva de Orlando Souza, presidente do FOHB (Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil), o respiro dado nos últimos meses de 2020 serviram para motivar hoteleiros, mas nada além disso. A realidade nua e crua é que, neste momento e não se sabe até quando, as pessoas não estão viajando e o buraco é mais fundo do que aparenta.

“A diminuição de casos entusiasmou famílias e ocasionou o aumento da ocupação hoteleira na maioria dos destinos. Contudo, este e outros índices voltaram piores ainda em 2021 e, mesmo que alguns casos isolados tenham motivos para tal, não há muito o que comemorar. Estamos todos no mesmo barco”, salienta Souza ao Hotelier News.

Com o quadro pintado como “ruim para todos” pelo executivo, ele explica também que a resiliência da ocupação em algumas praças não representa, de modo geral, um avanço. Pelo contrário… “Em raras exceções, a receita gerada por hóspedes consegue cobrir as despesas dos hotéis, sejam independentes ou de rede. As caixas registradoras estão drenadas e, até o momento, não conseguimos controlar a pandemia”, diz.

Sem o avanço no ritmo da vacinação no Brasil, Souza não acredita numa retomada tão cedo. Isto porque, atualmente, representamos o epicentro mundial da pandemia, uma publicidade não muito boa em âmbitos doméstico e internacional.

“É triste falar isso, mas não existe visão positiva para os meios de hospedagem no momento. Se não mudar muitas coisas entre os próximos 60 ou 90 dias, teremos o fechamento de mais hotéis e um ano com mais complicações”, afirma o presidente, que não especificou quantos empreendimentos fecharam até o momento.

Hotelaria independente: caminhos

Com uma visão pouco mais otimista, mas ainda realista, Alexandre Sampaio, presidente da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), vê a situação como difícil para hoteleiros, principalmente os independentes. No entanto, o executivo acredita na ajuda dos governos locais e nacional para combater a crise da pandemia.

“Quando olhamos para trás, em 2020, vemos que a hotelaria se saiu bem, tendo em vista todas as dificuldades. A variação dos resultados em cada região do país é notável e vai de acordo com a situação de cada município, mas, de modo geral, é possível tirar coisas boas”, afirma. Sampaio fala de bons momentos na hotelaria carioca, com turistas que deixaram de viajar para fora em razão do alto custo do câmbio – dólar passou de R$ 6 – e do Nordeste, que também aproveitou no lazer.

Por outra ótica, Sampaio relembra que os principais prejudicados foram hostels e pequenas pousadas, já que são os que atuam com menos investimento. “Houve e ainda existe pouca facilitação para que meios de hospedagem possam trabalhar melhor e gerenciar esse momento. É necessário, neste momento de mais restrições na maioria dos estados, que haja coordenação para auxiliar na transição dos empreendimentos. O setor precisa de ajuda”, avalia.

Cenário geral do segmento

Em apurações anteriores da reportagem sobre panorama dos estados brasileiros na hotelaria, é possível observar a queda brusca na ocupação e a dificuldade de manter empreendimentos abertos, independentemente da região na qual estão localizados. A falta de receita ou uma quantidade baixa dela dificultou muito a vida de empresários do ramo, ocasionando em fechamentos temporários, mas com alguns sem previsão do retorno.

De acordo com a pesquisa de Oferta de Disponibilidade Hoteleira de janeiro, do FOHB, em conjunto com a Resorts Brasil, 13,7% dos 880 meios de hospedagem brasileiros não sabem quando vão reabrir. No aspecto específico das capitais, Rio de Janeiro era o que mais tem empreendimentos fechados (19,10%), seguido de Belo Horizonte (15,40%), Manaus (6,58%), Salvador (6,47%), Vitória (3,95%), São Paulo (3,56%), Porto Alegre (2,34%) e Curitiba (1,34). As únicas que não tiveram fechamentos temporários em janeiro foram Brasília, Florianópolis e Recife.

É, portanto, árdua a missão do mercado hoteleiro de se reerguer contra a forte maré da crise econômica. Como outros setores, o turismo sofre e suas ramificações, caso da hotelaria, recebem o impacto das ondas e balançam a cada dia. Talvez por isso, uma das formas de ver o copo meio cheio é entender que toda ajuda é bem-vinda.

(*) Crédito da foto: Free to use Sound/Unplash