Que o momento atual é extremamente delicado, quem lê o Hotelier News sabe perfeitamente disso. É certo também que, sejam hoteleiros jovens ou veteranos, é unânime a opinião de que o setor – e todo o turismo – atravessa a maior crise da história. Entretanto, enquanto alguns países aceleram a vacinação e a retomada da economia, deixando sua indústria de viagens otimista, no Brasil a situação atual é na direção oposta.

Há inúmeras maneiras de tangibilizar essa triste impressão, que só será alterada com a vacinação em massa, é bom ressaltar. E o raciocínio é simples para se chegar a essa conclusão: imunizadas, as pessoas se sentem mais confiantes para programar suas viagens, sejam de lazer ou corporativas. Dessa forma, com o comportamento do consumidor ficando cada vez mais digital, as buscas por termos como “hotel” e “resort” no Google são bons termômetros da demanda pela hotelaria.

País onde a vacinação já atingiu 174,8 milhões de pessoas (34% da população), os Estados Unidos veem seus cidadãos já “preparando as malas”. Reportagem da revista Fortune mostra que as buscas por “hotel” e “resort” são as mais altas em uma década. O aumento começou em novembro, com as pesquisas pela primeira palavra atingindo o pico em 28 de março, caindo um pouco logo depois. Para o segundo termo, o nível mais elevado foi atingido em 21 de março, também recuando ligeiramente na sequência.

Brasil - busca por hotéis nos EUA

Brasil - busca por resorts nos EUA

Em matéria anterior, mostramos que há grande otimismo na hotelaria norte-americana com a retomada. Fala-se até mesmo em “estouro da boiada”, uma vez que, mais do que ansiosas em viajar após longo período de isolamento social, muitas famílias pouparam enquanto estavam em quarenta – e obviamente desejam gastar boa parte dessa grana viajando.

No Brasil, pesquisas mostram que há desejo grande da população em também fazer as malas e curtir por aí, mas a demanda reprimida tende a não ser tão grande como na terra do Tio Sam. Entre outras razões porque o programa de estímulo à economia do presidente Joe Biden é na casa dos trilhões de dólares, enquanto por aqui fica nos bilhões de reais.

Voltando aos EUA, o reflexo da vacinação em Wall Street foi rápido. Ações de empresas da indústria hoteleira e de OTAs vivem viés de alta expressivo – já precificando a demanda que está por vir. Em 19 de março, os papéis da Marriott International bateram US$ 152,28, segunda maior cotação dos últimos cinco anos. No caso da Booking Holdings, o preço chegou ao pico histórico no meio de março, assim como o de sua rival Expedia Group.

Brasil - preços ações_Booking

Brasil - preços ações_Marriott

Claro, a explicação para as altas históricas não se limita ao “estouro da boiada” na indústria de viagens. Hoje, há muito dinheiro na mesa e nenhum país tem juros de renda fixa decente para que investidores deixem seus recursos no rentismo. Resultado, só se arriscando na bolsa de valores para obter maior margem de lucro nesse momento de pandemia. E, como o mundo todo compra ações de empresas norte-americanas, vários papéis estão “explodindo” com máximas históricas. Ainda assim, o momento deixa claro que o turismo é uma boa aposta de investimento.

Brasil na direção oposta

Com dificuldades para coordenar nacionalmente ações na área de saúde, o Brasil sofre para conter o vírus. Os números falam por si só: dados apurados com os estados pelo consórcio de veículos de comunicação apontam que houve 4.190 óbitos ontem (8), elevando o total no país a 345.287, com média móvel de 2.818 em sete dias, 17% a mais que no período anterior. Na terça-feira (6) haviam sido notificadas 4.221 mortes, maior número até agora, informa o O Globo. Segundo o G1, há tendência de crescimento de óbitos no Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Ceará, Maranhão e Pernambuco.

Nesse ambiente, e diante desses números, viajar neste momento imputa um risco infinitamente maior do que tentar a sorte na B3. Ah, claro, para completar as políticas de isolamento impostas por governos estaduais e municipais limitam a circulação de pessoas, esmagando qualquer tipo de demanda possível para a hotelaria. E o Google, meus amigos, deixa isso claro e cristalino para qualquer um ver (veja abaixo).

Brasil - busca por hotéis nos Brasil

Brasil - busca por resorts no Brasil

Sim, as buscas por “hotel” e “resort” estão próximas aos níveis do pico da pandemia (a curva mais baixa vista do lado direito do gráfico). Quando vão melhorar? Bem, tal qual na América do Norte, isso vai ocorrer quando a vacinação acelerar de vez. Recentemente, o país conseguiu chegar a marca de 1 milhão de imunizados em um único dia e já temos, segundo dados do Tracking Coronavirus Vaccinations Around the World, do New York Times, 24,9 milhões de vacinados.

Esse montante representa apenas 9% da população. Ou seja, ainda há um longo caminho pela frente até a normalidade, até porque notícias no front da oferta de vacinas estão incertas. Então, enquanto cidadãos e até a agulha entrar nos nossos braços, resta-nos seguir a ciência e nos proteger. Enquanto hoteleiros, a saída é continuar clamando por medidas que favoreçam o setor e a preservação de empregos. De preferência, com Darwin no comando!

(*) Crédito da capa: Shutterstock

(**) Crédito das ações: Google Finance

(***) Crédito dos gráficos de buscas: Google Trends