O Elevador Lacerda, um dos pontos turísticos mais visitados de Salvador
(foto: Pixabay/joelfotos)

Com frequência quase que mensal, o MTur (Ministério do Turismo) apresenta dados relativos ao desempenho do turismo brasileiro e, consequentemente, sobre o segmento de hospedagem. Nos mais recentes, feitos em parceria com a FGV, a autarquia pondera a intenção crescente de viagem dos brasileiros e sugere movimento aquecido nas entranhas do setor. Mas não é bem este cenário que alguns representantes do setor presenciam. Silvio Pessoa, presidente da FeBHA (Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação), contesta o horizonte favorável que embala as pesquisas do ministério e asegura viver dias de adversidade com escassez de turistas e raros motivos para celebração. "Em Salvador, a diária média está estagnada há quatro anos e muitos estebelecimentos fecharam as portas. Não se pode aumentar a ocupação por decreto", diz.

A queixa de Pessoa sobre a situção delicada da hotelaria soteropolitana não é monólogo do executivo, que também é diretor da rede Sol Express. Ao longo de 2016, associações estaduais, sobretudo a fração baiana da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia), da qual o profissional já foi presidente, colocaram o dedo na ferida da falta de clientes para os hotéis.

Em números acumulados, de janeiro a outubro a média de ocupação na cidade não ultrapassa os 59%, segundo dados celetados pela FeBHA. Como de costume, os dois primeiros meses, época das comemorações de início de ano e Carnaval, alavancam os dados que caem de novo no mês seguinte.

Com essa tendência de mercado, os casos extremos começam a aparecer. Segundo a federação, apenas este ano, mais de mais de 1 mil bares fecharam as portas e, na capital baiana, 20 hotéis encerraram suas atividades. "Só 5% dos hotéis de Salvador trabalham no azul. O restante, absurdos 95%, tem prejuízo mensal", assegura. 

Com essa realidade ao alcance dos seus olhos, coforme relata Pessoa, fica difícil crer que os números de crescimento apontados pelo MTur sejam reais. "O ministério tem dados que não condizem com nossa realidade. Todos os hotéis aqui estão com as mãos na cabeça, em sinal de desespero. A realidade é bem diferente do que apontam. Estamos nos desfazendo dos anéis para ficar com os dedos".

A entidade da qual o presidente é porta-voz representa 4,1 mil meios de hospedagem espalhados pelo território baiano e em alguns destinos os bons ventos ainda sopram. Porto Seguro e os resorts do litoral ainda estão na curva que mostra boa performance. 

Ainda sobre a realidade difícil, o executivo admite que os hotéis independentes talvez sintam mais o efeito mas garante que até unidades de rede são assoladas pela baixa tendência geral. "Até os hotéis de rede não tem bons números aqui. São mantidos pelas matrizes, das grandes capitais, que enviam verba".

Agravantes
Fenômenos da economia compartilhada que cresce no País são complicadores da situação, segundo comenta Pessoa. "O Airbnb, que não paga os mesmos impostos que nós e promove uma concorrência predatória, as OTAs que, por culpa nossa, aumentam o comissionamento até ter mais rentabilidade que o próprio empreendimento, e alguns hotéis 'elefantes brancos' que incham o mercado, contribuem par ao cenário".

Serviço
febha.com.br